A frequência dominical na diocese de Coimbra

 

Foi já no passado mês de Setembro que a diocese de Coimbra conheceu e analisou o resultado do recenseamento à prática dominical efectuado seis meses antes, em 9 de Março. Dedicou-se a essa análise uma boa parte das Jornadas de Formação do Clero, feitas na Praia de Mira, e conduziu a reflexão o Dr. Marinho Antunes, do Departamento de Sociologia da Universidade Católica.

1.Quais foram os números?

Antes de os fornecer, quis o Dr. Marinho Antunes responder a questões prévias, importantes para os participantes: Pela recolha dos resultados poderemos concluir que a contagem se fez em todas as celebrações? O elevado número de Assembleias Dominicais na ausência de presbítero foi tido em conta? Ficámos a saber que Coimbra é a diocese do país com maior número de celebrações regulares de Assembleias sem Missa. Elas foram equiparadas às Eucaristias normais. Parece ser legítimo concluir que o comportamento dos fiéis não se altera quando se realiza somente a celebração da Palavra e a comunhão, conduzidas por um leigo. Se assim é, demo-nos por felizes!

2. E quais foram os números?

Vejamo-los na sua globalidade e observemos a evolução no tempo:

Presenças na Eucaristia e comunhões em relação à população residente

Período

1977

1991

2001

População Residente

487.000

500.000

508.000

Presenças na Eucaristia

141.185

130.255

106.595

Total de Comunhões

37.173

64.031

57.765

% de Presenças em relação à população residente

29%

26%

21%

% de Comunhões em relação às presenças

26,3%

49,2%

54,2%

 3. O realismo dos números não deixa dúvidas: é acentuada e rápida a descida da frequência dominical na Diocese de Coimbra. De 77 a 91 baixámos pontos e descemos mais pontos de 91 a 2001.

A prudência levou-nos a procurar possíveis justificações demográficas; a verdade é que a população da diocese não decresceu; pelo contrário, subiu alguns milhares; e o envelhecimento (que, afinal, beneficia a frequência) não é, em Coimbra, superior ao da média do país.

A grande explicação é, pois, o enfraquecimento da fé (em alguns lados mais acentuado pela diminuição do clero), bem como o modo individualista e autodeterminado de se situar na comunidade católica. A região central da Diocese, centro intelectual, sempre originou condutas de pensamento e de comportamento muito auto-conscientes... Daí que, na parte mais populosa da Diocese se encontrem muitos católicos que elaboram para si mesmos os preceitos da sua fé...

4. Foi-nos dito que a região de Coimbra funciona, a diversos níveis (por ex., o eleitoral) como termómetro do país. Efectivamente, a média de frequência equivale à da globalidade da Igreja portuguesa; entre 20% e 23%.

O mal dos outros não remedeia o nosso; neste caso, concluímos apenas que as causas da diminuição em Coimbra são as mesmas do geral das dioceses.

5. A análise cuidada dos números levanta-nos algumas apreensões mais acentuadas, que passo a referir: a progressiva diminuição na presença das mulheres, com incidência notória nas raparigas, as futuras mães; a continuada perda dos jovens.

A estes índices negativos juntamos outro, ainda que a contagem o não tenha salientado: a ausência das crianças na Eucaristia dominical, fruto de igual comportamento dos pais. Causa estranheza que muitas crianças frequentem a catequese paroquial (é elevado o seu número) mas não venham à Eucaristia. Estaremos a conseguir formação da vida cristã ou simples instrução religiosa?... 

6. Cada vez se tornam mais nítidos, no espírito dos pastores, os imperativos de acção pastoral resultantes desta análise:

a)   A passagem de uma prática dominical sociológica para uma presença e participação conscientes supõe um maior empenhamento na formação pessoal de cada fiel. Importa melhorar a qualidade da celebração, mas é mais premente trabalhar na formação das pessoas, levando-as a consciencializar a importância da Eucaristia dominical.

Estejamos preparados para a humildade de ver diminuir os números. 

b)  A participação dos jovens está ligada a comportamentos de grupo. É uma urgência pastoral a constituição e o acompanhamento de grupos cristãos.

c)   Aos catequistas e aos pais devemos lembrar que as crianças não crescem para a vida cristã somente com a aquisição de conhecimentos mas, sobretudo, com a prática de comportamentos.

d)  A retoma da celebração de missas particularmente preparadas para a participação infantil, ao menos em alguns dias, é um assunto a considerar.

e)   A valorização da Missa dominical deve enquadrar-se numa mais ampla “pastoral do domingo”.

 

Coimbra, 15 de Abril de 2002
+ Albino Mamede Cleto
Bispo de Coimbra