Vida Consagrada: «Fátima, era para mim, uma história inventada por três crianças» – irmã Marta Couto

Leiga consagrada dos Silenciosos Operários da Cruz encontrou junto das pessoas com deficiência e das suas famílias um lugar ao serviço do sofrimento e um caminho de crescimento na «simplicidade e genuinidade»

Fátima, 28 jul 2022 (Ecclesia) – A irmã Marta Couto fez um caminho de conversão, desde a lógica que “punha em causa a existência de Deus” até aos votos de leiga consagrada da associação dos Silenciosos Operários da Cruz.

“Sou uma pessoa muito lógica e Deus não tinha lógica para mim porque eu pensava como poderia existir Deus e o sofrimento. Para mim, Fátima era uma mera invenção de três crianças que não tinham nada para fazer numa tarde e decidiram contar que Nossa Senhora lhes apareceu. Mas um jovem falou-me, nos Valinhos, das aparições do Anjo, e das orações: como é que três crianças analfabetas poderiam inventar tais orações? Isso mexeu muito comigo. Meteu toda a minha lógica em crise. Foi a partir daí que se deu um grande movimento interior de conversão e me fez entrar no Movimento Mensagem de Fátima (MMF)”, recorda à Agência ECCLESIA.

Em 2013, a irmã Marta Couto conheceu os Silenciosos Operários da Cruz, uma associação internacional de fiéis leigos e clérigos, que fazem votos de pobreza, castidade e obediência e vivem como consagrados em comunidade, tendo como missão o trabalho com pessoas com deficiência ou doentes.

“Vim parar a esta realidade das férias para pessoas com deficiência por acaso: na altura integrava o MMF que propunha atividade de voluntariado no verão. Inscrevi-me, não de propósito para estas semanas de férias, mas vim cá parar. Quando falavam destas semanas falavam delas como muito exigentes, complexas”, recorda.

Mas foram estas semanas, que conheceu em 2013 e repetiu em 2014, que a levaram a estudar saúde, primeiro radioterapia com o objetivo de ajudar pacientes com cancro, onde percebeu ser uma área “demasiado técnica” e por “detrás das câmaras”, tendo depois ingressado no curso de enfermagem, porque se sentia chamada “ao cuidar, ao acompanhar as pessoas”.

“Na casa dos Silenciosos Operários da Cruz deparei-me com uma realidade muito diferente do sofrimento, porque sempre fui tendo esta questão: «Se Deus é bom porque sofremos, porque existe o sofrimento no mundo»? O MMF foi-me explicando teoricamente o sofrimento, e a noção da importância de oferecer o sofrimento, mas ao chegar a estas semanas, ver os pais e jovens, ver esta comunidade dos Silenciosos e a forma como encaram e ajudam a encarar o sofrimento, não como uma condenação mas como um caminho que pode ser feito para nos ajudar e transformar para algo mais, apercebi-me que o cuidar do outro, ajudar e acompanhar era algo que eu queria fazer com a minha vida”, recorda.

A irmã Marta Couto conta como no contacto com as pessoas com deficiência cresce em simplicidade e genuinidade: “Tantas vezes a palavra é algo supérfluo, desnecessário porque muitos dos jovens que participam nestas semanas são jovens que não falam e a comunicação é difícil, mas se nos calamos primeiro e entramos em contacto com a pessoa, percebemos que a pessoa comunica connosco com uma grande sensibilidade relacional – percebem se estás bem, se estás nervoso, contente. Há uma genuinidade nestas pessoas”.

As semanas que a associação oferece, em parceria com o Santuário de Fátima, a pessoas com deficiência e aos seus familiares, permitem conhecer uma realidade “escondida” e contactar com um “amor transcendente” entre pais e filhos.

“O sofrimento das famílias mostra-se na solidão que vivem, sentem-se únicas na situação que vivem e não encontram empatia no seu dia-a-dia. O amor que sentem pelos seus filhos é algo transcendente. Sem esse amor, não seria possível continuar. Elas são especialistas em amor”, evidencia.

A irmã Marta acredita que a experiência que oferecem desde há 14 edições, com semanas de “lazer, cuidado, festa mas também as dificuldades”, mostram aos voluntários e à sociedade que é possível integrar e “desconstruir” a realidade da pessoa com deficiência.

A conversa com a irmã Marta Couto pode ser acompanhada na emissão mais recente do programa Ecclesia, emitido na Antena 1, disponível em formato podcast e no site da Agência ECCLESIA.

LS

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