31.07.2021 Views

Zoom in Portugal

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

EDIÇÃO ESPECIAL 1 agosto 2021

1


APRESENTAÇÃO

Zoom in Portugal

Quem não deseja ir, estar com familiares e amigos

de cara descoberta, respirar a natureza sem filtros,

deixar o “zoom” e fazer “zoom in” a tantos recantos

de Portugal, aproximando-se de lugares e pessoas,

templos e florestas, montanhas e praias?

O confinamento deixa marcas na economia e sobretudo

nas pessoas. Limita relacionamentos, impossibilita

habitar a casa comum, sentir a natureza,

tocar o outro, entregar-se a caminhos de justiça,

solidariedade, paz, espiritualidade. E como é necessário

abraçar largos horizontes, os que desafiam

ao cuidado dos outros, à criatividade sustentável, à

vida saudável.

Visitar é um caminho para o cuidado, a criatividade

e a saúde, no corpo e no espírito! Sobretudo quando

leva a ambientes inesperados, que surpreendem

pela beleza e pelo assombro, no interior e no litoral,

em contexto de culto ou de cultura.

É essa proposta que a Agência ECCLESIA faz neste

mês de agosto, com propostas que podem determinar

um desconfinamento saudável! Não partem

de um local, de uma redação, mas das 21 dioceses

de Portugal.

Obrigado a cada diocese, a quem escolheu destinos

a visitar e apresentou recantos e particularidades

que permanecem aparentemente distantes de

quem passa... E obrigado a todos os leitores por

reservarem alguns minutos para conhecer sítios,

templos, miradouros, centros de culto e de cultura

nas 21 dioceses de Portugal. A leitura destas páginas

é, por certo, o primeiro passo para uma visita.

A fazer ou, pelo menos, a programar!

ECCLESIA

Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Diretor: Paulo Rocha

Chefe de redação: Octávio Carmo

Redação: Carlos Borges, Henrique Matos, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Sónia Neves

Grafismo: Manuel Costa

Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Diretor: Isabel Figueiredo

Secretária: Ana Gomes

Redação e Administração:

Quinta do Bom Pastor | Estrada da Buraca, 8-12 | 1549-025 LISBOA | Tel.: + (351) 218 855 472

Email: agencia@ecclesia.pt | web: www.agencia.ecclesia.pt


3


PASTORAL DO TURISMO

ONPT: trabalhar para estimular um

verdadeiro encontro de pessoas

A 14 de maio, quando tomávamos posse no

Santuário da Mãe Soberana, em Loulé (Algarve),

definia-se este setor – o da Pastoral do Turismo

– como um «setor de fronteira». Consideramos

ser esta (dentro daquilo que a Igreja Católica pode

e deve fazer na sociedade para a promoção do

bem comum) uma área que toca diversas outras

áreas: a economia, a integração social, a promoção

dos bens culturais e patrimoniais, bem como a

sua conservação, a formação dos cidadãos e dos

agentes mais ligados às atividades turísticas.

O turismo, que noutros momentos de crise foi

decisivo para alavancar a recuperação económica

do país, vive atualmente e por causa da pandemia

provocada pela Covid 19, momentos

muito difíceis. A Igreja, como

afirmava nessa tarde de 14 de

maio, o presidente da Comissão da Pastoral Social

e Mobilidade Humana, D. José Traquina, assume

as «preocupações sociais» com este setor, em particular

no que toca às pessoas que nele trabalham.

Por isso, antes de qualquer outra coisa, a ONPT

procurará sempre ser uma força positiva e empenhada,

no sentido de ajudar a cuidar das pessoas,

de replicar boas práticas, de favorecer o encontro

de culturas e de garantir a visibilidade da espiritualidade

católica presente no património artístico.

Deste modo, a missão da Obra Nacional da Pastoral

do Turismo (ONPT) não poderá nunca ser concretizada

sem que se estabeleçam sinergias com

entidades públicas e privadas, com universidades

e todas as entidades que possam estar disponíveis

e atuem no sentido de potenciar atividades turísticas

que ajudem, também, à sustentabilidade das


comunidades católicas (um exemplo disso são os

casamentos realizados por estrangeiros no nosso

país, que de forma muito efetiva contribuem para a

vida das populações).

Trabalhar e colaborar na criação de iniciativas que

permitam criar uma rede de igrejas preparadas

para visitas turísticas, valorizar o património material

e imaterial é um desafio para a ONPT e exige

o envolvimento das comunidades, de forma que

se possa passar, a quem a visita os locais de a ela

ligados (templos, santuários, museus, coleções),

a mensagem, a verdade, o sentido de pertença

característicos e identitários dos católicos.

Este trabalho passa, naturalmente, pela divulgação

do património religioso, recorrendo áquilo que o

mundo da comunicação hoje nos disponibiliza,

como as plataformas digitais, mas também pela

realização de outras iniciativas, que passam pelo

estabelecimento de diálogo com organismos no

seio da Igreja Portuguesa (Comissões Episcopais,

Dioceses, etc.). A valorização do Ministério do

Acolhimento, as jornadas da ONPT, a participação

na próxima edição internacional da

Jornada Mundial da Juventude, o desenvolvimento

dos Caminhos de Santiago são alguns

exemplos das ações nas quais a ONPT pretende

envolver-se, sempre estabelecendo parcerias e

trabalhando em cooperação.

Esta equipa coordenada pelo Pe. Miguel Neto,

é composta por pessoas com diferentes experiências

neste setor ou pertencentes a equipas

diocesanas da Pastoral do Turismo (Sandra Côrtes-Moreira

- Algarve, Alexandrina Fernandes - Bragança-Miranda,

Margarida Franca - Coimbra e José

Pimenta - Lisboa), bem como o CEO do Grupo Pestana,

José Theotónio e a diretora do Mosteiro de

São Vicente de Fora (Lisboa), Joana Sousa Coelho.

O que desejamos é colocar aquilo que sabemos e

as nossas vontades e disponibilidades ao serviço

da Igreja e de todos os que, em relação com ela,

possam promover o turismo como uma atividade

que estimula um verdadeiro encontro de pessoas.

Como diz o Papa Francisco, «se eu visito uma

cidade, é importante que eu conheça não somente

os monumentos, mas também a história que

existe por trás dela, como vivem os seus cidadãos

e quais os desafios que enfrentam».

5


ALGARVE

Nem só de Sol e praia

se vivem as férias de Verão…

Tanto ansiadas, as férias são um tempo de pausa.

Um período durante o ano que nos deleitamos com

o repouso, saímos da rotina e se possível procuramos

descobrir novos destinos ou rever locais onde

fomos felizes.

O Algarve, conhecido pelas suas praias de areia

branca, as águas azuis do mar e a temperatura

amena, sendo um destino de eleição para descansar

e fazer atividades diferentes durante os meses

de Verão, tem muito mais para ser visitado.

Durante as férias aventure-se e parta à descoberta

da natureza. Entre caminhar e observar aves,

muitas são as possibilidades para contemplar o

mundo criado que nos rodeia.

Em praticamente todos os municípios do Algarve,

do litoral à serra, no barrocal ou na costa sudoeste,

há uma grande oferta de percursos naturais que


nos permitem fugir da vida agitada das cidades e

nos maravilharmos com as formas e diversidade

natural.

A observação de aves é uma atividade que de ano

para ano ganha adeptos. Por um lado, as aves

constituem um grupo de seres vivos, que pelos

seus tamanhos, cores e formas diferentes, são

relativamente fáceis de identificar, e por outro, muitas

aves deixam-se observar até uma certa distância

de segurança.

O Algarve não foge à regra. Aqui já foram observadas

perto de 400 espécies de aves diferentes.

Entre aves residentes, invernantes, estivais ou de

passagem entre a Europa e o continente africano

(outono) ou em sentido contrário (na primavera),

pelo menos 250 têm uma presença regular ao

longo do ano,

Como para qualquer atividade, há alguns equipamentos

básicos que são necessários adquirir. Um

bom par de binóculos e um guia de identificação

de aves – nas livrarias há alguns bons livros em

português – constituem o kit fundamental de iniciação.

Quem quiser e tiver possibilidade de investir

um pouco mais, poderá adquirir um telescópio

7


e respetivo tripé. Como alternativa, uma máquina

fotográfica e uma boa objetiva, com as quais poderá

registar as suas observações para mais tarde

recordar e identificar, tem sido a opção de muitos

dos novos observadores de aves.

As zonas húmidas no litoral do Algarve – sapais

e salinas de Castro Marim e Vila Real de Santo

António; a Ria Formosa, entre sapais, ilhas barreira,

laguna e salinas; a Lagoa dos Salgados, ou Ria de

Alvor, com o seu complexo lagunar e sapais, protegidos

do mar por um longo sistema dunar – são os

locais a visitar para quem quer iniciar-se na observação

de aves. Em qualquer destes locais poderá

observar aves a alimentar-se ou a descansar. Os

flamingos, colhereiros, garças e cegonhas são as

aves de maior porte que se observam; entre as de

média dimensão, destacam-se os maçaricos-galegos,

pernilongas e várias espécies de gaivotas e

patos; e entre as aves mais pequenas, sobressaem

pilritos e borrelhos. Nos campos e matos limítrofes

são muitas as espécies de passeriformes que se

escondem no interior da vegetação. Para as vermos

devemos parar e esperar em silêncio. Estas pequenas

aves aos poucos retomam a sua atividade,

deixando-se observar. Durante um percurso poderá

ser também surpreendido pelo planar de uma ave

de rapina ou pelos voos e mergulhos acrobáticos

das andorinhas-do-mar-anãs sobre as águas.

Praticamente todas estas zonas têm percursos balizados

e informação disponível, seja na internet ou

no próprio local, que permitem preparar uma visita

com algum detalhe.

Qualquer que seja o motivo, nestas férias, aventure-se!...

Parta à descoberta, caminhe, contemple e

deixe-se maravilhar pelo admirável mundo criado

que nos rodeia. Quando regressar das férias irá

estar mais desperto para o mundo natural que o

circunda e com a prática irá conhecer e juntar-se

aos atuais milhares de amantes da natureza.

Filipe Bally (biólogo)

Portimão, 23/07/2021

Sites a consultar:

www.avesdeportugal.info

www.turismodoalgarve.pt

www.spea.pt


9


ANGRA

APONTAMENTOS PARA VISTAS VÁRIAS

Os Açores são nove ilhas

e não uma, espalhadas

por 600 km de distância…

Alinho, abaixo, notas curtas sobre algumas coisas

da minha lista particular, variadas como são as

ilhas, profundas na sua relação íntima entre a fé, a

religião e os lugares…, com a infeliz certeza de ser

injusto. Por isso, mantenha os olhos abertos e o

espírito curioso, quando andar por aqui.

Francisco Maduro-Dias

Museólogo

(Presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz)


SANTA MARIA

A capela dos Anjos, onde Colombo terá estado;

o teatro do Espírito Santo, na freguesia de Santo

Espírito, dos mais simples das ilhas e dos mais

primitivos. Claro que pode e deve visitar a Matriz

de Vila do Porto e contemplar a belíssima

fachada de pedra da ilha, da igreja da freguesia

de Santo Espírito.

SÃO MIGUEL

Evidentemente que deve tentar visitar o antigo

Convento da Esperança, onde se guarda a imagem

sagrada e respeitadíssima do Senhor Santo

Cristo dos Milagres, devoção maior, nas ilhas.

Não deixe, porém, de entrar e deixar-se ficar, um

bocadinho que seja, na Matriz de São Sebastião,

em Ponta Delgada, de tentar visitar o conventinho

da Caloura e, por favor, vá dar uma olhadela

à chamada igreja dos Passos, na Ribeira Grande,

primor barroco.

11


TERCEIRA

Só Angra do Heroísmo, sede da Diocese, teve

oito mosteiros, conventos e colégio da Companhia

de Jesus. Cinco coisas, das muitas: A Sé,

com uma linda estante de cantochão, em estilo

indo português, mas com madeira do Brasil e

embutidos de material ebúrneo de cachalote.

É um trabalho açoriano; O órgão de Machado

Cerveira, na Igreja de S. Francisco; Os frescos do

século XVI – únicos nestas ilhas – na matriz de

São Sebastião, redescobertos nos anos 50 do

século XX; A imagem do Imaculado Coração de

Maria da escultora portuense Irene Vilar, na igreja

paroquial dos Biscoitos; o altar da família de

Francisco Ornelas da Câmara, peça do barroco

quinto joanino, na Matriz da Praia da Vitória.

FAIAL

A Matriz da Horta, que é a antiga igreja do

colégio jesuíta, alberga outra estante de cantochão,

parente da da Sé de Angra. Há, aqui, mais

um altar com frontão em prata que vale a pena

olhar. Ao cimo da cidade, mas vale a pena subir,

vá sentar-se um bocado a ver o lindíssimo retábulo

do altar do Santíssimo, da igreja do antigo

convento do Carmo. Se puder, tente ainda ver a

coroa do Espírito Santo da freguesia dos Cedros.

É diferente das que conhece.

PICO

A ilha é grande, mas deixo-lhe três sugestões: A

imagem do Senhor Bom Jesus Milagroso, em

São Mateus do Pico, o templo do antigo convento

de S. Pedro de Alcântara, no Cais do Pico,

concelho de S. Roque, e visite a Criação Velha

onde a simplicidade do edifício do império do

Espírito Santo contrasta com a riqueza das suas

festas em honra do Paráclito.

GRACIOSA

Hesito entre dizer-lhe para subir ao monte da

Ajuda e deambular por entre as três ermidas

que o coroam ou visitar a Matriz e contemplar o

políptico de pintura sobre madeira, atribuído ao

mestre de Arruda dos Vinhos, raro conjunto, pela

época recuada e qualidade, de toda a pintura religiosa

nas ilhas. É melhor visitar os dois locais.


SÃO JORGE

pode deambular pela ilha e verá coisas lindas,

mas deixo-lhe uma recomendação. Visite, com

calma e tempo, a igreja de Santa Bárbara das

Manadas. Quando lhe perguntarem por exemplos

do modo de ser ilhéu, fale-lhes do que viu,

neste templo, ancorado numa plataforma junto

ao mar e encostado à imperiosa falésia da ilha.

CORVO

A pequenina igreja Matriz guarda duas lindas

curiosidades. O pesado rosário de oiro, ao que

consta oferta do pirata Almeidinha à padroeira

da ilha e uns bancos que, como muita coisa

nos Açores, “vieram da América”. Estranhos,

mas muito confortáveis, a vontade dos corvinos

fez com que viessem de uma antiga sinagoga

encerrada e hoje embelezam a igreja da mais

pequena ilha dos Açores.

FLORES

Duas coisas: igreja do antigo convento franciscano,

hoje integrada no museu e – escolha a

que quiser – uma Casa do Espírito Santo. Aqui,

no grupo ocidental dos Açores, são casas quase

iguais às outras, apenas ostentando, na parede,

uma bonita coroa esculpida em pedra. É como

se o Espírito quisesse confirmar que permanece

entre as gentes de cada lugar, habitando uma

casa como as suas.

13


AVEIRO

Igrejas e santuários

de peregrinação

Texto: Monsenhor João Gaspar


TORREIRA

- Torreira é uma freguesia do concelho da Murtosa,

situada nas dunas entre o canal-norte da ria de

Aveiro e o mar; todos os anos, no dia 08 de setembro,

festeja-se N.sa Senhora do Bom-Sucesso e S.

Paio, com Missa e procissão, em que participam

milhares de pessoas. Da festa fazem parte uma

grande concentração de barcos moliceiros, um

concurso de painéis pintados na proa dos barcos

moliceiros, uma corrida de embarcações típicas e

um magnífico espetáculo de fogo-de-artifício.

15


TALHADAS

- Na freguesia das Talhadas, do concelho

de Sever do Vouga, no lugar de Vide,

existe a igreja de S.ta Eufémia, de onde se

desfruta uma admirável paisagem sobre

a ria de Aveiro e sobre o mar. No domingo

antes do Carnaval, aí se concentra muita

gente que se estende pelo largo fronteiro,

com o sentido de peregrinação religiosa.

VAGOS

- Conta a tradição que o Santuário

de S.ta Maria de Vagos vem

desde o ano de 1185; localiza-se

à distância de cerca de um quilómetro

da vila, no meio de um

vasto ermo campestre, propício

a grupos de peregrinos e devotos

que, de longe e de perto, aí vão viver

momentos de oração. Anualmente,

na segunda-feira depois

do domingo do Pentecostes,

acorrem alguns milhares de pessoas,

provenientes de Vagos, de

Cantanhede e de muitas outras

povoações.


ALBERGARIA-A-VELHA

- Na freguesia de Albergaria-a-Velha, no Bico

do Monte, destaca-se a igreja de N.sa Senhora

do Socorro, edificada em 1856-1857 em

obediência ao voto que a população fez, se

se visse liberta da epidemia “cólera-morbus”

que atormentava intensamente o nosso País;

na vila, em outubro de 1953, a morte ceifara

quarenta e três pessoas. A doença desapareceu,

rezando-se então preces de ação de

graças, que se repetem em todos os anos.

A igrejinha inicial, ampliada em 1880-1883

dado o número progressivo de peregrinos,

foi beneficiada com várias remodelações

posteriores.

MOGOFORES

- Os Salesianos de Dom Bosco são uma congregação

religiosa que exerce a sua ação educativa

sobretudo junto dos jovens mais desfavorecidos;

também estão na freguesia de Mogofores (Anadia)

desde 1938, onde foram desenvolvendo várias

valências educativo-pastorais: - seminário, primeiro

com noviciado e depois com aspirantado, oratório

festivo, aulas de alfabetização de adultos, imprensa,

paróquia, santuário e colégio.

GAFANHA DA NAZARÉ

- O sacerdote alemão Josef Kentenich (1885-

1968), no dia 18 de outubro de 1914, iniciou em

Schöenstatt (Valendar – Alemanha) o que mais

tarde seria considerado o primeiro

marco da fundação da Obra de

Schöenstatt. Na Diocese de Aveiro, o

santuário, implantado em pleno coração

da Colónia Agrícola (Ílhavo),

foi inaugurado e benzido em 1979;

é uma reprodução autêntica do

santuário original. Em de 1993,

foi elevado à categoria de santuário

diocesano, com o nome

de “Tabor Mater Ecclesiæ”.

17


BEJA

A Diocese de Beja, apesar da destruição, descaracterização

e erosão de muito do seu Património

Religioso, fruto da acção ou omissão humanas, e/

ou das vicissitudes da História, é possuidora de um

conjunto notável de Igrejas, entre a Espanha e o

Oceano, nas suas Cidades, Vilas, Aldeias e Ermidas

espalhadas pelo Alentejo profundo. Deste vastíssimo

património escolhemos 3 Igrejas:

1. Santuário de Nossa Senhora do Carmo, Moura;

2. Basílica Real de Castro Verde;

3. Igreja de Santa Maria da Feira, Beja.


Santuário de Nossa Senhora do Carmo, Moura

O conjunto monumental onde sobressai o Santuário

de Nossa Senhora do Carmo, foi a primeira sede

da Ordem dos Carmelitas na Península Ibérica,

depois da sua chegada da Terra Santa. O convento

foi construído no período gótico pelos cavaleiros

hospitalários, em 1251.

Em 1347, D. Nuno Álvares Pereira, fronteiro mor do

Alentejo, manda construir o Convento do Carmo,

em Lisboa. Para este Convento vieram Religiosos

do Convento de Moura, solicitados e indicados pelo

próprio D. Nuno. É a partir daqui que os Carmelitas

vão irradiar para todo o Portugal e ainda para o

Brasil.

Quanto ao edifício, o tempo encarregou-se de apagar

na pedra a lembrança do seu estilo de origem

e outros gostos artísticos sobrevieram nos séculos

posteriores, nomeadamente o renascentista patente

no pórtico de mármore.

No interior, são dignas de nota as capelas laterais.

Na primeira do lado direito, dedicada a Santa Ana,

destaca-se um pórtico da Renascença e na quarta,

do mesmo lado, a abóbada cruzada de nervuras

é forrada por um lindo padrão de azulejos policromos.

Do lado esquerdo, a primeira capela dedicada

a S. Martinho tem o tecto forrado de azulejos

amarelos e azuis.

O pórtico em mármore do Renascimento é encimado

pelas armas do arcebispo de Braga, D. Baltasar

Limpo, prelado natural de Moura, que a mandou

edificar.

As Festas em honra de Nossa Senhora do Carmo

são das que mais gente movimentam em todo o

Alentejo. A esta devoção está também ligada uma

das músicas marianas mais conhecidas em todo o

País.

Está prevista para breve uma intervenção de restauro

na Igreja, bem como do Convento anexo à

Igreja.

19


Basílica Real, de Castro Verde

Erigida sobre a antiga matriz de Castro Verde, a

Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição data

dos inícios do século XVIII, e tem a sua existência

associada ao discurso de glorificação da lenda da

Batalha de Ourique, inscrita, desde há muito tempo,

no imaginário português e na matriz histórica da

nossa realeza.

D. João V corporizou e traduziu esse espírito no

favorecimento que deu à obra; no título de Basílica

Real atribuído à nova matriz e nas mais diversas

encomendas régias com que enriqueceu e valorizou

o seu recheio.

A escala do edifício, e a proteção da coroa à sua

construção, tornaram-na uma obra grandiosa, de

fachada robusta, compartimentada, com alçado

dominado pela presença de duas torres sineiras,

composição que contrasta com o espaço interior,

elegante, de uma só nave, na qual se exibe, preenchendo

as superfícies parietais, um conjunto notável

de painéis Joaninos historiados de exaltação

da Batalha de Ourique e um magnífico altar-mor de

talha dourada, da mesma época.

A Basílica Real, depois de uma primeira intervenção

nas coberturas, paredes, portas e janelas, foi

beneficiada com o restauro integral da pintura mural

do Coro Alto e está a iniciar-se uma intervenção

de grande fôlego, que levará ao restauro da pintura

do tecto.

Integrado neste imponente Templo situa-se o Tesouro

da Basílica, do qual sobressai uma das obras

mais icónicas da Diocese de Beja, a “Cabeça de S.

Fabião”.

(Site do Município de Castro Verde)


Igreja de Santa Maria da Feira, Beja

Esta Igreja, sede de uma das 4 Paróquias da

Cidade de Beja é também a Matriz da Cidade, e é

possuidora de um património extraordinário, por

muitos desconhecido e, neste momento, necessita

de uma intervenção profunda quer no seu exterior,

de grande complexidade e monumentalidade, quer

no seu interior, para o qual já existe um projecto.

A construção da Igreja de Santa Maria iniciou-se no

último terço do Século XIII, no local outrora ocupado

por uma igreja visigótica e por uma mesquita

árabe, após a doação régia à Ordem de Aviz, em

1270.

É uma Igreja de planta longitudinal, com 3 naves

abobadadas à mesma altura e capela-mor no eixo

da nave central, com galilé adossada à fachada

principal e a torre sineira afastada do corpo da

nave.

A Igreja possui Retábulos de talha de excelente

qualidade técnica e artística em particular o da

Capela de São Miguel Arcanjo. O Retábulo-mor

em madeira encerada de linhas neo-clássicas tem

de cada lado uma portada de acesso à cabeceira.

Nesta são ainda visíveis as nervuras da cobertura

primitiva e vestígios de pinturas murais. Este

Retábulo esconde a primitiva Capela – Mor Gótica,

com janelas ogivais entaipadas. Na nave, do lado

do Evangelho desalientar: o altar de Jesus ou das

Dores de Maria, com um retábulo em talha dourada

de estilo rococó; o altar de Nossa Senhora do

Rosário com retábulo de talha dourada barroco, de

estilo nacional, com uma Árvore de Jessé ocupando

toda a tribuna. É um dos mais belos exemplares

no nosso País. De destacar ainda o altar de Nossa

Senhora das Dores com retábulo em talha dourada

neoclássico. Do lado da Epístola: a capela do Santíssimo

Sacramento, com abóbada e paredes.

Anexa à Igreja, situa-se a Capela de Nossa Senhora

do Rosário, que passou por diversas transformações

ao longo da história, uma das quais foi

ter sido transformada em agência bancária, num

projecto de Pardal Monteiro. Hoje funciona aqui um

Núcleo museológico, visitado por milhares de turistas

nacionais e estrangeiros, que se maravilham

com os seus 6 painéis de azulejos do Século XVIII,

reproduzindo alguns dos Mistérios do Rosário.

21


BRAGA

Santuário do Bom Jesus do Monte

Horário de Abertura:

08h00-18h00 (ultimo domingo de outubro a ultimo sábado

de março)

08h00-19h00 (ultimo domingo de março a ultimo sábado

de outubro)

Missas:

Ultimo domingo de outubro a ultimo sábado de março

Segunda a sexta-feira - 16h30

Sábado – 08h30 Domingo – 08h00; 11h00; 16h30

Ultimo domingo de março a ultimo sábado de outubro

Segunda a sexta-feira - 17h00

Sábado – 08h30 Domingo – 08h00; 11h00; 17h00

Marcação de visitas:

E-mail: geral@bomjesus.pt

Telf.: +351 253676636

Morada:

Bom Jesus do Monte

4715-056 Tenões

Web: www.bomjesus.pt

Situado na União de Freguesia de Nogueiró-

-Tenões, em Braga, o Santuário do Bom Jesus do

Monte insere-se numa área de 26,5ha, constitui-se

num conjunto arquitetónico-paisagístico integrado

por uma Basílica, um escadório monumental

ladeado por 19 capelas dedicadas ao tema da

Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, uma área

de mata, Jardins complementados por uma rede

de caminhos e um conjunto de lagos e grutas,

hotéis e um funicular (o mais antigo do mundo a

funcionar com o sistema de contrapeso de água

desde 1882).

As origens do santuário remetem-nos ao século

XIV, embora só tenha começado a ganhar importância

já no século XVII, quando surgiu a Confraria

do Bom Jesus do Monte (1629). O carácter monumental

dos edifícios religiosos só se concretizou

no final do século XVIII e início do século

XIX, altura em que as estruturas edificadas foram


completadas por um grandioso templo da autoria

do arquiteto Carlos Amarante. Considerado por G.

Bazin como “O santuário mais perfeito que o Cristianismo

alcançou”, destaca-se pela sua relevante

arquitetura, desde o barroco ao neoclássico, como

pelas suas esculturas, a simbologia dos espaços,

o pensamento religioso e a piedade popular. Nos

finais do séc. XIX foi o Santuário mais importante

do país.

A importância deste Santuário comprova-se pela

influência que teve na construção de outros Santuários,

servindo de inspiração ao Santuário de

Nossa Senhora dos Remédios em Lamego e ao

Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, na cidade

de Congonhas, no Brasil.

A igreja foi elevada à dignidade de basílica-menor

em 5 de julho de 2015.

Está inscrito na Lista do Património Mundial da

UNESCO desde 7 de julho de 2019, como Paisagem

Cultural.

23


Igreja de Santa Cruz

Horário de Abertura:

Segunda a sexta

09h30 – 12h30

15h00 – 19h00

Sábado - 9h30-11h00

Missas:

Todos os dias - 11h00 e 18h00

Marcação de visitas:

E-mail: geral@irmandadesantacruz.pt

Telf.: +351 253205900

Morada:

Largo Carlos Amarante 11

4700-308 Braga

Web: https://irmandadesantacruz.pt/patrimonio/

arquitetonico/

A Igreja de Santa Cruz foi construída no século

XVII, em estilo barroco maneirista; o exterior é todo

em pedra trabalhada com simetria central e possui

no seu interior talha dourada invulgar. A nave,

muito alta, é formada por uma abóbada de pedra

esquartelada. O interior da igreja ostenta o traço de

Frei José de Santo António Vilaça. A parte central

da fachada divide-se em dois registos, com remate

em frontão e aletas. No primeiro patamar, quatro

colunas dóricas caneladas com entablamento, cujo

friso apresenta, em baixo-relevo, os instrumentos

da Paixão de Cristo, com a figura do galo em

cada extremo, que evoca a negação de Pedro. No

segundo patamar, quatro pilastras jónicas estria-

das, com entablamento interrompido por óculo que

se estende para o frontão. Os panos apresentam

quadros ornamentais (os laterais encimam janelas):

ao centro, a Santa Cruz com resplendor e dois

estandartes de mastros cruzados; do lado esquerdo,

uma árvore de fruto (a árvore do Paraíso); do

lado direito, uma palmeira com uma coroa real. No

frontão encontra-se a pedra de armas de D. João

VI, colocada quando o soberano, em 11 de outubro

de 1822, elevou a irmandade de Santa Cruz à categoria

de Real. A coroar a fachada, três esculturas:

Santa Helena a sustentar a Cruz, ladeada por duas

figuras em genuflexão, de armadura e manto, com

o cetro e a coroa aos pés. Nas laterais da fachada,

duas torres altaneiras, com sinos que espalham

música por toda a cidade. E, em cada torre, um

relógio.

No interior poderá ser visitado o Museu da Irmandade

de Santa Cruz, localizado numa das alas da

Igreja.


Museu Pio XII

Horário de Abertura:

Terça a domingo: 9h30 – 12h30; 14h30 - 18h00

Encerra à segunda-feira

Marcação de visitas:

E-mail: info@museupioxii.pt

Telf.: +351 253 200 130

Morada:

Campo de Santiago, 47

4704-532 BRAGA

Web: https://www.museupioxii.pt/

O Museu Pio XII convida-o para uma viagem de

sonho. Irá tirar o bilhete (do comboio imaginário)

no Paleolítico,

lá muito atrás, entre 2,5 milhões e 250 000 anos

antes de Cristo. Na espera do trem, poderá comer

uma peça de

caça e apreciar uma pintura rupestre. Viajará para

o Mesolítico. Uma vez chegado, acampará junto

ao rio. Deverá gastar algumas horas na pesca.

Voltará para o comboio. A paragem seguinte será

no Neolítico. Verá gente a cultivar campos, com a

ajuda de animais; e a construir casas. Pensará que

nada mais existe para além da pedra?! – Vai ser

convidado a retornar ao caminho. Verá, ao passar

no calcolítico, como se funde o cobre. E contemplará

as rodas e os arados. Não o deixarão desistir:

há mais metais bonitos e bem trabalhados nas

estações seguintes, as do bronze e do ferro. E não

deixará de dar uma mirada no ouro e na prata. E

nas cerâmicas. O novo apeadeiro fá-lo-á descer no

tempo dos romanos. Que enorme território. Que

grandes construções. Uns, ali, a adorar os deuses.

Daquele lado, outros vão ao teatro. Que bonitas as

lucernas…

Entretanto, uma luz brilhará nas trevas… E o comboio

chegará ao destino. Aí dará para ver um Menino

em Belém; uma Mãe com Ele ao colo; uma cruz

no Calvário; um coração rasgado; e um mundo

redimido. Eis a grande viagem que no Museu Pio

XII poderá realizar. Ainda lhe falaremos dos Mártires

e dos Grandes Santos Medievais, do Concílio

de Trento, dos Jesuítas e de

S. Frei Bartolomeu dos Mártires, da relação da

Igreja com o mundo, da ação social da Igreja e

das atuais devoções, que nos conduzirão de Braga

até Fátima. Enfim, viajaremos dos primórdios da

humanidade até aos dias de hoje!

25


BRAGANÇA-MIRANDA

Opção Divergente


O tempo estivo oferece-nos a oportunidade de

visitar e conhecer. Todos os municípios - na pluralidade

das suas freguesias - facultam acesso a

património natural e edificado; em ambos há uma

presença espiritual. Pulsar vital da humanidade e

do cristianismo, no nosso contexto. Lanço duas

propostas para este verão, poderiam ser muitas

outras…

A primeira, passar dois dias no Mosteiro de Santa

Maria Mãe da Igreja, em Palaçoulo, no concelho

de Miranda do Douro. Este é o primeiro mosteiro

trapista em Portugal, em edificação, precisamente

na Diocese de Bragança-Miranda. A experiência vai

envolver a pessoa no seu todo, conduzindo-a a um

sentimento interior: de paz, confiança, harmonia

e equilíbrio. O hóspede terá tempo para si, e ainda

para o contacto com a vida da comunidade, com

a qual poderá repartir o pão e a oração. A liturgia é

bela. Nesta casa o lavor e o louvor são visíveis. O

carisma, o testemunho, a alegria das dez irmãs que

aqui habitam conduzirá o hóspede a pensar a vida

e a espiritualidade, a sentir uma presença de Deus.

27


A segunda proposta, exclusiva, dedicar um dia para

visitar as igrejas da cidade de Bragança. As diferenças

merecem atenção, escondem-se na arquitetura

e na arte, escondem lendas e testemunhos

humanos… mas no final, ali, acontece o anúncio do

mesmo Evangelho e a celebração da mesma fé.

Esta visita deve iniciar na catedral. É importante

descobrir a singularidade e particularidade desta

em relação às outras igrejas. Inaugurada no ano de

2001; a primeira construída no séc. XXI. É dedicada

a Nossa Senhora Rainha. O sacrário tem a forma

geográfica da diocese; a fonte batismal é distinta,

os painéis de Mário Silva e Ilda David escondem

uma mensagem. Contemple-se ainda a Pietà do

Mestre José Rodrigues acompanhada de um

poema de S.ª Emin.ª Cardeal Tolentino Mendonça.

Aos domingos, a Eucaristia das 18h, habitualmente

presidida por D. José Cordeiro, é antecedida pelo

canto da oração de Vésperas.

Concluída esta visita, progrida para a igreja de São

João Baptista; inicialmente destinada a convento

de irmãs (Clarissas), acabou por funcionar como

colégio dos padres da Companhia de Jesus. Em

1766, instalou-se aqui o Seminário Diocesano que

igreja de São Vicente

igreja de São João Baptista


efetuou obras de ampliação. Vale a pena visitar

além do interior, o claustro e a sacristia pela mensagem

comunicada na pintura. Siga para a igreja

de São Vicente, revestida de uma belíssima talha;

deixe-se maravilhar pela lenda: aqui casaram Dom

Pedro I e Dona Inês de Castro. Após esta, avance

para a Igreja de Sta. Maria (castelo) onde se

destaca o tecto e sobretudo a raríssima imagem

de Santa Maria Madalena. É ainda imperativo

passar na igreja da Misericórdia - construída em

1539 - por força do retábulo maneirista de grande

valor, que apresenta como figura central Nossa

Senhora da Misericórdia. Muito próximo está o

santuário de Nossa Senhora das Graças, também

conhecido como igreja de Sta. Clara. Este convento

- datado de 1569 - destinava-se acolher as filhas

dos cidadãos de Bragança. Nele venera-se N. Sr.ª

das Graças, padroeira da cidade, cuja imagem é de

uma beleza ímpar… e diante da qual poderá pedir

alguma graça. Havendo tempo, o périplo pode estender-se

à igreja dos Santos Mártires, à igreja do

Santo Condestável, entre outras.

Igreja de Sta. Maria

santuário de Nossa Senhora das Graças

igreja do Santo Condestável

29


COIMBRA

Roteiro

de Santuários

Ao apresentar algumas sugestões de visita a alguns

dos Santuários da Diocese de Coimbra, refiro três –

um dedicado ao Senhor Jesus e dois a Nossa Senhora

– tendo por base um critério geográfico: privilegiando

o Nordeste, o Sul e o Centro da Diocese. São apenas

três sugestões de visita, das múltiplas que poderiam

ser feitas, se considerássemos, desde logo, algumas

das nossas cidades, toda a beira-mar e a riqueza do

nordeste da Diocese. Assim, apresentarei uma breve

referência aos Santuários do Senhor da Serra, em

Semide (Miranda do Corvo); da Senhora do Mont’Alto,

em Arganil; e de Nossa Senhora do Pranto, em Dornes

(Ferreira do Zêzere).

Bibliografia:

Cf. Maria do Rosário Barardo – Santuários de Portugal.

Caminhos de Fé. Prior Velho, Paulinas Editora, 2015.

[Diocese de Coimbra].

Cf. Carlos Alberto da Graça Godinho – Roteiros Marianos.

Do Concílio de Trento à atualidade. In Devoções

e Sensibilidades Marianas: da memória de Cister ao

Portugal de hoje. Livro do XIII Encontro Cultural de São

Cristóvão de Lafões. São Cristóvão de Lafões, 2018, p.

198.

Cf. Altares Marianos. In Visit Portugal – Caminhos da

Fé (disponível em http://www.pathsoffaith.com )

Coimbra, 06 de Julho de 2021

Pe. Carlos Alberto da Graça Godinho


Santuário do Senhor da Serra

– situado num monte, acima da sede de freguesia

– Semide – dali se pode fruir uma bela

paisagem, com vista para a cidade de Coimbra,

para a zona litoral e para toda a região montanhosa,

numa visão ampla e diversificada da

paisagem que o envolve. O Santuário primitivo

remonta ao século XVII, dedicado ao Senhor

Santo Cristo da Serra – o Cristo Crucificado –,

numa história que o relaciona com o Mosteiro

Beneditino de Santa Maria de Semide. Santuário

de grande expressão regional, pois a ele

acorriam muitos romeiros, particularmente até

meados do século XX, foi reformado, após a

demolição da primitiva ermida, nos finais do

século XIX, dando lugar à atual igreja, de planta

em cruz latina, da autoria do mestre conimbricense

António Augusto Gonçalves, ficando

concluído em 1904.

31


Santuário de Nossa Senhora

do Mont’Alto (Monte Alto)

Situado num monte sobranceiro à Vila de Arganil,

de onde lhe provém o nome, é um belíssimo miradouro,

de vistas amplas, permitindo-nos contemplar

o vale do rio Alva, a Serra do Açor e os campos

que se estendem pela estrada da Beira. Um dos

acessos ao santuário é feito pela escadaria, de

dois lanços convergentes, onde encontramos diversas

capelas, de que destacamos as dedicadas ao

Senhor da Agonia, ao Senhor da Ladeira e à Santíssima

Trindade. A Igreja, dedicada a Nossa Senhora

do Monte Alto, foi edificada nos inícios do século

XVI (por volta de 1520), sofrendo várias alterações

ao longo dos tempos, sendo as mais recentes as

intervenções feitas em 1960. De planta longitudinal

e de fachada simples, destaca-se, no seu interior, o

retábulo-mor e os altares colaterais. No camarim

do altar-mor, do século XVIII, está colocada a imagem

de roca, da Padroeira.

Nossa Senhora do Mont’Alto


Nossa Senhora do Pranto

Situado no alto da belíssima península de Dornes,

envolvida pelo rio Zêzere, o Santuário de Nossa Senhora

do Pranto destaca-se, desde logo, pela atual

Torre Sineira, uma construção templária medieval,

localizada ao lado do templo.

De construção gótica, maneirista e barroca, do primitivo

templo restam apenas algumas inscrições.

De planta longitudinal e pórtico de verga reta, em

empena triangular, o interior, de nave única, surpreende

pela riqueza azulejar que reveste totalmente

as paredes da igreja, com azulejos de padrão

policromo, do século XVII. O teto, com cobertura de

madeira, ostenta uma pintura do escudo da Rainha

Santa Isabel. Destacam-se, ainda, o altar-mor, em

talha dourada, do século XVII, onde se enconta a

imagem de Nossa Senhora do Pranto; e o órgão de

tubos, numa das paredes laterais, recentemente

restaurado.

Este espaço natural, aprazível, com o Zêzere a

envolver toda a península, acolhe todos os anos

vários círios: alguns das paróquias vizinhas, mas

igualmente outros de paróquias mais distantes, da

Diocese de Coimbra e do norte da vizinha Diocese

de Santarém.

33


ÉVORA

Igreja São Francisco

e Capela dos Ossos, Évora

É no coração da cidade de Évora, entre o aglomerado

do seu casario e o buliço da cidade, que a Igreja

de São Francisco manifesta todo o seu esplendor

e magnificência. Aqui nasceu a primeira casa

franciscana, no século XII e continua a ser hoje um

testemunho da mensagem do Poverello de Assis.

A sua relevância e os desgastes do tempo, aconselhariam

a sua reedificação e ampliação nos finais

do século XV. Respeitando os limites originais, as

três naves foram substituídas pela nave única, coberta

pela arrojada abóbada gótico-manuelina que

atinge vinte e quatro metros de altura. É a maior

nave peninsular e acolhe um património de incomensurável

valor.

O Convento de São Francisco de Évora está intimamente

ligado à história dos monarcas da expansão

marítima portuguesa que elegeram a cidade do

Sem Pavor como a segunda cidade do Reino. Aqui

se albergavam sempre que os ares de Lisboa o

aconselhavam. Dom Afonso V escolheu mesmo

este espaço conventual para nele se instalar nas

suas deslocações à cidade-museu contribuindo,

deste modo, para o seu engrandecimento como


capela real. A ligação à realeza ostenta-se nos

símbolos da magnificente nave de abóbada ogival:

a cruz da Ordem de Cristo e os emblemas dos reis

fundadores, D. João II e D. Manuel I.

A sua traça arquitectónica gótico-manuelina está

bem patente nas ameias e torres das fachadas

bem como no pórtico principal e na abóbada que

evidencia a espiritualidade do lugar. A extensa nave

do templo, é ladeada por dez capelas, compostas

por retábulos de talha dourada e policromada

(século XVIII) e de estuques (século XIX). O retábulo

actual da capela-mor é da segunda metade

do século XVIII, em mármores alentejanos. Nele

se expõem as grandes imagens de São Francisco

e São Domingos, como era hábito nas igrejas

franciscanas. Nos alçados da capela estão duas

belíssimas janelas marmóreas renascentistas, de

onde a Família Real assistia aos ofícios religiosos

(no século XVI).

Data dos séculos XVI-XVII a construção da Capela

dos Ossos, edificada no primitivo dormitório dos

frades. A sua construção partiu da iniciativa de

três frades franciscanos como espaço de reflexão

sobre o carácter efémero e transitório da vida.

Emblemática é a frase que domina o frontispício

da capela: “Nós, ossos que aqui estamos, pelos

vossos esperamos!” A persuasão que este lugar

exerce nos visitantes tornou-o um dos ex-libris

mais relevantes da cidade de Évora.

Fruto das recentes obras de requalificação que

abrangeram todos os domínios, desde o reforço

da estrutura ao restauro integral das obras de arte,

foi recuperado o espaço do antigo dormitório dos

frades onde está patente uma magnífica exposição

de arte sacra. As galerias superiores foram também

recuperadas para uma exposição de presépios,

cedida para o efeito pelo General Canha da

Silva. Do seu terraço acessível, pode disfrutar-se

duma luminosa vista sobre a cidade.

Segundo uma tradição consistente, aqui está

sepultado, em lugar incerto, o primeiro dramaturgo

português, Gil Vicente (1536).

35


Santuário Nossa Senhora D’aires

VIANA DO ALENTEJO

A pouco mais de vinte quilómetros de Évora, a

Vila de Viana do Alentejo revela-se com toda a sua

dignidade de Vila transtagana, rica de história e

de património. Nos seus arredores, transposto o

perímetro urbano, somos surpreendidos por uma

erupção de fogo branco, nascido da terra e erguido,

como um hino, pela devoção dum povo: é o

Santuário de Nossa Senhora d’Aires. Plantado na

planície, brilha como uma prece inesperada e de

uma beleza ímpar que extasia o peregrino e acolhe,

dadivoso, o visitante.

Reza a memória que um lavrador, já em tempo

de Reconquista Cristã, ao lançar o arado à terra,

encontrou uma imagem de Nossa Senhora da

Piedade de pedra de Ançã, num pote de barro. Tal

achamento foi recebido como uma bênção do céu

e sinal de protecção divina. O templo singelo, então

erguido, depressa se tornou lugar de devoção e de

peregrinações. De muitos lugares, afluíam devotos,

romeiros e peregrinos para pedir e agradecer à

Senhora d’Aires as graças do céu.

No século XVIII, sendo exíguo o espaço, o P. João

Batalha que também era arquitecto, empreendeu

a ampliação da ermida quinhentista, dando uma

configuração ao templo mais condizente com o

simbolismo do lugar. A fachada com as suas torres

sineiras não esconde a influência da arquitectura

de Mafra. De planta de cruz latina, uma só nave e

cobertura de abóbada de berço, é um templo bem

proporcionado em estilo rococó. No parecer de

muitos, um dos melhores exemplares do Rococó

ao sul do Tejo. Ao entrar, ressalta a imponência

do baldaquino de talha dourada, de generosas

dimensões, que funciona como capela-mor com

deambulatório, encimado por um resguardo envidraçado

que acolhe a imagem de Nossa Senhora

d’Aires, para a veneração dos fiéis.

Para além do constante movimento de visitantes

e peregrinos, salienta-se a romaria anual, que data

de 1748, no último fim de semana de Setembro e a

romaria a cavalo no quarto fim de semana de Abril,

que percorre a antiga canada real, ao longo de

120 Kms, desde a igreja de Nossa Senhora da Boa

Viagem da Moita do Ribatejo até ao Santuário da

Senhora d’Aires.

Nos espaços adjacentes, no piso térreo, pode visitar-se

uma impressionante mostra de ex-votos que

testemunha a devoção à Senhora D’Aires. Em preparação,

nas galerias superiores, está um núcleo

museológico que albergará o magnífico recheio

acumulado ao longo dos tempos. No seu exterior,

a fonte da Senhora d’Aires refresca os peregrinos

e continua a entoar preces ao alto nos murmúrios

das suas águas aveludadas.


Santuário de Nossa Senhora da

Conceição de Vila Viçosa

Quando um grupo de frades de Santo Agostinho

calcorreava montes e vales para escolher um

sítio para edificar um convento, deparou-se com a

beleza dum lugar onde corriam ribeiras fartas entre

generosos arvoredos. Estamos em meados do

século XIII. Vila Viçosa era só um desígnio profetizado

nos olhares daqueles frades devotos.

Após a batalha de Aljubarrota, na transição do

século XIV para o XV, o Santo Condestável edifica a

igreja da Conceição onde antes havia uma singela

ermida. Dotou-a, segundo uma tradição credível,

duma imagem da Imaculada Conceição, de pedra

de Ançã policromada, esculpida na Inglaterra e

duma Confraria que engrandecesse o seu culto e

que ainda hoje persiste.

A nobreza deste lugar ganha dimensão quando

Dom João IV, em 25 de Março de 1646, em plena

guerra da Restauração, proclamou Nossa Senhora

da Conceição de Vila Viçosa como Padroeira do

Reino de Portugal. Num gesto de devoção toda

singular, corou a imagem da Virgem com a coroa

real e nunca mais os reis de Portugal usariam coroa

nas suas cabeças. O Santuário de Vila Viçosa

passaria a ser o Solar da Padroeira e seria o palco

de muitas páginas gloriosas da história lusa.

O templo desenvolve-se numa estrutura composta

por três naves de cinco tramos, capela-mor mais

estreita, flanqueada por dois absidíolos, quatro

capelas laterais, duas sacristias e torre sineira.

À entrada da capela, também do lado esquerdo,

uma lamparina de prata oferecida pelas mães de

Portugal, é uma permanente prece à Padroeira

pelos filhos da Grei lusitana.

A imagem da Padroeira, a partir do século XVIII

começou a ser revestida com os preciosos mantos

das Duquesas e Rainhas da dinastia de Bragança,

sendo o último, o vestido de casamento da Rainha

Dona Amélia. Dois anjos tocheiros ladeiam a imagem,

em plano inferior, fazendo parte do conjunto

original oferecido pelo Santo Condestável. A sua

atitude de louvor à Virgem, evoca a devoção dos

muitos peregrinos que se dirigem a este lugar para

renovar a sua consagração a Nossa Senhora da

Conceição, Padroeira de Portugal.

37


FORÇAS ARMADAS E SEGURANÇA


Um Legado Histórico e Cultural

A Diocese das Forças Armadas e de Segurança

não deixa de cuidar, cultivar e fazer crescer um

legado histórico e cultural que vai para além da

missão de assistir os homens e mulheres ao serviço

de Portugal. Onde estão as forças armadas

e/ou as forças de segurança, aí está o Ordinariato

Castrense. Assim apresentamos uma tentativa

de representar todo o território nacional. O museu

da GNR em Lisboa e o Regimento de Guarnição

nº 1 na ilha Terceira, são dois de muitos locais a

visitar, dois locais cheios de História e histórias que

decerto farão ao visitante sentir orgulho e vontade

de honrar a nação.

Não é à toa que a invocação de Nossa Senhora do

Carmo é tão querida na Guarda Nacional Republicana.

O quartel-general da mesma está, no que um

dia foi, o Convento do Carmo em Lisboa, o que ruiu

em 1755 e nos deu a expressão “Nem que caia o

Carmo e a Trindade”.

Passa despercebido, mas ao lado da entrada para

as ruínas do convento, há a entrada para o museu

da GNR. Esta visita fará que se vislumbre o final

da vida de quem mandou construir o convento.

39


Grande devoto de Nossa Senhora, D. Nuno Álvares

Pereira ou São Nuno de Santa Maria, vive os

últimos anos de uma vida gloriosa numa cela que

pode ser visitada. Impressiona o tamanho dela.

Impressiona como o maior de um país coube em

tão pequeno espaço. É também marcante o restante

itinerário. Lá podemos ver a missão da GNR

desde a sua génese até hoje. Tomamos conta de

como foi formada e as competências que a guarda

foi tendo. Também vemos a evolução dos uniformes,

dos equipamentos, dos meios disponibilizados

em cada época. Falamos de um espólio que

remonta ao final do século XIV. Em suma, visitar

onde o anterior regime oficialmente terminou e de

onde saem diretrizes orientadoras para até as mais

remotas comunidades, faz-nos sentir a realidade

de sermos um grande organismo vivo.

Falando de comunidades remotas, damos agora

um salto até à ilha Terceira. Na cidade de Angra do

Heroísmo fica o Regimento de Guarnição nº1. Ele

é parte integrante da história nacional e dele sai

o lema da Região Autónima dos Açores – “Antes

Morrer Livres que em Paz Sujeitos”. Este lema é da

autoria de Ciprião de Figueiredo, grande apoiante

de D. António Prior do Crato, numa altura em que

só a Terceira era Portugal livre e independente.

Devido à resistência local e por conveniência

comercial, é contruído no istmo da península do

Monte Brasil a fortaleza de São João Batista. É um

monumento aos interesses do séc. XVI. Protegia

os ocupadores da nação dos locais tal como protegia

as naus na baía angrense. Posteriormente esta


fortificação serviu os interesses liberais na guerra

civil, e mais recentemente os nacionais ao albergar

em tempos distintos, tropas alemãs e aliadas.

O Núcleo de História Militar do Museu de Angra do

Heroísmo leva a cabo visitas pelos meandros da

fortaleza que outrora foi cidadela. O visitante passa

pelas muralhas, visita a cisterna, os baluartes, a

porta principal e a ponte de acesso a esta, como

também as prisões da outrora grande comunidade.

A visita também contempla a imponente igreja de

São João Batista e a sua cripta. Esta está desprovida

quase na totalidade de arte sacra muito por

causa de um incêndio. Ainda assim teve muitos

propósitos e viu o seu auge aquando do exílio de

D. Afonso VI, rei de Portugal, nesta fortaleza. Por

outras palavras, visitar o RG1 é visitar um condensado

da história terceirense.

Muitos outros locais podiam ter sido aqui referidos

e podem ser acrescentados na lista: a Tapada Nacional

de Mafra que é também património mundial

da UNESCO; o aquário Vasco da Gama em Algés –

Lisboa; e o Museu do Ar em Sintra.

41


FUNCHAL

Visitar os tesouros

da pérola do Atlântico

Entre tantos tesouros para visitar na ilha da Madeira

e do Porto Santo, podemos escolher três na

baixa da cidade do Funchal: a Sé do Funchal, a igreja

do Colégio e o Museu de Arte Sacra da Diocese.

Quem visita o centro da nossa cidade ficará sem

conhecer completamente se não entrar nestes

três espaços de beleza, de história, de arte sacra,

de silêncio e oração. Constitui um passeio muito

agradável feito todo a pé no centro da cidade, com

cafés e esplanadas, lojas e restaurantes, flores e

geladarias.

Quando D. Manuel, ainda duque, com apenas vinte

e quatro anos, sonhou a cidade do Funchal, idealizou

as estruturas que seriam necessárias para

sustentar e promover o desenvolvimento da futura

cidade e das suas gentes e, nesse sentido, mandou

edificar não apenas uma câmara, um paço para

os tabeliães, uma praça e outras estruturas, mas

também uma grande igreja no “campo do duque”,

dizendo não apenas que queria uma futura diocese,

mas que a fé era algo essencial para a contrução

e para o futuro da cidade. Em 1493, o Duque D.

Manuel, futuro rei de Portugal, determina a construção

da Sé. A nova igreja foi benzida em 1508,

ano em que a vila do Funchal é elevada à condição

de cidade. Em 12 de junho de 1514, a igreja grande

toma a dignidade de Catedral da nova Diocese do

Funchal.


A planta da Sé liga-se a uma tradição gótica mendicante,

com planta de cruz latina, com a orientação

litúrgica leste-oeste. O que chama mais a atenção

da parte exterior é a sua torre sineira, visível em

toda a cidade do Funchal, com cinquenta e cinco

metros de altura, a terminar com o belíssimo coruchéu

piramidal revestido de azulejos sevilhanos.

Podemos destacar no seu interior “manuelino” o

sacrário de prata oferecido pelo Rei D. Manuel I, os

tetos mudéjares que neste momento estão a ser

restaurados numa grande obra de conservação e

restauro e que serão, em breve, inaugurados e o

altar-mor com o cadeiral dos cónegos e retábulo. O

retábulo é constituído por cinco corpos, dispostos

em três andares e rematado superiormente por um

sobrecéu com francas afinidades com o do cadeiral,

tendo ao centro as armas de D. Manuel, ladeadas

por duas esferas armilares. O corpo central do

políptico terá sido ocupado, inicialmente, por três

conjuntos escultóricos, dos quais resta, in loco,

somente o sacrário, no corpo inferior. O corpo intermédio

está ocupado, neste início de milénio, por

uma monumental imagem da N.ª Sr.ª da Assunção

ou da Conceição, de uma oficina continental do

séc. XVIII e o registo superior foi, entretanto, preenchido

com um crucifixo, em memória do Calvário

desaparecido. O conjunto das 12 pinturas a óleo,

ao gosto flamengo, encontra-se dividido de acordo

com as orientações iconográficas religiosas então

seguidas: o primeiro registo, com cenas do Antigo

Testamento e da Paixão de Cristo; o registo médio,

com temática mariana, evocação do orago da Sé

43


do Funchal e de todas as congéneres portuguesas;

e o registo superior, as representações finais da

Paixão, com a Descida da Cruz e a Ressurreição.

Depois da visita à Sé do Funchal, o visitante poderá

percorrer a pé as ruas do centro do Funchal com

calçada portuguesa para chegar ao Museu de Arte

Sacra do Funchal. São apenas cinco minutos. É

aqui que está parte do tesouro da Sé do Funchal e

de outras igrejas da Diocese. O Museu é constituído

por coleções de pintura, escultura, ourivesaria e

paramentaria, cronologicamente datadas entre os

séculos XV e XIX. Das coleções do Museu, destaca-se

a pintura flamenga dos séculos XV e XVI, a

qual chegou à Madeira no século XVI, na chamada

época áurea da produção açucareira. Os painéis

flamengos distinguem-se não só pela sua grande

qualidade como pelas grandes dimensões, pouco

comuns nos museus da Europa. É de realçar, ainda,

a coleção de escultura flamenga, proveniente especialmente

de Malines e de Antuérpia. No núcleo de

ourivesaria, que abrange os séculos XVI, XVII, XVIII

e XIX, salienta-se a cruz processional de Água de


Pena, do século XV, uma bandeja e um cálice com

punção de Antuérpia do século XVI, assim como

uma das maiores preciosidades do Museu que é

a cruz processional, oferta de D. Manuel I à Sé do

Funchal.

Ao sair do Museu, poderá encontrar uma das mais

belas praças da cidade do Funchal, a praça do

Município ou largo do Colégio. Na praça, poderá ver

o Edifício da Câmara Municipal do Funchal, o Tribunal

e a belíssima fachada da igreja de São João

Evangelista ou igreja do Colégio, mandada construir

pelo Rei D. Sebastião para os padres Jesuítas.

É uma igreja muito simples vista do exterior, mas

é no interior que está toda a beleza que não deixa

nenhum visitante indiferente. É mesmo impressionante

toda a beleza das imagens, dos retábulos

barrocos e maneiristas, os frescos, os azulejos,

as entárcias e todo o teto com o lema dos padres

jesuítas: “Tudo para a maior glória de Deus”.

Ficam, assim, sugeridos três grandes tesouros

desta pérola do Atlântico que é a ilha da Madeira.

Haverá muito mais para o visitante descobrir, não

apenas na história e na arte, mas também no sentir

a cidade e as suas gentes, a beleza da natureza do

mar à serra, do passeio pelas levadas, do folclore à

culinária.

cónego Marcos Gonçalves

BIBLIOGRAFIA

Clode de Sousa, Francisco António, Sé do Funchal

- Guia, DRAC;

Carita, Rui, A Sé do Funchal 1514-2014, DRAC,

Funchal 2015;

Site do Museu de Arte Sacra do Funchal.

45 45


GUARDA

Santuário

de Nossa Senhora do Desterro

Segundo a tradição o aparecimento, em diferentes

locais, das imagens da Virgem, de São José e

do Menino Jesus, deram origem à construção do

Santuário de Nossa Senhora do Desterro formado

por dez capelas edificadas entre o século XVII e

XIX. Este santuário, considerado o mais célebre

das terras beirãs, ergue-se a cerca de 80 metros de

altitude, num local aprazível e de particular beleza

natural.

A Capela de Nossa Senhora do Desterro edificada

no século XVII foi totalmente reconstruída e

ampliada entre o final do século XVIII e início do

século XIX. O exterior do edifício é animado por

vários elementos de cantaria e o interior da capela

é dinamizado pela presença de mobiliário litúrgico,

que permite centrar nela as principais festividades,

com o recurso à teia comungatória, ao púlpito e ao

coro-alto. Os retábulos laterais são tardo-barrocos.

A Capela de Nossa Senhora dos Prazeres ou dos

Doutores é a mais peculiar das edificações. No que

se refere à temática encontramos eco nas palavras

de Lucas: “[o]s pais de Jesus iam todos os anos

a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele

chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o

costume da festa. Terminados esses dias, regressaram

a casa e o Menino ficou em Jerusalém, sem


que os pais o soubessem. Pensando que ele se

encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem

e começaram a procura-Lo entre os parentes e

conhecidos. Não o tendo encontrado, voltaram a

Jerusalém, à sua procura. Três dias depois, encontraram-no

no templo, sentado entre os doutores,

a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos os

quantos ouviam, estavam estupefactos com a sua

inteligência e as suas respostas. Ao vê-lo, ficaram

assombrados e sua mãe disse-lhe: “Filho porque

nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos

aflitos à Tua procura!”. (Lc 2,41-48). O episódio

encontra-se materializado num conjunto de esculturas

de dimensões avultadas.

Na Capela da Anunciação encontra-se representado

o episódio em que o anjo Gabriel é enviado

por Deus, à cidade de Nazaré, com o objetivo de

informar a Virgem que irá dar à luz um Filho. Na

Capela da Apresentação narra-se o episódio da

Apresentação do Menino Jesus no Templo. Na

Capela de Jesus no Horto ou Capela da Agonia

narra-se, segundo o Evangelho de Lucas, a Oração

de Jesus no Monte das Oliveiras onde: “[…] vindo do

céu, aparece-lhe um anjo que O confortava. Cheio

de angústia, pôs-se a orar mais intensamente, e o

suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue,

que caíram na terra” (Lc 22 ,43). Na Capela do

encontro representa-se a IV Estação da Via-Sacra

– Jesus encontra Sua Mãe. Na Capela do Calvário

está representada a XI Estação da Via-Sacra – Jesus

é cravado na Cruz. Na Capela de Nossa Senhora

da Piedade encontra-se representada a XIII

Estação da Via-Sacra – Jesus é retirado da cruz.

Do santuário fazem ainda parte a Capela de Nossa

Senhora das Dores e a Capela de Nossa Senhora

da Boa Viagem.

47 47


Igreja de São Vicente

Documentada desde o século XIII a Igreja de São Vicente

nada preserva do templo medieval. O edifício é uma

reconstrução do final do século XVIII, sob o mecenato

do prelado episcopal, D. Jerónimo Rogado do Carvalhal

e Silva. No exterior do templo destaca-se o portal sobre

o qual se encontra colocada a pedra de armas do responsável

pela reedificação. No interior da igreja, à tonalidade

aurifulgente da talha, executada no século XVIII,

contrapõe-se a sobriedade cromática da série de painéis

de azulejos figurados setecentistas, onde se expõem

cenas da Paixão de Cristo, na capela-mor, e cenas da

vida de Nossa Senhora no corpo da igreja. Estes painéis

azulejares são atribuídos a Salvador de Sousa Carvalho

(ca. 1727-1810), artista nascido em Lisboa, uma figura

marcante na produção azulejar coimbrã da segunda metade

de setecentos. Os painéis, na sua dimensão maior,

ao centro, atingem os 26 azulejos de altura e são envolvidos

por uma densa e exuberante decoração, animados

por concheados volumosos e sinuosos rococós, com

pintura em tons de azul mais carregado na cercadura

e mais ténue ao centro, avivados, no enquadramento,

com marmoreados amarelos e manganês, aparecendo,

na parte superior a compor todo o conjunto, “coroamento

de flores e folhagens verdes de cobre”1. Na parte

inferior, uma cartela, tipicamente rococó, centra toda a

composição.

Capela-mor

Os painéis desenrolam-se segundo uma sequência

lógica.

• Flagelação

• Símbolos da Paixão - no lado do Evangelho e da Epístola

• Coroação de espinhos

• Pilatos e Cristo - Ecce Homo

• Queda de Jesus no caminho do Calvário

• Porta em Tromp l’oeil

Corpo da igreja

No corpo da igreja, os painéis são idênticos aos da capela-mor,

atingindo em altura 26 azulejos com o mesmo

tamanho.

Repetem, nos enquadramentos que envolvem as partes

decorativas, os mesmos elementos concheados de contorno

irregular. A parte figurativa é de temática mariana

e podemos observar:

• Nossa Senhora apresentada no Templo

• Casamento de Nossa Senhora

• Anunciação

• Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel

1

SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no século XVIII. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, p. 78.

• Nascimento de Jesus

• Adoração dos Magos

• Fuga para o Egipto

• No Batistério: O batismo de Jesus, São Francisco e

São Jerónimo

Capela do Batistério

O batistério da Igreja de São Vicente surge como um

edifício independente, de planta centralizada e com a pia

batismal em pedra elevada sobre uma coluna. O batistério

também tem cerca de 390 azulejos do mesmo tipo,

com a representação do Batismo de Cristo. No batistério,

ainda, e interrompendo o painel de azulejos do lado

esquerdo, onde se vê representado São Jerónimo, um

dos patronos do bispo construtor, lê-se a seguinte legenda,

coeva da edificação:

“IN HOC BAPTISTERIO NOMEN ACCEPIT

HIERONYMUS EPISCOPUS EGITANIENSIS

CUJUS OPE ECCLESIA ISTA AFUNDAMENTIS

REEDIEICATA FUIT ANNO MDCCLXXXX”

NESTE BATISTÉRIO RECEBEU O NOME JERÓNIMO

BISPO DA GUARDA, A CUJAS ESPENSAS ESTA IGREJA

FOI REEDIFICADA DESDE OS FUNDAMENTOS

NO ANO DE 1790

Igreja de São Vicente

Localização: Guarda, Rua Francisco dos Passos

Tutela: Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de São

Vicente


Igreja Matriz de Vinhó

O Convento da Madre Deus foi mandado edificar em

1567 pelo cavaleiro Francisco de Sousa e sua mulher,

Dona Antónia, para recolhimento de Freiras Clarissas.

Do primitivo templo subsiste a igreja de nave única e

o portal lateral que era o primitivo acesso à entrada

principal da igreja, utilizado pelas clarissas, e sobre o

qual foi colocado a pedra de armas dos fundadores. No

interior, assistimos à integridade entre a talha e a pintura

de caixotão, sendo a abóbada da nave o prolongamento

dos retábulos de Estilo Joanino e a abóbada da capela-mor

o prolongamento do retábulo de Estilo Nacional.

O retábulo do Evangelho recebe uma pintura do século

XVI (?). O arco triunfal é totalmente revestido a talha,

tendo no fecho as insígnias da Ordem Franciscana:

dois braços estigmatizados o da dextra sobreposto e

nu, o da sinistra sotoposto e vestido de “burel”. Aquelas

armas têm origem na bênção dada por São Francisco

na hora da sua morte aos frades que haviam aderido ao

seu modo de vida; naquele momento o Santo cruzou os

braços e estendeu por cima deles a cruz assim formada,

benzendo-os a todos, presentes e ausentes, em poder e

nome de Cristo. “O braço nu alude pois a Cristo, em cujo

nome se realizou a bênção por intermédio de Francisco,

e encontra-se sobreposto para assinalar a Sua primazia.

O braço vestido de burel identifica o santo fundador da

Ordem, uma vez que este tecido havia sido escolhido

para a composição do respetivo hábito em sinal de despojamento,

de humildade e de sacrifício, pois tratava-se

do tecido mais rude, mais barato e menos confortável.

Ambos os braços apresentam mãos com chagas: a de

Cristo alude naturalmente à crucificação; a de Francisco

aos estigmas.”1. Os caixotões executados no final do

século XVII foram pintados com narrativa hagiográfica

e bíblica. No interior da igreja encontramos, ainda,

a Capela do Menino Jesus da Tia Baptista “[…] FEITA

DAS ESMOLAS DOS DEVOTOS E DA DIVISA O MENINO

JEZUS DA TIA BAPTISTA DO CEU NO ANNO DE 1773.”

Esta capela é decorada com retábulo de talha e painéis

azulejares setecentistas, onde se expõem cenas da

vida de Nossa Senhora e do seu Filho - a Anunciação, o

Nascimento de Jesus, a Adoração dos Reis Magos e a

Circuncisão, referida no Evangelho de Lucas (Lc 2, 21).

Localização: Gouveia, Vinhó, Adro do Convento.

Tutela: Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de

Vinhó.

1

http://www.academia.edu/7840267/Her%C3%A1ldica_franciscana

[consultado a 7 julho 2021].

49


LAMEGO

Hoje como ontem ao serviço da Fé

Os santuários são lugares ao serviço da fé, onde

ecoa e se oferece o Evangelho de Cristo. Testemunhas

de uma tradição de oração, de conversão,

de cura da alma e também do corpo, bem como

do reconhecimento de graças recebidas. Ali, onde

o peregrino se junta à procissão de quantos o

precederam e se integra no processo solidário de

um povo crente e grato, aberto e disponível aos

apelos do Senhor da história. Apesar das diferentes

origens e especificidades, da história que encerram

e das circunstâncias do seu desenvolvimento, cada

santuário testemunha a maneira como Deus vem

até nós e se integra na vida de um povo.

O tempo que aí vivemos transforma-se numa paragem

consagrada. Podemos chegar como visitantes

ou como peregrinos, sozinhos, em grupo ou em

família, movidos pela curiosidade cultural, por um

impulso espiritual ou atraídos pela história. Para

todos, os santuários surgem como ocasião de pausa

e de repouso interior que favorecem o acesso à

fonte da vida que sacia e renova (Diretório sobre a

piedade popular e a Liturgia, n.º 263).

A exemplo do que acontece noutras Igrejas locais,

também a diocese de Lamego olha com atenção

para os seus santuários, “memória, presença e

profecia do Deus connosco” (O Santuário, Cons.

Pont. Pastoral dos Migrantes e Itinerantes). Na

impossibilidade de referir todos, aqui se deixam

algumas palavras sobre três destes espaços eclesiais:

Nossa Senhora da Lapa (Sernancelhe), Nossa

Senhora dos Remédios (Lamego) e Santa Eufémia

(Penedono).

Texto: Joaquim Dionísio


Santuário de Nossa Senhora da Lapa

Situado na freguesia de Quintela, concelho de Sernancelhe,

diz a lenda que uma pastorinha, Joana,

muda de nascença, encontrou uma imagem da Virgem

escondida na fenda de um grande penedo, em

1498, que ali teria sido colocada por umas religiosas

que fugiam das tropas de Almançor, nos finais

do século X. A devoção e o carinho da menina pela

imagem, que a mãe queria destruir, valeram-lhe o

dom da fala.

A notícia do milagre rapidamente se espalhou e

motivou a afluência de devotos, fazendo do lugar

um destino de peregrinações e de celebração da fé.

Em 1576, a Lapa foi confiada aos Padres da Companhia

de Jesus e foram eles que contribuíram decididamente

para o actual Santuário da Lapa, construindo

a igreja e um edifico contíguo, o “Colégio”,

bem como para a expansão do culto à Senhora da

Lapa por terras onde a missão dos Jesuítas decorria.

Aqui ficaram até à sua expulsão, em 1759.

A devoção à Senhora da Lapa sempre motivou peregrinações

e são muitas as marcas existentes nos

caminhos que ainda hoje se percorrem. Anualmente

concretizam-se três grandes peregrinações: no

dia 10 de junho, no dia 15 de agosto e no terceiro

domingo de Setembro, sendo que as duas primeiras

são antecedidas de uma novena preparatória.

51


Nossa Senhora

dos Remédios

A cidade de Lamego viu nascer e crescer este belo

santuário, sem dúvida o mais conhecido da nossa

diocese e aquele que, certamente, mais visitantes

acolhe. E se tal acontece ao longo do ano, muito mais

visível se torna por alturas das festas da cidade, nos

últimos dias de agosto e primeiros de setembro.

De acordo com a informação disponibilizada, este

santuário começou a ser construído em 1750, para

ser terminado em 1905, ocupando o monte onde

existiu, desde o século XIV, uma capela dedicada a

Santo Estêvão. No século XVI, esta capela ameaçava

ruína e foi mandada construir uma nova igreja,

pelo bispo da cidade, onde foi colocada também

a imagem da Virgem com o Menino ao colo. Com

o tempo, a devoção a Santo Estêvão foi decaindo

e cresceu a dedicação à Virgem, destinatária das

preces de quem padecia de males e necessitava

de ajuda, venerada e invocada como a Senhora dos

Remédios.

A grande festa anual acontece no dia 8 de Setembro,

antecedida de uma novena que os devotos

cumprem às primeiras horas do dia e para a qual

se dirigem ainda noite.

A par do templo que se avista ao longe, merece

também destaque a escadaria de acesso ao santuário,

com 686 degraus, com vários patamares

e muitos pormenores a que vale a pena atender e

um agradável parque circundante onde a natureza

se oferece reconfortante e convidativa para nos

aproximarmos da Mãe.


Santa Eufémia

Por terras de Penedono, do célebre “Magriço”,

ligando as zonas do Douro e da Serra, num vasto e

aprazível espaço, encontramos o santuário dedicado

à virgem e mártir Sta. Eufémia.

A capela actual foi construída nos inícios do século

XIX, mas já em 1758 o pároco referia a existência

do culto local à imagem de Sta. Eufémia, “uma das

maiores devoções que há nestas vizinhanças, por

quanto em todo o circuito do ano há muita concorrência

de romagem de freguesias muito distantes e

remotas, aonde todo o género de males por virtude

da mesma Santa se extinguem”.

A sua festa, que congrega muitos fiéis da região,

realiza-se em Setembro, dia 16, antecedida de uma

novena.

Resta convidar os nossos leitores a peregrinarem

até estes espaços, a descobrirem estas e outras

realidades que nos esperam e, sobretudo, a experienciarem

a proximidade com o Senhor.

A propósito dos santuários, podemos descrever

o que os olhos veem ou o que o coração sente,

registar preces e graças recebidas, os grupos e

as pessoas que passam, mas nunca poderemos

registar as experiências espirituais dos que ali chegaram,

as mudanças operadas nas vidas de quem

dali partiu ou os frutos das sementes ali lançadas.

Porque há registos e histórias que só Deus conhece.

53


LEIRIA FÁTIMA

Leiria-Fátima: beleza e arte

além do santuário da Cova da Iria

Marco Daniel Duarte

Diretor do Departamento do Património Cultural da

Diocese de Leiria-Fátima

Foto: Diocese de Leiria-Fátima


Constituída como território diocesano autónomo

em 1545, as comunidades cristãs que habitaram

os confins da diocese de Lisboa e da diocese de

Coimbra construíram lugares de culto para os

quais procuraram os cuidados da arte, legando ao

património artístico nacional edifícios de eleição

que merecem essa demorada visita que proporcione

a experiência que a Igreja tanto tem recomendado

para os dias de descanso: a contemplação

estética na senda da chamada ‘via pulchritudinis’

(via da beleza).

Este caminho pode fazer-se quer a partir dos

lugares de maior monumentalidade (Mosteiro da

Batalha, Catedral de Leiria, Santuário do Senhor

dos Milagres, Santuário de Fátima) quer nos lugares

menos frequentados pelos turistas e que, não

obstante, são clarividente espelho do que o génio

humano soube fazer de melhor em cada época.

Encontram-se neste último caso, por exemplo, o

Santuário de Nossa Senhora da Encarnação, porventura

mais conhecido, mas também igrejas menos

conhecidas como são a da Paróquia de Santa

55


Eufémia ou a Igreja não paroquial da Golpilheira,

exemplos de arquitetura contemporânea que se

mostram igualmente denunciadores dessa atitude

de busca do belo, de acordo com os cânones de

cada época.

Construído a partir de um milagre atribuído à

Virgem Maria sob o título de Nossa Senhora da

Encarnação, a igreja do santuário leiriense coroa

um promontório, o que veio a ficar ainda mais

assinalado pelo escadório construído no século

XVIII, configurando a ambiência de sacromonte tão

típica dos santuários da Idade Moderna. Passada

a galilé que se mostra bem típica dos lugares

de peregrinação, a igreja mostra no seu interior

várias peças que merecem detença: a azulejaria

de padrão do século XVII, as pinturas do ciclo da

vida da Virgem, a alegoria pictórica à Imaculada

Conceição, no arco triunfal, a retabulária do século

XIX e a imagem de Nossa Senhora da Encarnação,

uma das mais belas peças da escultura devocional

neoclássica que o património nacional conhece.

Entre os bons exemplares de arquitetura do século

XX na Diocese de Leiria-Fátima, encontra-se a Igreja

de Santa Eufémia, construção datada de 1968

e assinada por João Mota Lima. Exemplo acabado

do que são as preocupações do II Concílio do

Vaticano e, bem assim, da teoria que na época os

arquitetos tomavam sobre a materialidade dos

edifícios, a igreja apresenta-se na honestidade dos

materiais (tijoleiras, cimentos, madeiras) e reveladora

dos primeiros ensaios relativos a uma nova

espacialidade no que respeita à arte de celebrar.

Mostra também este templo o cuidado em agregar

ao projeto a excelência do traço escultórico (na

fachada da igreja e no batistério) e pictórico (na tapeçaria

da Última Ceia do presbitério) de Joaquim

Correia.

Espaço transfigurado pelos cuidados da arte é

ainda a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, da

comunidade cristã da Golpilheira (Paróquia da

Batalha). Sendo uma igreja dos finais da década de

50, incaracterística do ponto de vista artístico, viu

o seu espaço interior profundamente remodelado

através do projeto de Humberto Dias e Pedro Gândara.

Os vãos do templo beneficiaram de um am-

Foto: João Alves da Cunha

Foto: Diocese de Leiria-Fátima


plo programa iconográfico em torno do orago da

igreja — Nossa Senhora de Fátima — e da relação

da mensagem de Fátima com o Calvário de Cristo,

o que resultou na transfiguração do espaço através

dos vitrais assinados por Sílvia Patrício (execução

do Atelier Vitrais Portugal), entre 2020 e 2021.

Estes planos de luz e de cor merecem uma viagem

ao pequeno lugar da Golpilheira, porquanto farão

com que o viajante se eleve nessa trajetória rumo

à beleza sempre antiga e sempre nova, no dizer de

Santo Agostinho, um dos padroeiros da diocese de

Leiria-Fátima.

Foto: Luís Ferraz

57


LISBOA

“Redescobrir lugares ou histórias

que se encontram escondidas”

A pandemia “não nos pode paralisar ou privar-nos

de uma visão positiva para o futuro”, é uma das

principais frases que se pode ler na mensagem

para o 41º Dia Mundial do Turismo. Com uma drástica

diminuição da mobilidade, o turismo, um dos

segmentos da sociedade mais afetados, não pode

ficar paralisado e temos que aproveitar esta crise

pandémica, como nos recorda o Papa Francisco,

para descobrir ou até mesmo redescobrir lugares

ou histórias que se encontram escondidas ou

menos conhecidas. É com este convite que neste

momento trabalhamos através do projeto QUO VA-

DIS LISBOA (www.quovadislisboa.com) na conso-


lidação de novas rotas, itinerários e visitas guiadas

de locais ou caminhos menos conhecidos.

Exemplo disso é a ‘Rota de Santo António em

Lisboa’, onde se visita às 10h00, no segundo sábado

de cada mês, as já muito conhecidas Igreja

de Santo António, Sé de Lisboa, Mosteiro de São

Vicente de Fora, mas foram introduzidas nesta rota

duas outras igrejas menos visitadas e com grande

valor histórico e religioso, como são as Igrejas de

São João da Praça e do Vale de Santo António. Em

parceria também com o Museu de Lisboa – Santo

António, neste momento encontramo-nos também

a preparar várias atividades culturais para assinalar

o dia de nascimento de Santo António, “tradicionalmente”

celebrado a 15 de agosto, na solenidade da

Assunção de Nossa Senhora, onde destacamos

a ‘Missa Fadista – Fados ao Santo António’, que

contará com a presença dos fadistas, Célia Leiria e

José Quaresma.

De maio até outubro recordamos as aparições de

Nossa Senhora na Cova da Iria através da nossa

visita à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, uma

visita guiada denominada ‘Arte e Fé na Igreja de

Nossa Senhora de Fátima’ e que se realizar-se

todos os 3º sábados de cada mês às 17h30. A

Igreja de Nossa Senhora de Fátima, dedicada a 13

59


de outubro de 1938, 21 anos após a última aparição

da Virgem na Cova da Iria, apreciar a extraordinária

conjugação entre a arte e a espiritualidade

cristã através dos vitrais de Almada Negreiros;

dos frescos do arco triunfal de Lino António e da

imagem de Nossa Senhora de Fátima de Leopoldo

de Almeida.

Em parceria Departamento de Cultura da SCML

realizamos todos os meses os ‘Itinerários da Fé’

nos seu Percursos na Mouraria, Baixa e Chiado

que se realizam às 10h00 no 1º, 3º e 4º sábado de

cada mês, respetivamente. Os participantes são

convidados a fazer um percurso pedestre, pelos

principais bairros históricos da cidade de Lisboa,

tendo em conta a dimensão arquitetónica e histórica

no seu diálogo com a Fé cristã.

Neste momento, o turismo pode e deve “converter-

-se num instrumento de proximidade” recorda-nos

o Papa Francisco, por isso, temos aproveitado este

momento que nos encontramos, para potenciar

uma interação positiva com as várias instituições

da cidade Lisboa e paróquias, para que todas as

nossas propostas culturais sejam valorizadas no

cuidado pelo acolhimento e acompanhamento de

todos.

Departamento de Turismo do Patriarcado

de Lisboa


61


PORTALEGRE-CASTELO BRANCO

Santuário

de Nossa Senhora de Mércoles

A Ermida de Nossa Senhora de Mércoles é um

pequeno santuário que dista cerca de três quilómetros

da cidade de Castelo Branco. Em ambiente

rural, num local onde abundam oliveiras e azinheiras,

foi construído o pequeno templo, que ao longo

dos tempos sofreu algumas alterações.

Traz-nos a tradição que terá sido construído sobre

um templo pagão possivelmente dedicado a Mercúrio.

Em toda a zona circundante têm sido encontrados

vestígios arqueológicos da época romana.

Atribui-se aos cavaleiros da Ordem do Templo a

sua fundação no século XII. O local teria sido pre-


ferido, pela descoberta de uma imagem de Santa

Maria que aparecera numa azinheira.

Os elementos góticos da ermida fazem parte de

uma campanha de obras de finais do século XIV e

que terá substituído a primitiva construção românica.

É da época medieval que resultará a construção

da capela-mor, com elementos tardo-góticos;

o portal principal em ogiva que revela capitéis

decorados com motivos vegetalistas, e também as

portas laterais e o arco triunfal mostram perfis em

flecha que remetem para este período de reconstrução

da igreja.

O programa decorativo da ermida, sobretudo as

pinturas murais, são quinhentistas, nos inícios do

século seguinte, a igreja é enriquecida com revestimento

azulejar e três retábulos em talha dourada.

No lado esquerdo da capela a enquadrar o adro,

existe um edifício que corresponderia às antigas

casas dos romeiros.

63


Igreja Matriz de Nossa Senhora da

Conceição de Arronches

A Igreja Matriz de Arronches, dedicada a Nossa

Senhora da Assunção, situa-se no centro da Vila de

Arronches, no local de maior nobreza.

Este belo templo foi construído sobre uma igreja

do século XIII pertencente ao Mosteiro de Santa

Cruz de Coimbra, tendo lançado a sua primeira

pedra a vontade de D. Teotónio, prior do Mosteiro.

A construção da atual igreja, iniciada no período do

gótico final e ao gosto manuelino, situa-se entre os

finais do século XV e os inícios do XVI. As alterações,

sofridas posteriormente revelam-se unicamente

na sua decoração interior.

A fachada, num plano mais elevado, impõe-se pela

grandeza e beleza da sua arquitetura, a que se

acede por uma escadaria.

A entrada evidencia o portal renascentista, talhado

em mármore pelo escultor Nicolau Chanterene.

Este desenvolve-se em arco pleno com duas pilastras

que suportam um entablamento reto, encimado

por um frontão triangular e coroado com um

pináculo. O mesmo apresenta dois medalhões, de

grande beleza, contendo bustos esculpidos de uma

mulher e um homem. O arco é ainda, decorado por

oito caras de anjos aladas.

As fachadas laterais ostentam dois portais manuelinos,

um deles também com decoração.

O interior da igreja desenvolve-se em três naves,

constituindo um belo e significativo exemplar das

igrejas-salão portuguesas. A amplitude do espaço

é transmitida pela cobertura de abóbadas ogivais

nervurada e sustentadas por colunas com o fuste

em mármore róseo. As abóbadas são decoradas

com variados motivos manuelinos - armas reais,

Cruz de Cristo, esferas armilares, cordas, nós de

marinheiro…

Na capela-mor, impõe-se um retábulo do século

XVIII, executado em mármores de Estremoz e uma

imagem barroca da padroeira, Nossa Senhora da

Assunção.

Evidenciam-se também azulejos dos séculos XVI e

XVII e um lavabo do século XVIII, com dois golfinhos

e um nicho quinhentista com um anjo.


Igreja Matriz de São Vicente

de Abrantes

A igreja matriz de São Vicente destaca-se pela sua

implantação numa plataforma elevada na zona

norte da cidade de Abrantes.

A primitiva igreja foi fundada em 1149, após D.

Afonso Henriques ter tomado o castelo da Vila, tendo

sido dedicada ao mártir São Vicente. Em 1179,

o exército mouro arrasou a vila e a igreja seria

reconstruída posteriormente.

No século XVI, D. Sebastião ordenou a sua reedificação.

A obra da nova igreja teve início em 1569,

estando a mesma a cargo dos oficiais dos estaleiros

do Convento de Cristo de Tomar, que também

edificaram as capelas laterais.

A igreja é de planta retangular, de três naves com

capelas laterais e capela-mor na cabeceira.

A fachada tem um portal maneirista em arco pleno,

com uma formulação de gosto classicista. Encimando

o portal, tem ao centro um óculo que foi

reduzido e permite a entrada de luz natural.

Evidenciam-se os painéis de azulejo seiscentistas

azuis e amarelos, que revestem o interior com

temáticas referidas ao seu padroeiro, São Vicente.

Na capela-mor, ao centro, lugar de convergência de

todo o espaço, podemos ver um retábulo de talha

com tribuna.

A igreja de São Vicente de Abrantes guarda também

um conjunto significativo de património móvel

artístico, deslocado dos vários conventos que

houvera na Vila e que foram extintos.

65


PORTO

Rota do Românico

O Centro de Interpretação do Românico (CIR), promovido

pela Rota do Românico, abriu ao público no dia 27

de setembro de 2018, na vila de Lousada, Porto.

O projeto expositivo deste grande equipamento de

divulgação do património histórico-cultural distingue-

-se pelo arrojo da sua arquitetura contemporânea, mas

igualmente pelas múltiplas experiências interativas

proporcionadas pelos seus conteúdos museográficos.

Para além dos espaços de receção, cafetaria e biblioteca,

o CIR é constituído por uma superfície expositiva

de cerca de 650 metros quadrados, distribuída por um

amplo átrio central e por seis salas temáticas: Território

e Formação de Portugal; Sociedade Medieval;

O Românico; Os Construtores; Simbolismo e Cor; Os

Monumentos ao longo dos Tempos.

O CIR perfila-se, assim, como o cenário ideal para

iniciar a viagem de descoberta da Rota do Românico

e do seu território de influência, bem como da arte e

simbolismo que marcaram Portugal e a Europa durante

vários séculos da Idade Média.


A época de verão é marcada, em todo o País, por

uma crescente afluência às áreas naturais e protegidas.

No sentido de sensibilizar os visitantes, a

Rota do Românico juntou-se a 11 redes de turismo,

de Norte a Sul de Portugal, para assinar um convite

a uma viagem responsável.

Aproveitando uma iniciativa do Turismo de Portugal,

que uniu várias redes colaborativas de turismo,

a Rota do Românico juntou-se a estas entidades

para reforçar o convite a uma viagem responsável,

agora numa escala nacional.

Em conjunto com a ADERE Peneda-Gerês, Aldeias

de Montanha, Aldeias do Xisto, Aldeias Históricas

de Portugal, Heranças do Alentejo, Lugares da

Serra Alentejana, Montanhas Mágicas, Geopark Naturtejo,

Rota da Terra Fria Transmontana, Termas

67


Centro e Rota Vicentina, a Rota do Românico quer

trabalhar uma literacia para a sustentabilidade,

assente em toda a ideia de colaboração, quer internamente

através das redes de turismo de Portugal,

quer através do apoio dos turistas.

Abastecer-se com produtos locais, deixar menos

lixo do que encontrou, respeitar os ritmos de vida

locais, investir o valor justo pela qualidade, procurar

informações sobre a região e as suas particularidades

e não sobrecarregar locais sensíveis são

alguns dos conselhos a guardar.

Durante o mês de agosto, estas redes de pessoas

e territórios irão mostrar – através das redes

sociais – que o futuro do turismo está na preservação

da natureza e da cultura local. Afinal, sem

natureza não há Turismo de Natureza, e são as

pessoas (que recebem e visitam) que a podem

preservar.

Em todo o país, são muitas as redes que agregam

agentes turísticos – e, em vários casos, entidades

públicas e comunidades locais – que desenvolvem

ações de levantamento, estruturação de produto

e promoção do território. Mas, as realidades são

mesmo muito distintas e cada rede trabalha o conjunto

de desafios que melhor servem as necessidades

do respetivo território, estrategicamente e em

cada momento. É esta a grande mais-valia destas

redes, serem estruturas mais orgânicas e próximas

dos lugares e das pessoas, mais ligadas ao que

realmente importa.

A Rota do Românico reúne, atualmente, 58 monumentos

e dois centros de interpretação, distribuídos

por 12 municípios dos vales do Sousa, Douro e

Tâmega (Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico

de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco

de Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel

e Resende), no Norte de Portugal.

As principais áreas de intervenção da Rota do

Românico abrangem a investigação científica, a

conservação do património, a dinamização cultural,

a educação patrimonial e a promoção turística.


69


SANTARÉM

“Capela dourada” de Santarém

A Capela dos Terceiros de São Francisco, vulgarmente

designada por Capela Dourada, é um pequeno

edifício anexo à Igreja do Convento de Nossa

Senhora de Jesus do Sítio (Monumento Nacional),

sede da Venerável Ordem Terceira de Franciscanos

Seculares, fundada em 1666.

Fruto de consideráveis esmolas por estes concedidas

pelos irmãos, o interior desta capela reuniu um

notável programa decorativo, composto por azulejos,

pinturas sobre tela, talha e escultura dourada

e policromada, tornando-se o único sobrevivente e

mais emblemático exemplo de “obra de arte total”

em Santarém.

Para além da composição artística do interior, que

contrasta com a simplicidade arquitetónica do

exterior, o conjunto de obras de arte em presença

funciona como uma perfeita catequese franciscana,

que se constrói a partir de duas linhas de apresentação.

No primeiro nível, um belíssimo silhar

de azulejos (1717), onde se observam momentos

da vida de São Francisco de Assis. No nível superior

encontra-se um ciclo pictórico constituído por

catorze pinturas sobre tela do final do século XVII

emolduradas por largas estruturas de madeira en-


Fachada da Igreja de Jesus Cristo onde se observa, anexa lateralmente, a Capela Dourada.

talhada, dourada e policromada. Aqui se apresenta

o incontornável testemunho de vários Terceiros

Franciscanos.

Observam-se ainda 3 retábulos em talha Estilo Nacional,

destacando-se no principal uma escultura

de Cristo crucificado enquadrada por painel representando

a cidade de Jerusalém.

Em 2020 e 2021, a Capela Dourada pode receber

uma significativa campanha de conservação e

restauro - promovida pela Santa Casa da Misericórdia

de Santarém e financiada pelo Fundo Rainha D.

Leonor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

em parceira com a União das Misericórdias Portuguesas-,

a qual permitiu devolver, ao conjunto

patrimonial, a dignidade e fruição que há muito

reclamava.

A Capela está acessível através da visita à Igreja de

Jesus Cristo.

Vista geral do interior da “Capela Dourada”.

71 71


Falcoaria real

de Salvaterra de Magos

A história da Real Falcoaria de Salvaterra está

intimamente associada à história do Paço Real –

Casa de Campo da Coroa – que, com o passar do

tempo, transformou a nobre vila ribatejana num

importante centro da vida social e artística da

corte portuguesa. O período de maior ascensão da

Falcoaria (considerada a mais nobre das artes cinegéticas)

dá-se em 1752 com a chegada de uma

dezena de falcoeiros holandeses de Valkenswaard,

para ensinar esta arte.

A Falcoaria Real de Salvaterra de Magos data do

século XVIII. O edifício, que contou com orientações

do arquiteto Carlos Mardel, apresenta influências

das falcoarias holandesas de Setecentos,

constituindo um exemplar único na Península

Ibérica.

Atualmente, o visitante pode inteirar-se um pouco

mais sobre o quotidiano destas aves em cativeiro,

onde se reúnem as condições ideais para o seu

bem-estar, respeitando o seu lado selvagem.

A Falcoaria possui várias peças multimédia que

permitem, através da interatividade dos visitantes,

a exploração de novos conteúdos. Possibilita o

visionamento de filmes sobre a biologia das aves,

explorar galerias de pinturas e fotografias, jogos

virtuais onde o visitante assume o papel de falcão

que procura as aves de presas.

Durante a visita tem ainda a possibilidade de descobrir

o mundo da Falcoaria desde o Neolítico até

aos nossos dias, os motivos que conduziram ao

aparecimento desta arte, bem como, a sua importância

na Vila de Salvaterra de Magos.

É possível observar o treino das aves e assistir à

demonstração de voo em liberdade, onde as protagonistas

mostram toda a sua perícia, na tentativa

de capturar a “Falsa Presa” lançada pelos falcoeiros,

responsáveis pela sua aprendizagem - adestramento.

(texto e fotos retirados do site

www.falcoariareal.pt)


Salinas de Rio Maior

(texto retirado do site www.turismoriomaior.pt)

As Salinas encaixam-se num vale tifónico no sopé

da Serra dos Candeeiros que, dada a sua natureza

calcária, é possuidor de inúmeras falhas na rocha o

que faz com que as águas da chuva não fiquem à

superfície, formando cursos de água subterrâneos.

Uma dessas correntes atravessa uma extensa e

profunda jazida de sal-gema que alimenta o poço

que se encontra no centro das Salinas, e de onde

se extrai água sete vezes mais salgada que a do

mar.

Rodeadas de arvoredo e terras de cultivo são consideradas

uma maravilha da natureza, uma vez que

o mar fica a 30 km.

O conjunto apresenta-se como uma minúscula

aldeia de ruas de pedra e casas de madeira, junto à

qual se destacam uns curiosos tanques de formas

e dimensões irregulares, que a partir da Primavera

se enchem de água salgada dando origem a alvas

pirâmides de sal.

Classificadas como Imóvel de Interesse Público

desde Dezembro de 1997, estas são as únicas Salinas

interiores existentes em Portugal, e as únicas

que se encontram em pleno funcionamento na

Europa. A primeira referência à sua existência data

de 1177, mas pensa-se que o aproveitamento do

sal-gema já seria feito desde a Pré-história.

Constituem assim um museu vivo onde os métodos

de exploração pouco evoluíram ao longo dos

seus 8 séculos de história, o que confere ao local a

singularidade que o caracteriza.

Aqui se produz Sal puramente biológico, e a sua

elevada qualidade deve-se à referida ausência de

quaisquer aditivos ou tratamentos químicos.

73 73


SETÚBAL

Igreja de Santo Isidro – Pegões (Montijo)

Na Herdade que fora de Rovisco Pais, em 1937/38

nasce o projecto de colonização interna de Pegões

Velhos.

Da autoria do arquitecto Eugénio Correia, são o

núcleo arquitectónico principal formado pelas habitações

rurais e igreja.

Este conjunto insere-se assim, na lógica da arquitectura

moderna preconizada pelo Estado Novo,

com tendências geometrizante e uso de betão. Há

também aqui o uso de novos materiais e experiências

construtivas, com vista a alcançar-se edifícios

funcionais e monumentais.

Naquela que é considerada a melhor experiência

de colónia agrícola, insere-se esta igreja, onde subsiste

a linguagem da arquitectura gótica expressa

no movimento modernista que a cria. Com torre

sineira abrigo de cegonhas, a cobertura verga-se

até ao chão envolvendo todo o edifício como de

uma capa se tratasse cobrindo a estrutura.

A igreja é de uma única nave de modestas dimensões,

com abóboda. A capela baptismal à esquerda,

o coro alto e a abside, são os poucos elementos

deste templo. Todo o presbitério é dominado

pela “pintura a fresco” da autoria de Portela Júnior,

datada de 1953, alusiva ao milagre de Santo Isidro.

A sacristia, como como salas anexas, seguem a

estrutura e molde da própria igreja.


75 75


Igreja de São Pedro – Palmela

A Igreja de São Pedro e a Igreja de Santa Maria do

Castelo têm tido um papel primordial na génese da

Vila de Palmela, sede da Ordem de Santiago entre

os séculos XII e XIX (1834), data da extinção das

Ordens Religiosas em Portugal.

Edifício já mencionado em documento de 1412,

a actual igreja de São Pedro em Palmela sofreu

grandemente com diversas ocorrências ao longo

dos séculos.

Em 1713 um grande incêndio provoca grandes

estragos, dando origem a uma campanha decorativa

ainda hoje bem presente. As paredes são

forradas quase na totalidade a azulejo, destacando-se

os painéis seriados de padrão de “tapete” do

séc. XVIII, com albardas e figuras de gosto joanino

na sacristia e os painéis historiados com a vida de

São Pedro no corpo da igreja, com molduras que

ajudam a criar a fantasia própria do barroco, na

qual se quer envolver os fiéis que rezam. Apesar de

não identificado o seu autor, estima-se que esteja

entre os anos 1730 e 1740.

O terramoto de 1755 teve grande impacto em

Palmela, sendo a Igreja de Santa Maria do Castelo

datada de grande ruína, irreparável até aos nossos

dias, e a Igreja de São Pedro, de danos, sobretudo

na zona da capela-mor, procedendo-se a novas

remodelações, dando origem às grandes telas, hoje

aí presentes. Por esta razão aquilo que hoje contemplamos

é uma construção edificada pós-terramoto,

em planta basilical clássica, com fachada

axial ladeada por duas torres sineiras simétricas,

coroadas por cúpulas bulbosas.

No seu interior predomina o barroco-rococó e o

neoclássico, ainda que se note a traça maneirista

subjacente. As três naves, individualizadas por colunas

são cobertas por um formoso tecto de madeira

pintado em trompe-l’oeil, com a intenção de eliminar

as fronteiras e sugerir o infinito para a qual a igreja

peregrina que o contempla se encaminha.

Nos altares barrocos predomina a estrutura e

decoração neoclássica, com a presença de elementos

como como a asa de morcego, elementos

vegetalistas e concheados soltos, com elementos

justapostos à estrutura; talha onde se assiste à

absorção de elementos neoclássicos, imitação da

policromia e a textura dos mármores acentuadamente

rococó.

Destacam-se algumas esculturas de grande importância,

como São Tiago Maior, provavelmente da

génese da Igreja, São Jerónimo, escultura de um

Santo não identificado, em pedra, de proveniência

provável da Igreja de Santa Maria, entre outros.


Capela Nosso Senhor do Bonfim – Setúbal

A expressão “pequena arca do tesouro”, é a que

melhor define a pequena Capela de Nosso Senhor

do Bonfim, na cidade de Setúbal. A singeleza exterior,

de panos lisos, onde ressalta a torre, não diz a

exuberância interior.

A igreja, construída por volta do séc. XVII por

iniciativa do Padre Diogo Mendes, inicialmente foi

dedicada ao Santo Anjo da Guarda, mas a devoção

popular ao Senhor do Bonfim ganha importância,

tanta que passa a ocupar o lugar do trono. A devoção

estende-se até ao Brasil, sendo hoje a Bahia a

cidade embaixadora desta devoção.

No seu interior, misturam-se os estilos maneirista,

barroco e neoclássico. As paredes são forradas a

dois terços por azulejos figurativos de padrão azul e

branco. No topo destas uma sucessão de telas pintadas

a óleo, relatam alguns passos da vida de Cristo.

Dois altares laterais, fecham a composição da

nave, onde ainda se contempla o magnífico tecto

decorado a óleo com brutescos.

A capela-mor é quase inteiramente dominada pela

talha dourada, que expressa esse “céu de ouro”,

para onde nos conduz o Senhor do Bonfim.

A Sacristia possui ainda alguns ex-votos, e guarda

o belíssimo arcaz de vinhático, com respaldo, onde

as cenas da Paixão de Cristo desfilam de ambos

dos lados da cruz posicionada ao centro.

Em 1728, colocou-se no seu exterior um calvário,

cujos alguns passos precedentes ainda podem ser

encontrados na cidade.

De destaque é a escultura de tamanho natural em

terracota policromada, denominada Nossa Senhora

Mãe dos Homens, datada possivelmente do

início do século XVIII.

77 77


VIANA DO CASTELO

Texto:

Rui Teixeira, Economia e Empresas, PhD

Mestre em Saúde Pública

Ex-presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo


A ARTE NA LEIRA: O espaço onde

o Improvável se consolidou

“Há um caminho para o mar pelo silêncio da montanha”.

Esse caminho é a Serra de Arga. Feita da vastidão

e agrura dos seus maciços; emblemática e única

em magnitude e beleza; repleta de biodiversidade

pela ternura das pastagens entre bosques e lameiros.

Rica do silêncio que enche as almas e da humanidade

e simplicidade das poucas gentes que a habitam.

Foi aqui que, por não resistir ao apelo do Silêncio e

do Belo, um “louco”, como todos nós, os “normais”,

o classificamos na altura, intuiu ser o seu espaço –

uma Leira – onde decidiu acrescentar da sua vida à

vida da Serra – pela sua Arte. De seu nome: Mário

Rocha. E assim o Improvável se consolidou.

Há 23 anos, então, que, de meados de julho a meados

de agosto, se regista a correria à Serra, por boa

estrada, até à Arga de Baixo. Não sabe onde é? Não

se incomode. Escreva no seu Google Maps “Arte na

Leira” e o seu Google levá-lo-á até lá, podendo partir

dos lados de Caminha ou Ponde de Lima. E o que vai

ver? O Improvável que acontece todos os anos: A Arte

do Mário Rocha e dos seus convidados. Irá usufruir

da Arte de nomes consagrados; de jovens, alguns já

de talento à vista e outros à procura do seu caminho

nas mais variadas expressões; da mostra de instituições

académicas que lá levam os trabalhos do ano

académico dos seus alunos, até crianças, de tenras

idades, com talentos espevitados e surpreendentes.

Da pintura à cerâmica, à fotografia, às mais inesperadas

formas de expressão. Há espaço para todos, da

mesma forma que por lá passam desde os mais altos

dignatários da nação até ao povo, povo, que corre

de Portugal e do estrangeiro e de todas as idades.

Mesmo que desnecessária aqui fica a recomenda: lá

encontrará, também (obviamente), os bons petiscos

do Minho, que pode degustar à sombra de frondosas

copas de árvores dispersas pela Leira. Se a maré

for mesmo de sorte pode até participar numa boa

desgarrada de cantares ao desafio e concertinas bem

79 79


timbradas. Tudo envolto na paz e no mistério do ar

desta Serra.

Se falarmos do que primeiro se vê em Mário Rocha

teremos de referir que é um nome incontornável

da pintura portuguesa contemporânea, opinião

que (sobretudo) o mercado vem confirmando pelo

valor que vem dando à sua obra. Falo do Mário Rocha

artista multifacetado: o pintor, o ceramista, o

escultor, o arquitecto de interiores, o decorador, etc.

A pintura do Mário sente-se antes que se interprete.

Sente-se num todo: do traço à cor; da expressão

à emoção. No difuso das formas, no simbólico que,

por hábito, substitui a representação ou desenho

objetivo; no contraste das cores e da textura de

cada uma das suas telas. Em cada quadro ou peça,

o Mário põe em comum (isto é, comunica) uma

história e a vida que nela vive; vidas com muita vida

ou, simplesmente, a alma de um momento único.

A expressão do Mário é muito mais um registo de

vivências do que representação, embora o objeto

e o objetivo estejam lá. Preciso, é, saber olhá-los.

O objeto está lá, não só de corpo e alma, mas na

sua envolvência perfeita, onde nada falta, muitas

vezes, nem o “cheiro”. Sempre, repito, num arraial

de simplicidade.

A pintura do Mário é a mostra mais imediata e

franca da sua pessoa e é nesta Serra de Arga e

na Arte na Leira que o Mário se abre como em

nenhum outro sítio. Abre a sua própria casa, a

sua família, os seus amigos; abre a sua pessoa e,

sobretudo, a singeleza e o mistério da sua Arte.

Abre-se a todos. Abre-se aos que se iniciam e aos

consagrados. Abre-se aos seus críticos e aos que

o louvam. Abre-se à riqueza da diferença, enquanto

valor. Da política à religião.

Que privilégio o nosso, Mário. OBRIGADO.


81 81


VILA REAL


Igreja de Santa Eulália da Cumieira

Plantada numa cumeada de montanhas, entre as

encostas frias e húmidas do Marão e as encostas

quentes e ardentes, generosas em vinho, do Douro,

encontra-se a vila da Cumieira, a meio caminho entre

Vila Real e Santa Marta de Penaguião, concelho

de que faz parte.

Aí encontramos a belíssima e harmoniosa de proporções

igreja de Santa Eulália, templo do século

XVIII. Na frontaria, sobre o portal principal, ostenta

a data de 1729, que aponta, certamente, a data

da edificação do templo com traços evidentes da

arquitectura barroca: grandes janelões, pináculos,

profusão de ornamentos graníticos.

Entrando, deparamos com um dos mais impressionantes

conjuntos de talha dourada setecentista

de todo o Douro e Trás-os-Montes. À excepção de

dois pequenos retábulos logo à entrada –e de produção

anterior-, todo o conjunto retabular da igreja

(composto pelo retábulo-mor, dois retábulos laterais

e dois retábulos colaterais integrados na talha

do arco cruzeiro), o conjunto impressiona, não só

pelas proporções grandiosas como, sobretudo,

pela qualidade do trabalho executado no estilo

barroco joanino (ou português), já com alguma tendência

para o rococó, o que leva a concluir ter sido

produzido já na segunda metade do século XVIII.

São as colunas espiraladas, enriquecidas com

festões, as figuras de anjos (algumas de grandes

proporções), os balaústres dourados, as sanefas

(numerosas e grandiosas), os púlpitos recobertos a

ouro, as grinaldas…

Tudo num efeito notável de harmonia e de composição.

Os dois primeiros retábulos, junto à porta principal

(mais modestos nas proporções e de produção

prévia aos outros), apresentam duas imagens da

Paixão: o Senhor da Cana Verde e o Senhor com a

cruz às costas, ou Senhor dos Passos, imagens de

grande devoção em toda a região duriense.

Em seguida surgem os confessionários (um de

cada lado), cujas portas são já coroadas por sanefas

barrocas. Depois das portas laterais, logo se

destacam os dois púlpitos, bem proporcionados e

sólidos, também eles cobertos de talha dourada.

Vêm depois os grandes altares laterais. Embutidos

na parede, revestidos a talha dourada e “coroados”

por duas impressionantes sanefas (tipo dossel)

também douradas. Aí se ostentam boas imagens

de Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora

de Fátima, São José e de Nossa Senhora da Breia

(nome da família de cuja capela é proveniente a

imagem).

Nos altares colaterais, que fazem elegante e

grandioso conjunto com a talha que envolve o arco

cruzeiro, de enormes proporções, as imagens do

Sagrado Coração de Jesus, de Cristo Crucificado e

de Nossa Senhora das Dores (de novo a Paixão).

A capela-mor é elegante e bem proporcionada,

destacando- se aí o grande retábulo-mor. Quatro

enormes colunas espiraladas (típicas do barroco

joanino) envolvem o trono do Santíssimo Sacramento

que produz riquíssima impressão. Também

aí encontramos festões, grinaldas, palmas, alguns

concheados, produzindo um cenário impressionante.

Ostenta as imagens, também setecentistas,

de Santa Eulália (padroeira) e de Santo António,

harmoniosas e bem proporcionadas.

Na cornija interior, bem como no aro da porta

principal, notam-se restos de pinturas decorativas.

É aqui que chegamos à figura do pintor e arquitecto

italiano Nicolau Nasoni. Há todas as evidências

e razões para acreditarmos que Nasoni trabalhou

nesta igreja, sobretudo ao nível da pintura decorativa

interior, nos tectos e nas molduras das janelas

e portas. Os tectos foram, porém, criminosamente

destruídos há algumas décadas. Foi para a fogueira

o trabalho de meses de Nasoni. O que resta são

os poucos vestígios desse trabalho de pintura fingida

em perspectiva e uma inscrição sobre a porta

principal que refere o nome do pintor e arquitecto

italiano Nicolau Nasoni e a era de 1739.

83 83


O Românico (frescos):

igreja de Santa Leocádia

A meia encosta entre o alto da serra do Brunheiro

ou o Montenegro, prolongamento da serra da

Padrela, e o vale mais ameno de Loivos e Vidago,

toda voltada a sul e poente, encontramos a aldeia

de Santa Leocádia, já no concelho de Chaves. É cabeça

duma freguesia outrora povoadíssima e hoje

despovoada, embora composta por várias aldeias

em redor. Sensivelmente ao centro geográfico do

território da freguesia e paróquia encontra-se a

vetusta igreja paroquial, templo de feição original

românica, mas, como tantos outros, alvo de diversas

alterações ao longo dos séculos. A sua origem

deve remontar ao século XII, sendo, portanto, tão

velho como Portugal. Sofreu diversas akterações

ao longo dos séculos, sendo que as mais evidentes

foram realizadas no século XVI (pinturas murais

e possível ampliação da capela-mor), e no século

XVIII (remodelação da fachada, arranjo exterior e

construção de retábulos em madeira).

Do conjunto de pinturas (frescos), mandado executar

por um antigo pároco dali e que foi depois

bispo de Lamego e de Lisboa e que certamente

cobriam grande extensão das paredes da igreja

e que, há poucas décadas, foi possível recuperar,

destacam-se, na capela-mor, as representações

dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, um de cada lado

do Altar. Depois há um conjunto de seis pinturas

que completam totalmente o espaço, a que poderíamos

chamar o ciclo da Natividade ou Evangelho

da Infância: Visitação a Santa Isabel; Jesus entre

os doutores; a matança dos inocentes, o anúncio

aos pastores; apresentação no Templo; fuga para

o Egipto. Nas laterais do arco cruzeiro (cuja parte

superior ogival é obra de fino entalhe granítico policromado)

observam-se representações do martírio

de S. Sebastião (alguns elementos), do martírio

de Santa Catarina e do Calvário. Nas paredes da

Nave ou corpo da igreja, um conjunto de pinturas

avulsas: representação do Arcanjo S. Miguel; a

Descida da Cruz e a Pietá; Santa Marta; a Missa de

S. Gregório (alguns elementos); uma representação

enorme do gigante S. Cristóvão; e talvez uma

espécie de ex-voto, representando no mar uma nau

como as dos descobrimentos, onde se encontra

um homem em oração.

Todas as pinturas se encontravam, até aos finais

do século passado, revestidas de cal e cobertas

pelos retábulos laterais da igreja construídos e

instalados ali no século XVIII. Tendo sido estes retirados

e deslocados para outra parte da igreja, foi

possível trazer de novo os frescos à luz do dia.

Quanto aos retábulos da igreja, em número de quatro,

são todos de boa feição –embora a reclamar

atenção quanto à conservação e até a merecer

restauro- podendo classificar-se dois deles ainda

dentro do estilo maneirista e dois deles (entre eles

o retábulo-mor) no estilo barroco joanino.

Todo o templo é admirável pelos muitos elementos

românicos (frestas, janelas, portas em arco, cornija

exterior com sua profusa decoração), quer pela

quantidade e qualidade das pinturas murais referidas.

De referir também a sua localização numa

suave encosta de vistas desafogadas, de onde se

pode apreciar, numa tarde calma de Verão ou de

Outono, um belíssimo arrebol em ambiente totalmente

rural.


Os santuários miradouros: Santa Comba

Edificado sobre uma povoação castreja de que

ainda há muitos vestígios (e certamente sobre um

antigo santuário rupestre), o Santuário de Santa

Comba situa-se numa curiosa elevação na ponta

sul do concelho de Valpaços, a cerca de mil metros

de altitude. Terá sido cristianizado, senão antes,

pela presença duma comunidade religiosa ainda

antes do século XII. No início da nossa nacionalidade

(em 1135) já D. Afonso Henriques doa os

territórios em volta como couto aos frades de

Santa Comba.

Destaca-se pela abrangência dos seus horizontes,

abarcando dali a vista os territórios desde os

píncaros do Gerês às serras espanholas da Sanábria,

passando pelo Larouco. Desde o Marão, que

se vislumbra com esplendor em frente, às terras

do Vale do Douro e de Riba Douro, a todo o vale do

Tua, terras de Além-Sabor e da Beira Alta, e ainda

grande parte do território do distrito de Bragança,

Serra da Nogueira, do Montesinho, de Bornes.

Todo o território da serra de Santa Comba é povoado

por densas florestas de pinheiro, carvalho,

sobreiro e azinho, bem como pelas mais diversas

espécies da fauna selvagem das terras de Trás-os-

-Montes.

É lugar muito procurado para passeios de bicicleta

e todo-o-terreno pela floresta e montanha, bem

como para longas caminhadas a pé. Muito usado

também para descolagens de parapente.

A romaria de Santa Comba realiza-se a 8 de Agosto

de cada ano e a ela afluem gentes de vários

concelhos (Valpaços, Murça, Mirandela, Chaves,

Carrazeda de Ansiães, Vila Flor, etc), muitas em

peregrinação a pé.

Ultimamente tem sido frequentemente caracterizado

por muitos como o melhor miradouro de Trás-

-os-Montes.

85


VISEU

Vem e Vê o que Deus tem para Ti…

na Diocese de Viseu

Nas nossas propostas saímos dos centros urbanos e vamos ao encontro de presenças de património

religioso, que pode ser pequeno no tamanho, simples e de formas populares, mas é fruto da fé e do amor

das comunidades, que escolheram para a sua implantação locais expressivos da beleza da criação de

Deus. Natureza e elementos construídos convidam à contemplação, ao silêncio, a experimentar a beleza

da harmonia entre a arte, a natureza, a espiritualidade…


Capelas de

São Macário

Na Serra de São Macário, sita no concelho de São

Pedro do Sul, encontram-se duas ermidas dedicadas

ao mesmo orago, que distam c. de 200 metros

uma da outra: São Macário de Cima, que pertence à

paróquia de São Martinho das Moitas, e São Macário

de Baixo integrado na paróquia de Sul. Permanece

no olvido a origem do culto a São Macário neste

local, que se encontra associado à memória de um

eremita, cuja lenda, contada com algumas variantes,

situa parte da sua vida e morte nesta serra.

A capela mais antiga, a de São Macário de Cima,

já existia em 1675 e seria um local onde ocorriam

muitos devotos, particularmente aos domingos

e dias santos, e no dia da sua festa, celebrada no

último domingo de julho, em que se enchia de uma

“imensidade de gente”. A ermida de São Macário

de Baixo foi mandada edificar em 1769, pelo abade

de Sul, João de Melo Abreu Falcão, na sequência

de contenda com o pároco de São Martinho das

Moitas, pois ambos reivindicavam as esmolas

deixadas pelos muitos devotos. O abade de Sul

diligenciou a construção de uma nova capela, nos

limites da freguesia, no local da gruta onde, segundo

a tradição, São Macário se teria refugiado.

Num posicionamento estratégico, que permite

contemplar a paisagem envolvente, constituída

pelas serras do Montemuro, Estrela e Caramulo e

o Vale de Lafões, a capela de São Macário de Cima

destaca-se pela singularidade do alto muro de xisto,

que se eleva até ao nível do telhado e a protege

da força dos ventos frios. A capela de São Macário

de Baixo destaca-se pelo seu telhado de xisto e por

encaixar no rochedo da gruta, num harmonioso

mimetismo de materiais da natureza e elementos

construtivos. A visita aos dois espaços, que se

ocorrer ao fim do dia permitirá maravilharem-se

com a beleza do pôr-do-sol, pode ser acompanhada

com a leitura da lenda de São Macário e do poema

que lhe dedicou Eugénio de Castro e Almeida

(1869-1944).

87


Casa Memorial

Rita Amada de Jesus

Na freguesia de Ribafeita, na povoação de Casal

Mendinho (concelho de Viseu), encontramos a

Casa Memorial Rita Amada de Jesus, edificada no

local onde existiu a casa da sua família, onde viveu

e onde estão os gérmenes da vocação e da missão

que Deus lhe confiou.

Para além do edifício, toda a envolvente participa

das memórias de Rita Amada de Jesus e fazem

parte da visita: os espaços por onde passou, a

mina onde se refugiou durante as perseguições

ocorridas após a implantação da República, a igreja

onde foi batizada.

Para além da informação cronológica, desde o seu

nascimento à beatificação, na casa são expostos

livros, reproduções de cartas e da sua autobiografia,

as imagens pelas quais tinha especial devoção

e alguns objetos pessoais. Evoca-se a sua morte

através das relíquias e a sua obra pelas referências

aos sete colégios que fundou e ao envio das Irmãs

para o Brasil, após a implantação da República,

onde o Instituto Jesus Maria José teve continuidade,

disseminando-se posteriormente por vários

países, representados num mapa localizado no

jardim.


Capela nas pinturas estão os frutos dessa luz, que projectam

os três elementos identitários da Madre Rita, evocados na

sua beatificação

No piso inferior encontra-se a capela, com uma

árvore de luz, que representa a Madre Rita, que

seguiu sempre a Luz de Cristo e foi ela também

luz para muita gente e continua a ser através da

presença do instituto e do seu carisma/espiritualidade.

Nas pinturas estão os frutos dessa luz, que

projetam os três elementos identitários da Madre

Rita: Família, Eucaristia e Rosário.

No exterior do edifício ergue-se um imponente

monumento, da autoria de Paulo Medeiros, que tal

como o painel de fundo da capela é da autoria do

artista Paulo Medeiros. A silhueta frontal identifica-nos

de imediato a Beata Rita Amada de Jesus,

cujo lenço se prolonga em dois sentidos: uma das

faixas cai até aos pés estabelecendo a ligação com

a terra onde nasceu e a outra desenvolve-se como

um caminho cheio de vida.

A Casa Memorial não constitui um santuário, mas

sim de um centro de interpretação sobre a sua vida

e obra, que testemunha a sua alegria de dizer Deus,

a forma como viveu e testemunhou Cristo, convidando-nos

a todos nós a dar continuidade a essa

alegria e obra num anúncio de Cristo.

Canas de Bambu - a força da sua fé e a grandeza da obra que

construiu com humildade, persistência, empreendedorismo,

sabedoria e modernidade

89


Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!