Évora

Homens acorrem mais à Igreja

Os resultados relativos à prática dominical, por enquanto provisórios, permitem-nos olhar com algum optimismo para a realidade eclesial da Arquidiocese, quando se vem observando, particularmente a Norte do país, quebra da mesma prática. Poderá dizer-se que se assiste, actualmente, a um lento regresso à Igreja, após o que foi a debandada quase em massa, provocada pelos acontecimentos fracturantes da revolução de 1974. Mercê das forças ideológicas que então aqui se instalaram e que não eram nada favoráveis ao fenómeno religioso, a prática dominical, designadamente nos meios rurais, ficara reduzida a alguns idosos, na generalidade mulheres, muito embora antes da revolução, nestes mesmos meios, a prática dominical fosse já bastante baixa. Relativamente a homens, se a sua presença nas celebrações dominicais era pouco significante, a partir de então tornou-se praticamente nula. Não poderá esquecer-se que a Igreja sempre fora considerada pelos homens “coisa” de mulheres e até certo ponto de crianças.
É precisamente na classe dos homens que mais acentuadamente se regista uma evolução positiva, ou seja, uma maior aproximação à Igreja, se atendermos a que, em 1977, eram apenas 4358 os homens presentes na Missa dominical e, em 2001, os presentes são já 6408. Há, todavia, dois níveis etários que merecem particular referência. São eles os que compreendem os indivíduos entre os 7-14 anos e entre os 25-39 anos. No que diz respeito ao 1º nível etário, muito embora a natalidade esteja em baixa, a presença das crianças na Eucaristia dominical está, todavia em alta: em 1977, eram 1332 as presenças, quando, em 2001, são 1684. Evolução ainda mais significativa é a que se verifica, porém, no 2º nível etário em questão: em 1977, os homens eram 442 e agora são 808. Tal facto poderá revelar, por um lado, a menor pressão que o ambiente já exerce e, por outro, os efeitos positivos que, ao longo destes últimos 20 anos, têm provocado as opções pastorais tomadas.
Passando agora para a classe das mulheres, se é verdade que elas continuam a dominar as eucaristias dominicais, tendo subido mesmo a sua presença em relação aos recenseamentos anteriores, passa-se também aqui o mesmo fenómeno que se regista a nível nacional. As raparigas estão, de facto, a fugir da prática dominical, o que não deixa de ser preocupante, já que é por elas que passa, em grande parte, a transmissão da fé e dos valores cristãos. Nos níveis etários de 7-14 e 15-24 contabilizaram-se respectivamente 2533 e 1644, em 2001, contra 2625 e 1862, em 1977, tendo sido apenas neste último decénio que, entre nós, se verificou a quebra que já vinha a observar-se noutras zonas do país. Acresce ainda que também diminuiu entre as crianças a prática da Comunhão eucarística. Se é fácil descobrir as causas que estarão na base deste crescente afastamento das raparigas, já não será tão fácil definir formas de actuação pastoral para inverter esta tendência. É urgente atacar aquelas e implementar estas.
Não sendo, porém, a presença dominical a única forma de avaliar o tipo de pertença à Igreja e muito menos o grau de empenhamento dos fiéis, quer na vida eclesial, quer nas diversas áreas da sociedade, o ritmo semanal de celebração da fé continuará sempre a ser a forma comum, não só de revigorar a mesma fé, como de alimentar a comunhão eclesial e até mesmo de estimular a presença activa dos cristãos no tecido social. Ora, com a crescente diminuição das vocações sacerdotais está ameaçado o ritmo semanal da Eucaristia nos diversos lugares de culto. Neste último decénio, por via já desta diminuição, baixou, não só o número dos lugares de culto assistidos, como o total das Eucaristias celebradas, tendo apenas sido registada uma única celebração dominical por um ministro leigo.
Não se poderá perder, nem enfraquecer, como é óbvio, o ritmo semanal da eucaristia. Para isso importa, enquanto se vão sensibilizando as comunidades cristãs para a necessidade dos ministérios ordenados, ir lançando as celebrações dominicais na ausência do presbítero, em perfeita articulação com este, que será sempre o presidente da comunidade cristã, a ele confiada pelo bispo.

Pe. Eduardo Pereira da Silva
Vigário-Geral da Arquidiocese de Évora