RPD - Setúbal

Interpelações do recenseamento

A Diocese de Setúbal, como as outras dioceses do sul do País, conheceu, desde o último recenseamento (1991), um crescimento do número de praticantes: +12%. Este crescimento acompanhou o crescimento populacional e até o excedeu ligeiramente.
Da análise dos resultados, na perspectiva dos sexos e das classes etárias, retiram-se algumas conclusões que merecem a nossa atenção e reflexão, na busca de respostas pastorais inovadoras e corajosas, tendo particularmente em conta o facto de estarmos a dar prioridade, no nosso programa pastoral, à missão evangelizadora da Igreja.

Uma primeira conclusão que retiramos, com preocupação, é a da diminuição da participação dos jovens nas assembleias dominicais (que acompanha a tendência verificada a nível nacional) cuja causa não está apenas na diminuição da natalidade. A diminuição dos praticantes jovens é mais acentuada nas raparigas. Tendo em conta a mudança na posição social e cultural da mulher que é característica do nosso tempo e que tende a aprofundar-se no futuro, esta verificação suscita uma redobrada inquietação da parte da comunidade cristã e dos seus responsáveis.

Outra conclusão – na sequência desta – é a do envelhecimento das assembleias dominicais, mais acentuado do que o envelhecimento da sociedade portuguesa em geral. Os grupos etários em que se verificou maior crescimento são os que têm mais de 54 anos (10,8% em 12%). A classe etária com menos número de praticantes é a dos 15-24 anos (apenas 8,9% do total).
O envelhecimento da comunidade não levanta apenas problemas quanto ao crescimento e renovação da comunidade, mas tem também um efeito desmotivador sobre os mais novos que se vêem rodeados de pessoas de idades mais avançadas.

Quanto à proporção entre homens e mulheres, verifica-se que estas constituem cerca de dois terços das assembleias dominicais. Esta proporção não tem praticamente variado desde 1977.
Não é difícil ler nestes dados algumas interpelações e sentir a necessidade de fazer quanto antes uma reflexão pastoral mais aprofundada e alargada a toda a comunidade.

Algumas interpelações mais visíveis numa primeira leitura:

- É necessário estarmos particularmente atentos ao fenómeno do decréscimo dos jovens. Importa compreender o que se está a passar, a nível cultural e não só, na nossa sociedade, para conhecer as suas aspirações e os efeitos que sobre eles têm as mudanças que se verificam a ritmo acelerado na economia, no ensino, na vida profissional, etc. A acção pastoral da Igreja tem de ter em conta tudo isso e ser dirigida à responsabilização e intervenção dos mais novos na comunidade.
- As mudanças do papel da mulher e da sua relação com os homens está em profunda transformação e ultrapassa já a simples integração da mulher em certos domínios, como o ensino e a vida profissional. Importa estar atento a estas mudanças e equacioná-las com o papel das mulheres na Igreja e saber quais são as suas expectativas neste campo.

- Assembleias compostas pela diversidade etária como as nossas constituem uma dificuldade na sua preparação, particularmente, na homilia. A heterogeneidade sugere uma profunda reflexão da parte dos que presidem às assembleias, os presbíteros. Há que cuidar cada vez mais de aspectos circunstanciais das celebrações que têm, no contexto cultural presente, um papel importante na vivência e celebração da fé.

- É necessário cuidar mais da ligação da catequese à eucaristia, na medida em que há maior número de crianças na catequese do que aquelas que participam regularmente nas assembleias eucarísticas dominicais.

- Outro campo a que temos de estar particularmente atentos é a vida familiar. É necessário que os pais – e hoje também os avós – tenham consciência da sua missão de testemunhar um modo feliz de participar na eucaristia e as razões pelas quais o cristão é convidado a viver o domingo e a eucaristia.

Estas são algumas das interpelações que a Diocese de Setúbal recolhe de uma primeira leitura dos resultados do recenseamento da prática dominical de Março de 2001. O maior de todos é, certamente, o de se rever a si mesma, confrontando as rotinas instaladas com o que se passa no mundo que a rodeia, com a humildade de não saber encontrar todas as respostas, mas com a ousadia de se questionar e de experimentar novos caminhos. Porque se deixa mover pelo Espírito de Deus que a habita e a envia em missão.

Pe. José João Aires Lobato
Pró-Vigário Geral da Diocese