RPD - Funchal

Uma Igreja chamada a ser serva

A Diocese do Funchal seguiu a generalidade das dioceses portuguesas quanto à tendência prevalecente no último recenseamento da prática dominical: uma diminuição, mais ou menos visível, mais ou menos acentuada, da participação dos fiéis na Eucaristia dominical.

Essa diminuição, globalmente, atingiu cerca de 24,3% em relação aos valores de 1991, traduzida numa redução de 82443 para 62414 participantes. A maioria das «perdas» deu-se basicamente nas faixas etárias mais jovens: dos 7 aos 39 anos. Acima dos 40, o número de presenças na Eucaristia manteve-se quase inalterável ou teve uma diminuição pouco mais que insignificante. Deve dizer-se mesmo que, no escalão etário acima dos 70 anos, a percentagem de pessoas presentes nas missas aumentou em cerca de 10%. Sinal do envelhecimento da população, sem dúvida, mas também desafio à Igreja para que possa acolher essas pessoas e fazer delas mais do que simples beneficiárias do «consolo espiritual» que as nossas missas possam proporcionar-lhes...

Outro dado a ter em conta é o facto da diminuição das presenças femininas ser proporcionalmente superior à diminuição das presenças masculinas. Ou seja, de acordo com os dados do recenseamento de 1991 para cada homem presente nas missas havia 2,05 mulheres. Segundo o último recenseamento, a proporção é já de 1 homem para 1,95 mulheres. Parecendo pouco, isto representa provavelmente uma tendência que não deve menosprezar-se, sobretudo se ela for sintoma da temida «perda das mulheres», depois da perda dos operários e dos jovens...

Em contrapartida, a percentagem de comungantes não tem parado de aumentar de recenseamento para recenseamento, acompanhando também a tendência nacional. Embora não tenhamos disponíveis, neste momento, os dados exactos relativos às comunhões, uma primeira e rápida leitura dos mesmos permite perceber que as comunhões representam valores provavelmente acima dos 70% dos participantes, sendo mais elevadas essas percentagens nas zonas urbanas. Do ponto de vista eclesial e não só sociológico este é um dado a ter em conta, até porque sabemos que o aumento das comunhões é acompanhado pela diminuição das confissões, o que só vem dar razão aos nossos bispos no recente documento sobre a Reconciliação: é urgente uma maior consciencialização dos fiéis quanto à vivência da reconciliação e, sobretudo, é necessário que se façam celebrações penitenciais bem preparadas e cuidadas, nutridas da Palavra de Deus e usando uma linguagem adequada à realidade do homem de hoje, e não esquecer que o ministério de Reconciliação que a Igreja é chamada a exercer vai muito além do recurso quase mecânico e mágico à absolvição após habitual confissão (sabe Deus em que condições e com que «matéria»...) individual!

A Diocese do Funchal acrescentou uma outra questão às que constavam do boletim de RPD: a de ficar a saber-se se o fiel participante na celebração estava a fazê-lo na paróquia de residência ou se, pelo contrário, se deslocava a outra paróquia. Este dado poderá vir a ser de alguma utilidade na planificação pastoral quer diocesana quer paroquial (só para dar um exemplo, parece-me ser distinto estar a celebrar para uma assembleia onde 90% das pessoas são paroquianas e para uma outra onde essa percentagem está abaixo dos 40%, como acontece em dois dos lugares de culto onde celebro ao Domingo...). Sendo a Diocese um território onde as paróquias e freguesias ficam muito perto umas das outras, a mobilidade é também muito grande, sobretudo em meios urbanos. Outro aspecto que este dado nos permite perceber é o das famílias que, vivendo habitualmente nas cidades, «abalam» ao fim de semana para as paróquias rurais e é aí que participam na Eucaristia, às vezes têm os filhos na catequese, os baptizam, etc.

Quais os desafios que os dados do RPD 2001 colocam à Diocese do Funchal? Não pode dizer-se que os resultados deste recenseamento tenham sido uma grande novidade; eles correspondem a um fenómeno generalizado que aponta para novos e diversos tipos de relação das pessoas com a Igreja. Eles tornam manifesta não só a necessidade de uma «nova evangelização», mas igualmente a urgência de uma «cultura do acolhimento» por parte das comunidades eclesiais, a qual, a par da necessária exigência, tenha sobretudo em conta que os fiéis que nos surgem pela frente não estão todos no mesmo «patamar» de caminhada eclesial e de crescimento na fé.

Todos devem ser bem acolhidos pela Mãe-Igreja: alguns só a buscarão para os baptizados dos filhos e os funerais dos pais; outros farão dela e do seu templo o espaço de encontro semanal a que chamamos Eucaristia... Entre uma situação e outra, haverá infinidade de situações intermédias. O importante é que ninguém se sinta rejeitado por Aquela que não é chamada a anunciar-se a si mesma nem às suas obras, mas a ser servidora de Jesus Cristo e do Seu Espírito, que sopra onde quer e como quer...

Padre Anastácio Alves
Diocese do Funchal