Viseu

Recenseamento da Prática Dominical

O recenseamento da prática dominical que, ultimamente se verificou, em Viseu, fez-se também em todas as 207 paróquias da Diocese.
Foi um recenseamento que agora pode e deve confrontar-se, nomeadamente, com aquele que se fez em 1991.

Perspectiva positiva do recenseamento

Um e outro dos recenseamentos confirmam uma realidade importante a reter, realidade que, por um lado, nos alegra, mas, por outro, muito nos interpela e responsabiliza.
Essa realidade é o facto que não há instituição alguma em todo o âmbito da Diocese que tenha um contacto directo e pessoal, com tantas pessoas como aquele que de facto consegue ter a Igreja Católica. Em toda a Diocese, esse número de pessoas anda em cada Domingo à volta de 28.90% de toda a população que existe no âmbito da Diocese. São 77.241 pessoas que habitualmente entram em contacto com a Igreja e a Igreja com elas.
Para além desses 28.90% de toda a população, que vêm de facto à missa, há ainda, nesta Diocese, muitas outras pessoas que, de uma forma ou outra, mais directa ou menos directamente, participam na missa dominical e entram em contacto com a Igreja. São, a título de exemplo, todos os que, fielmente e cada semana, acompanham a missa na televisão, na rádio, etc. São eles concretamente os milhares de doentes ou idosos que, nos hospitais, nos lares ou nas suas casas, gostariam de vir à missa, mas não o podem fazer pelas limitações da idade ou doença que os impedem de vir à sua igreja. A maioria deles viria semanalmente à missa e bem sofrem por não o poderem fazer. Há também pessoas que, semanalmente e ao Domingo, vêm à igreja e ali tomam parte em celebrações da palavra, não da missa, só porque, infelizmente, falta um padre que lhes possa celebrar a Eucaristia. Todas estas pessoas, que estão incluídas no censo oficial, não foram consideradas na percentagem acima indicada dos que vêm à missa.

Interpelação do recenseamento

Entretanto, o certo é que, comparando o último recenseamento com o de 1991, verifica-se realmente uma certa diminuição nos fiéis que frequentam a missa dominical, na Diocese. No recenseamento de 1991, a frequência à missa dominical era de 33.40% e, no último recenseamento de 2001, a percentagem é de 28.90% Quer dizer que temos de contar na Diocese de Viseu com uma diminuição de 4.50% de fiéis que antes iam e agora faltam na igreja aos Domingos. Devemos entretanto ter em conta o que mais acima acabei de dizer e tem também de se aplicar às crianças pequeninas, com menos de 7 anos, que, em geral não vêm à igreja, nem têm qualquer dever de virem e figuram no censo oficial que serviu de referência na percentagem em causa.
Segundo os dados que constam do recenseamento, a maior diminuição faz-se notar mais nas crianças, a partir dos 7 anos, nos adolescentes, jovens e também nas mulheres, mais ou menos jovens.
Sendo assim, seria bom analisarmos as causas deste fenómeno, avaliarmos as possíveis consequências e eventuais medidas a tomarmos.

Causas que explicam a falta à missa dominical

Pelo que às causas se refere, é bom notar antes de mais que, fenómenos como este, não têm nunca uma causa única. Há sempre em geral causas diversificadas. Podem elas ser, entre outras, o facto de se ter verificado, na paróquia ou na diocese uma diminuição na população entre 1991 e 2001. Outra causa é certamente a falta de evangelização, de fé, de convicções profundas, num tempo em que as pessoas, felizmente, já se habituaram a actuar por motivações pessoais que se podem ter ou não ter. Pode também suceder nalguns lugares que a causa venha a ser a falta de qualidade da celebração da eucaristia, falta que pode ser, mais ou menos culpável, a partir possivelmente até do próprio presidente da celebração. Em determinadas paróquias ou arciprestados, a diminuição da prática dominical pode ter a sua explicação em qualquer contratestemunho que ali esteja a pôr em causa ou a esmorecer a fé dos crentes. Há também lugares onde, pela falta de sacerdotes, se tenham diminuído significativamente as celebrações da Eucaristia. Há em todas as Dioceses e também em Viseu um decréscimo de sacerdotes pelos poucos padres que se ordenam e por muitos outros que faleceram ou estão incapazes deste ministério por motivo de idade avançada ou doença. São dezenas deles.
No que diz respeito às crianças, a diminuição da natalidade é hoje uma das grandes causas do fenómeno. É exactamente o mesmo que está a suceder também nas escolas primárias, nas escolas secundárias e já até nas Universidades e Cursos Superiores. Em relação às crianças, pode ter influenciado também a suspensão da missa própria das crianças, que antes normalmente se tinha em muitos lugares e era mais acomodada aos pequeninos. Pode estar também na origem da ausência das crianças na missa a falta de exemplo e testemunho do pai e agora possivelmente também da mãe. Falta às crianças muitas vezes o exemplo estimulante dos pais, que é decisivo. Pode ser também a falta das crianças na missa dominical um dos efeitos nefastos da emissão de números televisivos programados, talvez mesmo intencionalmente, para prender as crianças em horas de missa. Talvez tenha influenciado também no fenómeno em causa o facto de não se ter ainda oferecido às crianças uma missa acomodada à sua idade. Tais formulários até existem. Estão eles à disposição dos responsáveis, mas, por inércia, com frequência, não se lhes oferecem. Não será também porque os pais, por comodismo, não levam as crianças consigo a missa?
No que às jovens e às mães mais jovens se refere, pode ter concorrido para a diminuição da sua presença na Eucaristia o facto do trabalho das jovens e das mães fora de casa, em empresas, fábricas, escolas, serviços públicos, etc. Tudo o que diz respeito à casa propriamente dita, aos filhos, à higiene, a limpezas, etc. acaba normalmente por se deixar para o Domingo e lá vem com frequência o pretexto da falta à missa dominical. No fundo, é evidente que a razão desta e outras ausências à missa dominical procede com frequência da falta de aprofundamento da fé, da pouca experiência de Deus, do desconhecimento do significado, do valor e alcance da eucaristia semanal tonificante que é para o nosso dia a dia.

Consequências da diminuição na presença à missa dominical

No que diz respeito às consequências, bem sabemos que a ausência à missa dominical leva normalmente consigo uma quebra muito séria na evangelização, na identidade dos cristãos, na adesão à Igreja, no testemunho indispensável e insubstituível dos pais no seio do lar e, consequentemente, na primeira e mais importante das catequeses que é a da mãe, do pai e da família, da tal igreja doméstica. Tudo isso aí vai provocando insensivelmente uma descristianização generalizada na sociedade, facto que pouco a pouco acaba por minar as bases da família, da fé e da felicidade interior das próprias pessoas.

Atitudes a tomar

É um aspecto que merece certamente uma séria reflexão, sobretudo da parte da Igreja. Tudo se poderá remediar se todos acordarmos. O problema é de todos: dos pais, das famílias, dos leigos em geral e mais ainda dos Pastores da Igreja. Torna-se urgente dar o primado na Igreja e na pastoral à formação dos padres e leigos, ao aprofundamento da vida espiritual do clero e demais consagrados, à atenção e apoio à família, à defesa dos seus direitos, nomeadamente em relação à educação dos filhos, a privilegiar os movimentos familiares, a prestar uma grande atenção às crianças. É fundamental acabarmos com jansenismos e platonismos na moral cristã que atiram facilmente as pessoas para um estado de condenação, em vez do estado salvação que nos trouxe Nosso Senhor Jesus Cristo que veio salvar os pecadores. O estatuto de condenados é muito perigoso e não é certamente o estatuto do nosso Deus, revelado em Jesus Cristo.

Viseu, 13 de Janeiro de 2002
D. António Monteiro,
Bispo de Viseu

 

Recenseamento da Prática Dominical - 2001
Resultados Finais - 2001/05/20

Contabilizadas todas as 207 paróquias, de todos os 17 arciprestados, verificam-se os seguintes resultados:
 

  1991 2001 %
Missas Vespertinas 110 146 +32.73
Missas Dominicais 430 367 -14.65
Homens Presentes 34 074 29 190 -14.33
Mulheres Presentes 54 121 48 058 -11.20
Total de Presenças 88 195 77 248 -12.41
Comunhões Homens 11 286 11 460 +01.54
Comunhões Mulheres 25 351 25 725 +01.48
Total de Comunhões 36 637 37 185 +01.50

Nota-se uma redução das Missas Dominicais, mas aumenta o número de Missas Vespertinas; há uma diminuição do número de presentes, mas o número de comunhões é ligeiramente superior ao de 1991. Porém, se tivermos em conta a relação das comunhões com o número de presenças, a percentagem é significativamente positiva: 48% em 2001 contra 42% em 1991.
        Refira-se também que, tendo em conta as idades, o grupo de homens que mais participa na Missa Dominical em 2001 é o dos 55-69 anos (24.55%) o mesmo acontecendo com as mulheres (26.31%); em 1991 o grupo de homens com mais participação era o dos 07-14 anos (22.15%) e nas mulheres o dos 55-69 anos (23.23%).
        Quanto à comunhão, em 2001, o grupo que mais comungou, nos homens, foi o dos 07-14 anos (27.17%) e, nas mulheres, o dos 55-69 anos (28.01%); em 1991, eram os mesmos grupos: homens 07-14 (35.33%) e mulheres 55-69 (24.75%).
        Também é interessante ver a evolução da percentagem de presenças e comunhões dos diversos grupos etários perante a totalidade de presenças e comunhões:
 

  % Presenças % Comunhões
  1991 2001 1991 2001
Homens - 07-14 08.56 06.28 10.88 08.37
Homens - 15-24 05.52 04.66 03.27 03.66
Homens - 25-39 04.50 04.20 01.90 02.05
Homens - 40-54 06.74 06.49 03.98 03.75
Homens - 55-69 08.11 09.28 05.86 06.72
Homens - 70 e + 05.21 06.87 04.58 06.27
Mulheres - 07-14 10.11 07.09 13.98 10.29
Mulheres - 15-24 08.77 07.14 07.29 06.88
Mulheres - 25-39 08.31 08.22 06.12 05.56
Mulheres - 40-54 11.78 12.23 11.83 10.89
Mulheres - 55-69 14.26 16.37 17.13 19.38
Mulheres - 70 e + 08.14 11.18 11.95 16.18

Para ver os dados totais e por paróquias clique aqui:    RPD 1991       RPD 2001
Para ver os resultados por arciprestados clique aqui:    ARCIPRESTADOS
 
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