Lisboa: 50 anos depois, vigília da Capela do Rato recorda «injustiça da guerra» (c/vídeo)

Jorge Wemans e padre António Martins recordam ação de grupo de católicos, inspirados por São Paulo VI e São João XXIII

 

Lisboa, 12 dez 2022 (Ecclesia) – O jornalista Jorge Wemans considera que as posições dos Papas João XXIII e Paulo VI foram “essenciais” para a realização, a 30 de dezembro de 1972, da vigília na Capela do Rato (Lisboa), denunciando a “injustiça da guerra”.

“A guerra não tinha fundamento, porque os povos das ex-colónias tinham direito à independência e à sua autodeterminação e acabar com a guerra era acabar com a ditadura em Portugal”, disse à Agência ECCLESIA.

Jorge Wemans, um dos protagonistas do acontecimento na Capela do Rato, sublinha que a instituição do Dia Mundial da Paz (01 de janeiro de 1967), por São Paulo VI, e a “progressiva tomada de consciência destas realidades” e das “relações pessoais com muitos jovens católicos e não católicos”, levaram a “várias ações anticoloniais”.

No dia 30 de dezembro de 1972, um grupo de católicos, a que se associariam cidadãos não católicos, organizou uma vigília de 48 horas, na Capela do Rato, em Lisboa, para meditar sobre a paz e sobre a situação vivida na guerra colonial.

No dia seguinte, os participantes aprovam uma moção repudiando a política do Governo de “prosseguir uma guerra criminosa com a qual tenta aniquilar movimentos de libertação das colónias” e denunciando a “cumplicidade da hierarquia da Igreja Católica face a esta guerra”.

Ao final do dia, a vigília seria interrompida pelas forças policiais e os participantes foramconduzidos à esquadra local, sendo que 14 permaneceriam detidos durante duas semanas na prisão de Caxias.

Jorge Wemans recorda à Agência ECCLESIA que, a “determinada altura, se imprimia um boletim anticolonial com muita informação sobre a guerra”.

“Como isso era insuficiente porque não desbloqueava a questão, construímos a ideia da vigília pela paz na capela do Rato porque era dos locais de culto, em Lisboa, que podia perceber e entender uma vigília pela paz”, afirmou, em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).

Passados 50 anos deste acontecimento, que revelou uma “Igreja inconformada” e que “reivindicava mudanças na política”, o padre António Martins, capelão da Capela do Rato, fala numa “herança positiva, cheia de carga simbólica e profética”.

“A comunidade da Capela do Rato permanece como uma referência, um paradigma, dos cristãos leigos intervirem na sociedade portuguesa”, indicou.

Para Jorge Wemans, “a maioria da Igreja portuguesa e, sobretudo, a hierarquia estava demasiada silenciosa em relação à guerra”.

O jornalista indica que a experiência na Capela do Rato foi uma “forma de fazer ponte” com outros setores da sociedade.

“Essa foi uma das grandes novidades da vigília”, concluiu.

HM/LFS/OC

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