Diocese do Algarve

Aumenta a população, aumenta a prática Dominical

Fazendo uma leitura sumária sobre os dados recolhidos no recenseamento dominical da diocese do Algarve, e tendo em conta que os resultados, quer deste recenseamento quer do censo levado a cabo pelo Estado, no ano 2001, são ainda provisórios, vale a pena fazer algumas considerações.

1. A população residente do Algarve aumentou consideravelmente
Estabelecendo um paralelo entre o censo de 1991 e o de 2001, observa-se um aumento global da população em relação aos residentes e em relação aos recenseados.
Assim, em 1991, tinham residência, no Algarve, 341.404 pessoas e na hora do recenseamento preencheram o boletim 367.825; em 2001, tinham residência, na província, 391.819 pessoas e preencheram o boletim de recenseamento 424.208.
Enquanto em 1991 havia uma diferença de 26.421 pessoas entre a residência e o recenseamento, com vantagem para os recenseados, em 2001 esta vantagem é de 32.389.
Em resumo: aumentaram os residentes, aumentaram os recenseados. A população residente global do Algarve aumentou, em dez anos, cerca de 14,7%.

2. A prática dominical também aumentou, mas não tanto
O número de praticantes dominicais, recenseados em 1991 perfaz 30.471 presenças na celebração do Domingo do recenseamento; esse número passou para 33.339, em 2001.
Comparando estes dois números, entre si, observa-se uma subida de percentagem da prática dominical na ordem dos 9,4%.
Verifica-se, de imediato, que a subida da prática dominical não acompanha nem a subida dos residentes nem a dos recenseados.
Daqui se infere que, não obstante haver mais gente a celebrar o Domingo, tal prática não cresceu na proporção do aumento da população. Para acompanhar o aumento populacional, deveria ter subido mais 5,3% acima dos 9,4% percentuais verificados.
Se estabelecermos um paralelo entre os residentes e o número dos praticantes, encontraremos os seguintes resultados: em 1991, celebravam o Domingo 8,9% dos residentes; em 2001 celebravam o Domingo 8,5%.
Em síntese: No Algarve há mais praticantes, em 2001, do que havia em 1991. Porém, durante estes dez anos, a percentagem dos praticantes em relação à população residente diminuiu 0,4%, pelo facto de o número de praticantes não ter subido na proporção da subida geral da população residente (1).

3. Algumas variantes, dignas de registo
Aumentou o número de homens praticantes, em todas as idades; aumentou o número de mulheres praticantes nas idades compreendidas entre os 25 e os 39 anos e nas idades superiores a 55 anos; nos restantes graus etários diminuiu.
Há um aumento de jovens praticantes entre os 15 e os 24 anos e de pessoas de idade jovem entre os 25 e os 39 anos; e observa-se uma diminuição das crianças dos 7 aos 14 anos e nos adultos dos 40 aos 54 anos. Estas quedas verificam-se nos indivíduos de sexo feminino.
Em síntese: Os homens de todas as idades estão a ser mais numerosos na observância dominical; as crianças (meninas), as jovens e as senhoras dos 40 aos 54 anos de idade estão a praticar menos.
Quanto à comunhão: aumentou a percentagem de comungantes, mais acentuadamente nos homens do que nas mulheres, notando-se uma diminuição nas crianças e nas idades compreendidas entre 40 e os 54 anos.
Mas enquanto nos homens, há um aumento geral percentual de comungantes na ordem dos 3,5%, nas senhoras, o aumento é de apenas 0,7%.
Estas variantes acontecem, apesar de ter aumentado o número de celebrações.
Se em 1991 se registava a existência de 180 lugares de culto, com um total de 234 celebrações, em 2001 os lugares de culto passaram a ser 221, com um número de celebrações na ordem das 271, das quais 36 foram simples celebrações da palavra com distribuição da comunhão.
As paróquias do Algarve alargaram assim, em cerca de 13,5% a oferta de possibilidades para a celebração do Domingo. Apesar disso, como se viu acima, o número de praticantes não aumentou na proporção da explosão populacional.

4. Algumas consequências práticas
De tudo o que fica dito, algumas interpelações são feitas à Igreja do Algarve:

a) Perante os dados numéricos acima referidos e considerando o cada vez mais diminuto número de sacerdotes, impõe-se uma pastoral centrada na valorização e celebração do Domingo e na Eucaristia, mas não necessariamente feitas com a celebração eucarística.
Há que criar mais lugares de culto e preparar cristãos leigos, capazes de ajudarem as pequenas comunidades a fazer a celebração festiva do Domingo, com canto, palavra, comunhão e partilha.

b) Atendendo à redução de crianças que, por força de uma natalidade em decadência, não chegam para refazer o tecido populacional duma sociedade envelhecida, prevê-se um decréscimo de praticantes, em tempos próximos. Mas isso não dispensa de investir apostólica e evangelicamente nessas idades primeiras.
Os números reclamam de toda a comunidade cristã uma especial atenção à formação das crianças, adolescentes e jovens, através de meios passíveis de oferecer-lhes uma fé mais sólida e profunda.

c) Tendo em conta o ligeiro aumento de praticantes masculinos e a diminuição, em algumas faixas etárias, por parte dos praticantes femininos, importa continuar a fomentar o trabalho com jovens de ambos os sexos, valorizando cada vez mais:
- a Pastoral catequética à volta do Crisma;
- a Pastoral matrimonial à volta do Casamento;
- a Pastoral familiar em todas as suas frentes.

d) A Pastoral há-de ter sempre como ponto de chegada a celebração da Eucaristia. Mas esta só poderá atingir o seu sentido pleno, para os cristãos, se estes a celebrarem, conscientes duma fé evangelicamente assumida e responsável.
A formação na fé é a base de todo o sentido do Domingo, e, especialmente, do significado e valor da Eucaristia. Mas não há Eucaristia sem sacerdotes.
Urge, por isso, investir fortemente numa verdadeira pastoral vocacional que desperte as comunidades para a necessidade da Eucaristia e do sacerdócio, mas que, igualmente, comprometa as famílias com a doação dos seus filhos ao serviço do Evangelho, na diversidade das vocações. Mas, urge, de igual forma, despertar para novas formas do exercício do ministério presbiteral, numa clara e assumida partilha de responsabilidades com os leigos.

D. Manuel Madureira Dias
Bispo do Algarve

(1) Nesta análise percentual não foi tido em conta, por falta de dados mesmo provisórios, o facto de que o censo contemplou toda a população e o recenseamento da prática dominical apenas os maiores de 7 anos.