Recenseamento da Prática Dominical - Porto

Menos, mas melhores

Acompanhando as transformações que se vêm introduzindo nas sociedades ocidentais, o espaço da Diocese do Porto está também a ser palco de mudanças de alguma dimensão e alcance. A população nela residente aumentou, entre 1991 e 2001, em 163.305 habitantes, com um valor percentual da ordem dos 8,0%. De acordo com os dados dos Censos de 2001 (ainda provisórios e que têm vindo a sofrer rectificações), a população residente atinge os 2.052.131 habitantes. Há concelhos que conhecem taxas de crescimento bastante elevadas. Muitos deles situam-se fora da área metropolitana. O decréscimo verifica-se apenas na cidade do Porto - de harmonia com uma tendência observada já em Censos anteriores -, em Espinho e em Baião.
A prática religiosa, expressa na frequência da missa dominical e na participação na comunhão, essa desceu consideravelmente, seguindo um movimento contrário. Segundo o Recenseamento da Prática Dominical, realizado em 10 e 11 de Março de 2001, assistiram à missa 414.556 pessoas, traduzindo uma quebra, em relação a 1991, de 81.147 unidades. Em relação aos participantes, 1.543 cumpriram o preceito dominical em Celebrações da Palavra sem a presença de sacerdote, em 8 freguesias e em 11 celebrações. Houve uma participação na comunhão, no conjunto das celebrações, de 242.333 pessoas, com uma descida de 14.239, ainda em relação a 1991.
Não se dispondo, por enquanto, dos resultados – devidamente desagregados – do Recenseamento Geral da População de 2001, não é possível construir percentagens de prática religiosa. Reportando, contudo, o número dos “missalizantes” ao valor total da população, obtém-se uma percentagem de 20,2%. Os números conhecidos deste mesmo Recenseamento, referentes à população jovem, permitem construir uma estimativa de taxa específica de prática religiosa da ordem dos 22,2%. A estimativa da percentagem específica de prática apontará assim para um valor compreendido entre os 20,2% e os 22,2%. Comparando-se este resultado com o verificado em 1991, verifica-se, em termos de estimativa, uma descida de prática à volta dos 7% ou 8%.
No que concerne à participação na comunhão, observa-se um movimento inverso. Não obstante uma perda em valores absolutos, a percentagem dos “comungantes”, em relação a 1991, subiu dos 51,8% para os 58,4%. Ao mesmo tempo que se deu um decréscimo de assistentes supostamente passivos à missa, assistiu-se a uma participação mais acentuada na comunhão. O movimento é interno ao próprio fenómeno, reforçado, eventualmente, aqui e além (processo não controlado empiricamente), pela acção pastoral que possa ter actuado em idêntico sentido. Dir-se-á que, embora as igrejas assistam a um certo despovoamento, a prática religiosa revela-se mais fortalecida. A maior frequência da comunhão traduz um grau mais elevado de consciencialização e um nível superior de participação. O envolvimento dos católicos é maior, assim como é maior a sua identificação. Perdas numerosas podem exprimir-se em adesões mais fortes na participação dos que se mantêm.
À medida que se processa a secularização, as condutas religiosas de ambos os sexos tendem a assemelhar-se. Na Diocese do Porto, a prática religiosa feminina situa-se nos 61,1% (contra os 61,8%, em 1991), ainda bastante superior portanto à dos homens. Mas tomando como unidade de análise a paróquia, nota-se uma grande oscilação, com regiões onde se verifica uma certa aproximação em contraste com outras em que a diferença é muito sensível.
A curva da prática religiosa por grupos etários, tomando em consideração a mesma composição das assembleias dominicais, segue um movimento que se tornou relativamente normal. Durante a época de forte socialização religiosa, correspondente ao grupo dos 7-14 anos, a frequência da missa dominical é grande. Dá-se, a seguir, uma quebra com a adolescência e a juventude. A menor incidência da prática religiosa verifica-se nos grupos dos 15-24 e dos 25-39 anos. As assembleias dominicais, consideradas em si mesmas, apresentam, em termos de média diocesana e por grupos etários, a seguinte distribuição: 15,9% nos 7-14, 11,9% nos 15-24, 15,6% nos 25-39, 20,7% nos 40-54, 22,0% nos 55-69 e 12,2% nos 70 e mais anos. Em alguns casos, a descida da percentagem de presença juvenil é muito acentuada, sendo a taxa feminina de decréscimo, às vezes, superior à dos rapazes. Mas a leitura deste fenómeno não pode ser feita sem se ter em conta as suas condicionantes.
As taxas de presença das raparigas, sempre que se revelam inferiores às dos rapazes, devem-se, em grande parte, a um afluxo maciço de mulheres em idade adulta, facto que faz diminuir o seu peso relativo. No caso dos homens, como o retorno à prática religiosa, nomeadamente a partir dos 40-50 anos, não se faz tão cedo, nem ocorre em volume semelhante, a percentagem de jovens acaba por ser favorecida, quando comparada com a das raparigas. Em causa estão aqui taxas de prática construídas em função do ciclo de vida e não em função da relação entre sexos.
Acresce ainda que a descida das taxas de natalidade pode aparecer desigualmente distribuída pelo território diocesano. Além disso, em muitas situações, o processo de envelhecimento da população anda também associado a um êxodo generalizado, em zonas tanto rurais como urbanas e urbanizadas. Estes fenómenos não atingem somente as regiões de relativo interior e de periferia, mas ainda grandes centros como é o caso da cidade do Porto. Do mesmo modo se vem observando aqui uma perda de população e um envelhecimento da população.
O grupo dos 15-24 anos é o único que pode, desde já, ser confrontado – porque desagregado – com os resultados do Recenseamento Geral da População de 2001. Nos 26 concelhos que integram a Diocese do Porto, apenas em 6 deles a população feminina deste intervalo etário é superior à masculina. A média diocesana de assistência à missa, quanto a este grupo, é de 16,2%, valor superior ao encontrado na composição das assembleias dominicais, que é de 11,9%. Por concelho, as taxas oscilam entre os 5,9% em Mato-sinhos, os 7,1% em Gondomar, os 7,2% na Maia, os 9,5% em Vila Nova de Gaia e, no extremo oposto, os 31,3% em Penafiel, os 31,1% em Arouca, os 30,7% no Marco de Canavezes, os 30,3% em Felgueiras.
Na Diocese do Porto, foi ainda objecto de questionamento a mobilidade no que respeita à procura das igrejas. Nas zonas mais rurais ou ruralizadas, continua a manter-se um volume maioritário dos que se podem considerar paroquianos. Nos grandes centros – numa pluricentralidade que se estende por toda a Diocese – tende a impor-se uma frequência religiosa ditada por uma escolha pessoal, que varia em função das circunstâncias. Estes dados apontam no sentido de uma participação dominical mais individualizada do que comunitária, mostrando ainda alguma falta de adequação das estruturas pastorais aos dinamismos religiosos sentidos e vivenciados pelas pessoas.

Pe. António Teixeira Fernandes