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Alarga a tua tenda

Alarga a tua tenda

By Agência ECCLESIA

«Alarga a tua tenda» é um podcast da Agência Ecclesia que nasce do caminho sinodal que a Igreja está a fazer. O objetivo é contar percursos e momentos de aproximação ou afastamento à fé, falar sobre espiritualidade, perguntas, certezas e incertezas. Queremos tatear, através de diferentes vidas, a forma como a Igreja se constrói e contar como se sonha a comunidade onde todos têm lugar. As conversas são conduzidas pela jornalista Lígia Silveira e publicadas integralmente neste podcast depois de emitidas no programa Ecclesia, na Antena 1, poucos minutos depois da meia-noite de quinta-feira.
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«A canção, uma ‘casa comum’ para a memória da Revolução dos Cravos», com Alfredo Teixeira

Alarga a tua tendaApr 25, 2024

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01:39:54
«A canção, uma ‘casa comum’ para a memória da Revolução dos Cravos», com Alfredo Teixeira

«A canção, uma ‘casa comum’ para a memória da Revolução dos Cravos», com Alfredo Teixeira

«A canção, uma ‘casa comum’ para a memória da Revolução dos Cravos» é a proposta do compositor e antropólogo político Alfredo Teixeira para, musicalmente, reconhecermos o lugar da intervenção, encontrarmos cruzamentos com os textos bíblicos e messiânicos que também ao cantautores propunham, e perceber como a revolução de 1974 teve a sua génese musical em 1971.

Através de 16 músicas o teólogo propõe o reconhecimento de polos de irradiação da canção de intervenção, desde 1945 até ao que poderíamos chamar de herança dessa expressão na cultura hip-hop de hoje, mostrando como as músicas de contestação ao Estado Novo propõem uma cultura de transformação que aproxima os mundos.

Apr 25, 202401:39:54
O espaço de liberdade dos movimentos juvenis que sonhavam a mudança social e eclesial, com José António Santos

O espaço de liberdade dos movimentos juvenis que sonhavam a mudança social e eclesial, com José António Santos

José António Santos tinha 24 anos quando o 25 de abril de 1974 aconteceu. Era jornalista no Diário de Notícias, na secção de correspondentes, facto que o manteve durante oito dias na redação, mas no 1º de maio não resistiu e saiu à rua para testemunhar que «o Evangelho estava na rua».

A sua participação no ‘Circulo juvenil’, tendo como assistente o então padre Albino Cleto, fê-lo sonhar a mudança do regime e a concretização dos documentos do Concilio Vaticano II que tardavam – e ainda tardam, lamenta – a concretizar-se.

Nesta conversa recorda a autenticidade de padres que acompanhavam os movimentos juvenis na altura, o único espaço de liberdade que existia então, a carta de 106 signatários a pedir a nomeação de D. Manuel Falcão para patriarca de Lisboa e o pontificado, «que fala por si» de D. António Ribeiro, que nunca foi «submisso ao regime de Marcelo» e soube acompanhar a transição democrática.

Apr 18, 202401:05:12
O debate entre o filósofo Cardia e o padre Resina revisitado pelo jornalista José Pedro Castanheira

O debate entre o filósofo Cardia e o padre Resina revisitado pelo jornalista José Pedro Castanheira

Era um jovem militante da Juventude Universitária Católica e esteve presente no debate entre o filósofo Mário Sottomayor Cardia e o padre João Resina, meses antes do 25 de abril de 1974 e sem ainda sonhar que o seu futuro passaria pelo jornalismo. A 24 de abril frequentou a última cadeira do curso de Economia, na véspera da sociedade portuguesa mudar e, com ela, a vida de José Pedro Castanheira.

Reformado mas não retirado, o jornalista coordenou o livro que recuperou o debate de janeiro que queria perceber se um católico poderia militar em partidos de esquerda, socialistas ou mesmo partidos comunistas. O diálogo e a tolerância num debate de ideias mostrava então, como também deve mostrar hoje, que o respeito deve conduzir e chamar diferentes opiniões na construção social.

Apr 11, 202401:04:52
O tempo que Afonso Sousa Dias procurou para sentir a sua vida e a fraternidade que viveu durante um ano em Taizé

O tempo que Afonso Sousa Dias procurou para sentir a sua vida e a fraternidade que viveu durante um ano em Taizé

Um ano foi o tempo que Afonso Sousa Dias viveu na Comunidade ecuménica de Taizé. Com 23 anos, recorda esse tempo em que passou «três meses a acolher e ser acolhido» e experimentou a fraternidade.

A preparação da vigília ecuménica que antecedeu a primeira Assembleia do Sínodo dos Bispos, no Vaticano, da qual fez parte, e o sonho que tem com a construção política a partir de pequenas comunidades integram a conversa com este jovem que olha para este tempo de Sínodo com muita esperança: «Estou muito contente que as comunidades estejam a reunir, a discutir as suas dificuldades, os seus dramas, a tomar consciência de si mesma, a querer ser uma Igreja mais comunitária, mais participativa e humana, que pense o lugar dos divorciados, dos homossexuais, das mulheres. Estou muito contente que queremos ser uma Igreja mais ao jeito de Jesus».

Mar 28, 202401:02:49
Escutar a voz da poesia, a voz que o mundo precisa

Escutar a voz da poesia, a voz que o mundo precisa

Maria Borges tem 20 anos e não concebe a sua vida sem poesia, sem declamar e sem escrever. Diz que responde a uma urgência de colocar no papel o que vê no mundo, seja sobre refugiados, sobre a guerra na Ucrânia, seja sobre coisas ínfimas ou como devemos deixar-nos levar pelo ritmo das palavras e dançar na cozinha ou em frente ao espelho.

A estudante de Línguas, Literaturas e Culturas defende que devemos olhar para as coisas pequenas, que o mundo precisa “desesperadamente de beleza” e que a par das vozes vindas da política e da ciência, a voz da poesia deveria também ser escutada.

Mar 21, 202401:07:21
Uma ‘caracunda’ como casa, um continente como tempo, uma viagem de 22 meses com sabor a vida

Uma ‘caracunda’ como casa, um continente como tempo, uma viagem de 22 meses com sabor a vida

Durante 22 meses Joana e André Peixoto viajaram por 29 países africanos. Inauguraram em Lichinga, Moçambique, o regresso a Portugal, a que deram o nome «De Chapa em Chapa», e lhes permitiu «despedirem-se devagarinho» de um continente onde estiveram alguns anos.
Desse mesmo continente queriam mostrar ao mundo a generosidade, bondade e o desafio de viver a vida que os africanos partilham, ajudando a ultrapassar preconceitos de insegurança ou miséria que perduram. Percorreram 75 mil quilómetros, subiram a pé o Kilimanjaro, conduziram por estradas de asfalto e pó, estiveram a metros de animais selvagens e sentaram-se em casa de tantos que lhes abriram a porta e mostraram que a empatia e a simplicidade não tem línguas ou estratos sociais - «é apenas Deus a acontecer».

Mar 14, 202401:13:52
O amor entre semelhantes em lugares e experiências inaugurais, com Alfredo Abreu

O amor entre semelhantes em lugares e experiências inaugurais, com Alfredo Abreu

«A atenção é a forma mais rara e pura de generosidade», assim disse Simone Weil, escritora, mística e filósofa francesa. Alfredo Abreu vive essa máxima e procura que outros criem espaço para que encontros entre diferentes, que em tudo são semelhantes, aconteçam.

Fundador da organização 'Serve the city' que junta voluntários e pessoas sozinhas e em situação de sem-abrigo em jantares comunitários, quer dar espaço na sua vida à «disponibilidade» e à «vulnerabilidade».

Alfredo Abreu cresceu na cultura tradicional católica, mas foi nos Estados Unidos da América, junto de uma família protestante, que conheceu faces de Jesus até então desconhecidas para si. Aos 18 anos assume quer seguir Jesus, e percebe que assim tem feito quando olha para trás, reconhecendo que tantas vezes não procurou os projetos onde esteve inserido - a Bíblia Manuscrita, a liderança comunitária, os grupos de estudo bíblico entre estudantes universitários.

Participante de uma «comunidade não denominacional», realidade que o Sínodo dos Bispos convida a aprofundar, Alfredo acredita haver experiências e laboratórios que falam do «amor de Deus e o levam onde outros não conseguem chegar».


Feb 22, 202401:13:43
Feminista, de sorriso livre, seguidora da apóstola «Maria Madalena, assim é a irmã Julieta Dias

Feminista, de sorriso livre, seguidora da apóstola «Maria Madalena, assim é a irmã Julieta Dias

Foi em casa, junto da sua mãe, que a irmã Julieta Dias conheceu a primeira feminista. Nunca gostou das catequistas da sua paróquia natal, «mulheres sisudas, que não brincavam nem sabiam rir, e eram 'paus mandados do padre'» e foi com as religiosas do Sagrado Coração de Maria que aprendeu a dançar valsa.

A sua formação foi marcada pelo pré-Concilio Vaticano II mas foi com os documentos pós Concilio e os escritos do Papa João XXIII que confirmou o seu caminho de religiosa e mulher na Igreja.

Os escritos do frade dominicano José Augusto Mourão e também do frei Bento Domingues marcam a vida da religiosa que um dia, afirma, vai fazer festa no céu quando «qualquer mulher batizada for ordenada para exercer qualquer ministério na Igreja».


Feb 14, 202401:31:02
D. Jorge Pina Cabral e os desafios ecuménicos de «pensar e realizar em conjunto»

D. Jorge Pina Cabral e os desafios ecuménicos de «pensar e realizar em conjunto»

O ecumenismo marcou cedo a pertença de D. Jorge Pina Cabral à Igreja Lusitana. Subir a Serra do Pilar para rezar o «Pai-nosso» com a comunidade católica, orientada na altura pelo padre Arlindo de Magalhães, surgia com naturalidade, na vida de um jovem nascido na tradição anglicana e que foi percebendo que a descoberta vocacional é um processo.
Não teve duas vidas, apesar de um amigo padre católico romano lhe ter dito isso mesmo: foi professor de Educação Física antes de ser padre ordenado o que lhe deu uma visão do mundo e da realidade. Mas antes já tinha atravessado o Muro de Berlim, contactado com as manifestações em Portugal que se opunham ao armamento nuclear ou ao 'apartheid' na África do Sul, atitudes que mostravam ao cidadão Jorge Pina Cabral que o seu compromisso político nascia do seu compromisso religioso.
Na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos conversamos com o responsável pela Igreja Lusitana, de Comunhão Anglicana, em Portugal, que pede um «pensar e fazer» conjunto porque, diz, a sociedade «polarizada» necessita de sinais de unidade.

Jan 25, 202401:05:22
«A vida é difícil mas isso não é grave»: as palavras de Etty Hillesum que Mariana Abranches Pinto vive

«A vida é difícil mas isso não é grave»: as palavras de Etty Hillesum que Mariana Abranches Pinto vive

A poeta americana Mary Oliver deu a Mariana Abranches Pinto o mantra que hoje repete todos os dias para si: «Instruções para Viver uma Vida: Presta Atenção, Deixa-te Maravilhar, Fala-se sobre isso». Mas há mais desafios que os poetas vão deixando na sua vida: Daniel Faria diz «Tudo o que for será bom. É tudo», Etty Hillesum diz que «a vida é difícil mas isso não é grave» e Mary Oliver recorda ainda que «a alegria não é para ser uma migalha».

O sofrimento, marcado pela sua doença oncológica mas, mais ainda, pelo percurso da sua filha que acabou por falecer aos 18 anos, a procura de sentido que levou Mariana Abranches Pinto a fundar o grupo «Ao 3º Dia» e a procurar no movimento «Portugal Compassivo» as propostas para mudar a pastoral da saúde e o cuidado com as pessoas doentes, são caminhos de quem percebeu que a sua vida se completa a acompanhar espiritualmente pessoas e a fazer com elas um caminho de descoberta de sentido.

Jan 19, 202457:09
A vontade firme de Sara Torgal querer ser «pedra viva» na construção da Igreja

A vontade firme de Sara Torgal querer ser «pedra viva» na construção da Igreja

Foi ainda na barriga da mãe que Sara Torgal conheceu a comunidade Membré, em Cacilhas, Almada, comunidade «fonte» como apresenta, onde foi confirmando a vocação cristã, a importância e a necessidade de se formar humana e espiritualmente, para fazer disso a base da sua vida e levá-la aos outros. Sara Torgal não esconde o seu apreço pelos adolescentes e jovens e é entre eles que neste momento, em Basileia, na Suíça, onde vive há cinco anos, passa os seus dias entre política do medicamento e a comunidade portuguesa que a acolheu e onde se sentiu em casa. Em agosto de 2023 viveu a sua primeira Jornada Mundial da juventude, juntamente com 450 jovens que ajudou a trazer da Suíça: começou a preparar essa participação na Suíça e, em Lisboa, confirmou a universalidade da Igreja que lhe fala de casa, de projeto de vida e fidelidade.

Jan 11, 202401:06:46
A unidade que Miguel Panão constrói a partir da diversidade das perguntas que persegue

A unidade que Miguel Panão constrói a partir da diversidade das perguntas que persegue

Investigador, professor universitário, leitor ávido, escritor generoso, Miguel Panão vive da curiosidade das coisas, das ideias, das perguntas. O seu percurso parte das inquietações que o levam ao cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. Na sua arca do tempo cabem todas as perguntas, criando um espaço para percorrer caminhos que o podem levar mais longe.
Nesta conversa há espaço para os seus alunos universitários - a quem pede para desconfiarem de tudo o que lhes ensina, para a Inteligência Artificial, mas também para os teólogos que aprendeu a conhecer nos intervalos da investigação académica e para o Movimento dos Focolares com quem percebeu que a unidade deve ser uma realidade.

Jan 03, 202401:08:18
José Batalha é voluntário há 55 anos

José Batalha é voluntário há 55 anos

Tinha acabado de fazer 15 anos quando no último dia de aulas, antes das férias do Carnaval, o padre Pinheiro entrou na sala de aula nos Salesianos do Estoril e disse: «Preciso de alguns voluntários para, durante as férias irmos construir uma casinha de madeira para dois velhotes que vivem na carcaça de um carro. Quem estiver disponível para ajudar, esteja amanhã às 8.00 horas no Bairro do Fim do Mundo, em S. João do Estoril».

Assim começou a ligação de José Batalha ao voluntariado, onde ao longo de 55 anos foi manifestando uma consciência sobre o impacto das fragilidades sociais e a importância de cada um fazer a sua parte para que o sentido de comunidade se concretize.

A Confederação portuguesa de Voluntariado distinguiu-se recentemente na categoria «carreira».

Dec 21, 202358:22
As prisões e os reclusos que o padre João Torres acompanha e a religião que não quer servir

As prisões e os reclusos que o padre João Torres acompanha e a religião que não quer servir

O padre João Torres descobriu em África como ser cristão e diz que hoje é padre porque no continente africano conheceu Jesus. Sacerdote há 20 anos, era seminarista quando foi desafiado a entrar no mundo das prisões, um local onde diz, consegue sossegar e ser quem é. «Homens grandes, cheios de tatuagens», incapazes de chorar em frente a colegas, choram em frente a um padre, com rostos «trespassados pela tristeza», e voltam a ser «crianças na noite de Natal». É junto destes homens que o padre João indica ser preciso estar, com tempo, para lhes mostrar que aquela é uma fase das suas vidas e que a reinserção, que concretiza em Priscos, é possível. Padre na diocese de Braga não consegue calar as injustiças que vê, sonha com um centro de espiritualidade onde as perguntas tenham lugar, mais do que as respostas e os «discursos tagarela» de quem «diz coisas que nunca viveu».

Dec 14, 202359:16
A empatia, as palavras bonitas e a diversidade (de João Damião) vão salvar o mundo

A empatia, as palavras bonitas e a diversidade (de João Damião) vão salvar o mundo

João Damião cresceu a ouvir histórias e a encontrar beleza na escuta, nas palavras e nos horizontes que as pessoas da Atalaia, em Santarém, lhe ofereciam. Também ali conheceu a dureza das crianças e o bullying marca ainda hoje a sua vida. Em Agosto, nas JMJ Lisboa 2023, testemunhou perante o mundo e o Papa Francisco as marcas que a pandemia e os comportamentos agressivos lhe provocaram, aceitando olhar para si e convidando milhares de jovens a procurarem palavras para ultrapassar essa situação.
É jornalista e enquanto profissional, João Damião procura que a empatia e as palavras bonitas possam ser uma realidade. Acredita que será a beleza a mudar o mundo se as pessoas aceitarem mais a diferença, percebendo que, tal como Jesus foi a pedra angular, também a aceitação da diversidade será construtora de um mundo melhor.

Nov 30, 202359:26
O mundo da poesia de Alice Cardoso

O mundo da poesia de Alice Cardoso

Ler poesia é melhor do que tomar um analgésico, assim acredita Alice Cardoso, uma jovem de 25 anos que encontrou nas palavras uma forma de estar no mundo.

Quando era criança, o pediatra aconselhou os pais a darem-lhe uma caneta para a mão, afirmando que «esta menina precisa de escrever muito», e não estava errado: a escrita é libertadora e apaziguadora e nem o exercício de espelho amedronta Alice Cardoso.

Os poemas foram o seu medicamento na pandemia e transformaram-se em livro - «Pandesia», publicado no início do ano. Nesta publicação escreve sobre a ansiedade que viveu e o que foi descobrindo em si própria quando as palavras surgiam e a levavam para a certeza de um caminho que quer consolidar na sua vida.

Nov 23, 202301:00:44
O lugar da banda filarmónica de Pedrogão para sonhar a construção do mundo, com Afonso Borga

O lugar da banda filarmónica de Pedrogão para sonhar a construção do mundo, com Afonso Borga

Afonso Borga cresceu em Pedrogão, em Torres Novas, a cultivar a proximidade e o fazer comunidade, ao som da banda filarmónica que percebeu como lugar da inclusão social. Crescer no sopé da Serra dos Candeeiros, levou-o a subir à montanha para procurar o horizonte e iniciar caminhos onde a empatia, o diálogo, o serviço eram dons que queria alicerçar na construção do bem-comum. O voluntariado, a economia de Francisco, a responsabilidade social das empresas e as mudanças climáticas são temas diários para este jovem empreendedor.

Nov 16, 202355:32
O percurso de fé do padre José Miguel Barata Pereira, reitor do Seminário dos Olivais

O percurso de fé do padre José Miguel Barata Pereira, reitor do Seminário dos Olivais

Há mais de 25 anos ligado à formação dos futuros padres no patriarcado de Lisboa, o padre José Miguel Barata Pereira revisita o percurso vocacional que o levou a perceber que ser um veículo da «graça de Deus» era o seu caminho de realização espiritual e humana, sendo esta uma forma de «tocar a paternidade» e ajudar jovens a amadurecer na fé.

As experiências no Pré-Seminário, os dois anos em Almada onde, a partir do miradouro reconhecia nas luzes de Lisboa as pessoas para as quais seria enviado, e os quatros anos nos Olivais, onde agora é reitor, foram cimentando escolhas, «feitas sempre na companhia de Deus», dando-lhe assim a certeza que «iria sempre mais longe».

Nov 09, 202301:08:51
Quanto da palavra «irmã» ou «irmão» pode mudar o mundo? O Cântico das Criaturas pode ter a resposta

Quanto da palavra «irmã» ou «irmão» pode mudar o mundo? O Cântico das Criaturas pode ter a resposta

João Maria Carvalho diz que é feito de música e palavra, e, por consequência, é feito de silêncio: aquele que o acompanha nas caminhadas em Elvas, nas respirações dos poemas que lê pela primeira vez e dos que acompanham repetidamente e necessariamente, os seus dias; é feito dos sons da ronca, um instrumento tradicional do Alentejo, de música clássica, dos profetas Nick Cave e Chico Buarque, dos poemas que entram na liturgia para tecer as comunidades. O jovem de 24 anos, que calou a Praça de São Pedro, no Vaticano, quando cantou à capella o «Cântico das Criaturas», quer tecer a Igreja com a esperança que encontra em comunidades criativas que dizem o cristianismo hoje em relações próximas, onde a palavra «mano» ou «mana» revelam a identidade fundadora.

Oct 26, 202301:08:55
O improviso como valor de vida, com Sara Costa e Silva

O improviso como valor de vida, com Sara Costa e Silva

Argentina, Bolívia, Paraguai e Caparica – Pragal, em Portugal, foram destinos de missão onde Sara Costa e Silva consolidou a importância de viver mais livre, aberta e agradecida, ao mesmo tempo que mais disponível para «os toques subtis de Deus».
No caminho de procura, e de colocar palavras para descobrir «as moções, os momentos de consolação e desolação», foi percebendo que os planos não teriam de estar todos certos e que o improviso, o inesperado e espontâneo, poderia ser linguagem de Deus. E viver assim é uma escolha - uma aprendizagem e um treino diário mas que colocam Sara no sítio certo das relações, consciente da fragilidade que aproxima pessoas e disponível para descobrir novos horizontes para onde caminhar.

Oct 19, 202351:52
Da viola da Tuna e das tasquinhas de Viseu, para o hábito azul das Concepcionistas ao Serviço dos Pobres – a volta de 180 graus na vida da irmã Rita Balau

Da viola da Tuna e das tasquinhas de Viseu, para o hábito azul das Concepcionistas ao Serviço dos Pobres – a volta de 180 graus na vida da irmã Rita Balau

A irmã Rita Balau fez a profissão religiosa temporária há pouco mais de um mês e já partiu para Timor, onde chegou de coração disponível e com a viola que aprendeu a tocar nos bares de Viseu, durante o tempo de estudante de engenharia alimentar, quando queria passar pelas experiências da tuna e da associação académica. Na altura, não havia tempo para Deus e se lhe falassem de pobreza, castidade e obediência seria uma parvoíce».
Mas quando deixou Deus entrar e se confrontou com a fragilidade da sua avó, a vida da então jovem deu uma volta de 180 graus: conheceu as irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, descobriu a razão da sua alegria e vestiu o hábito azul que hoje quer ter como uma «segunda pele».

Oct 12, 202359:40
A unicidade da pessoa que a Medicina cuida e o sonho ecuménico que António Lourenço quer entregar à filha de sete meses

A unicidade da pessoa que a Medicina cuida e o sonho ecuménico que António Lourenço quer entregar à filha de sete meses

António Lourenço vai estar na Praça de São Pedro, no Vaticano, junto dos líderes de diferentes confissões religiosas, convidados pelo Papa Francisco, para rezar juntos pelo início da Assembleia Sinodal, mas também como um sinal de unidade, busca pela paz e cuidado com a Criação. Ao seu lado estará a sua esposa e a filha de sete meses a quem quer entregar o sonho de uma Igreja ecuménica, sonhada desde os Evangelhos. Em tudo amar e servir conduz a vida deste jovem médico, apaixonado pela unicidade de cada pessoa e pela possibilidade que a Medicina lhe dá de, em Lisboa, no Bangladesh, em Lesbos ou São Tomé e Príncipe, conhecer os pacientes, ir ao seu encontro e cuidar da melhor forma possível.

Sep 28, 202342:14
O discernimento, a comunidade e o ser «barro» em São Tomé e Príncipe, com Beatriz Bernardo

O discernimento, a comunidade e o ser «barro» em São Tomé e Príncipe, com Beatriz Bernardo

A formação da ONGD Leigos para o Desenvolvimento já valia por si, mas aos poucos a vontade de partir mesmo em missão foi ganhando terreno dentro de Beatriz Bernardo. Formada em Matemática Aplicada foi percebendo que não ter um plano para o que fazer depois lhe dava tempo e liberdade para partir em missão. Durante um ano, Beatriz Bernardo vai estar no bairro da Boa Morte, em São Tomé e Príncipe, junto da população daquela comunidade, procurando estruturar um projeto voltado para o turismo, a partir da cultura do bairro e dos dons dos seis mil habitantes.

Sep 25, 202345:17
A fé, a pressão do futuro e a importância do Papa Francisco nos 18 anos de Maria Branco Machado

A fé, a pressão do futuro e a importância do Papa Francisco nos 18 anos de Maria Branco Machado

Maria Branco Machado está a iniciar os estudos em Ciências Biomédicas, na Universidade de Aveiro, e leva consigo, não a certeza de um percurso profissional, mas a leveza de se saber incapaz de controlar tudo. Para traz fica a pressão e a angústia que colocou em si própria, e também o ano que viveu na Roménia, onde encontrou «um balão de oxigénio» a fazer voluntariado. Quis dar-se espaço, conhecer mundo e pessoas diferentes que lhe alargaram o horizonte sobre Deus. No regresso, foi junto do Papa Francisco, na JMJ Lisboa 2023, que encontrou palavras de validação e companhia para as incertezas de vida da sua geração.

Sep 14, 202355:09
Os 75 países que Joana Bacelar Virgy conheceu e as «pessoas boas» que encontrou com desejos de paz

Os 75 países que Joana Bacelar Virgy conheceu e as «pessoas boas» que encontrou com desejos de paz

Joana Bacelar Virgy viajou por 75 países: rezou numa Mesquita por ocasião da Páscoa, na Tunísia, apanhou boleia no Uzbequistão e ficou em casa da tia de um rapaz que conheceu no avião, conheceu uma família no Líbano que sobrevivia com a plantação de droga e era do Hezbollah, viajou com uma iraniana que conhecia tudo da Europa, viveu um ano na Rússia, esteve em Israel e na Palestina onde conheceu pessoas zangadas entre si que nunca se conheceram, viveu com italianas na Alemanha, fez voluntariado na Suécia com jovens que não estudavam nem trabalhavam.

Com 29 anos, Joana entende que a sua missão de vida é juntar pessoas. O seu desejo é ir ao Afeganistão. Em todas as suas viagens foi em busca da vida real, quis saber onde os sapatos das pessoas assentam e em todos, conheceu o desejo de paz.

Aug 31, 202347:45
15 anos a contar «vidas felizes», com Sónia Neves

15 anos a contar «vidas felizes», com Sónia Neves

Com quase 15 anos de jornalismo, Sónia Neves, da Agência ECCLESIA, vai iniciar um projeto numa aldeia em Portugal, procurando privilegiar uma vida “com tempo e em família”.

Convidada a revisitar os muitos encontros que desde outubro de 2009 foi construindo no jornalismo, e o significado que estes trabalhos têm na sua vida de "mulher de fé", são "felizmente" muitos os encontros e as vidas que procurou entregar, quer nos programas de rádio da ECCLESIA, na Antena 1, em horário noturno ou a iniciar o dia "com alegria", mas também em muitos artigos escritos e programas de televisão que desenvolveu - sempre com a marca de procurar «vidas felizes».

Aug 24, 202357:47
«Servir quem não gosto, que não está nas minhas relações, que pensa diferente - esse é o verdadeiro acolhimento», e a missão de Catarina Pereira

«Servir quem não gosto, que não está nas minhas relações, que pensa diferente - esse é o verdadeiro acolhimento», e a missão de Catarina Pereira

Aos 12 anos, Catarina Pereira foi desafiada a ir embrulhar presentes destinados a crianças na Ceia de Natal da sua comunidade; aos 18 anos, quando passava na rua, uma criança de três anos que brincava com uma beata apanhada do chão deu à jovem a certeza de que o sue futuro só seria feliz se pudesse ser a trabalhar para ajudar essas pessoas. Hoje é assistente social no Projeto Barra, na paróquia de São Julião, em Oeiras e tem a certeza de que, as alturas em que falhou na sua vida, foi quando não acolheu e não se deu. Aos 26 anos, sabe que é a relação com as pessoas que faz a diferença: «Quando eles perceberem que eu não estou num pedestal, tal como eles não são inferiores apenas porque existe uma condição na sua vida que os levou a determinado caminho».


Aug 17, 202353:28
Os valores da música no grupo «Gen Verde» e a vocação de Sílvia Reis

Os valores da música no grupo «Gen Verde» e a vocação de Sílvia Reis

Sílvia Reis conheceu o Movimento dos Focolares aos 14 anos, numa altura em que procurava exigência e radicalidade. Na sua «rotina» cristã não encontrava coerência e a busca da verdade levou-a a Lopiano, em Itália, à cidadela fundada por Chiara Lubich, para que jovens e casais pudessem aprofundar a fé e obter formação.

O seu caminho ganhou o ritmo da bateria no grupo musical «Gen Verde»; hoje é atrás, nos bastidores, que confirma o quanto a música ultrapassa fronteiras, propõe valores e acompanha os jovens.

Aug 10, 202335:07
Os valores da música e a empatia que a língua portuguesa cria, com Carlota Pimenta

Os valores da música e a empatia que a língua portuguesa cria, com Carlota Pimenta

A língua portuguesa e a linguagem musical são dois mundos em que Carlota Pimenta cumpre com mestria, seja juntos do alunos, portugueses e estrangeiros que procuram aprofundar os estudos no português, seja com o violino que a acompanha desde nova.

Na sala de aula, na Universidade Católica Portuguesa, dialoga com diferentes culturas e pratica a empatia como forma de ensino junto de quem quer aprofundar a língua portuguesa; numa orquestra desenvolve o valor do silêncio e da espera, da paciência, do diálogo e humildade e a dar importância ao tempo presente – todos estes valores estarão consigo e presentes quando a Orquestra da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 interpretar o repertório para o Papa Francisco.


Jul 27, 202349:55
A união familiar no caminho de construção da JMJ Lisboa 2023, com Marta e Zarica Beja

A união familiar no caminho de construção da JMJ Lisboa 2023, com Marta e Zarica Beja

Quando a JMJ Lisboa 2023 foi anunciada Marta e Zarica Beja sabiam que teriam de participar. A disponibilidade e espírito de ajuda é uma marca desta família, assim como o constante desafio: umas vezes chega do lado dos filhos, a maioria chega pela energia contagiante da mãe Zarica que com facilidade constrói uma rede de pessoas igualmente disponíveis e solidárias. A certeza de que a JMJ Lisboa 2023 vai ser um acontecimento bom une ainda mais mãe e filha que contagiam em energia e positividade toda a equipa de organização.


Jul 20, 202346:35
A liberdade interior, a simplicidade de Deus e a vida religiosa no caminho de Adriana Abreu

A liberdade interior, a simplicidade de Deus e a vida religiosa no caminho de Adriana Abreu

A vida não decorre em linha reta e não faz mal. Adriana Abreu vai-se descobrindo nas curvas do caminho e diz que ainda bem que assim é, porque é importante criar espaço de liberdade interior para se deixar “desconstruir”, evitando que o «calendário de vida» seja uma escravidão. Foi por isso que no final do primeiro ano do curso de Medicina decidiu suspender o seu percurso para viver nove meses numa ordem contemplativa, pensando que o seu caminho seria realizado na oração. Enganou-se, mas não completamente. À contemplação quis juntar a ação e hoje é como aspirante na congregação Apresentação de Maria – Filhas de Maria Rivier que, com serenidade e verdade, vai caminhando, porque acredita que o lugar onde “se vai encontrar com Deus” é no serviço.


Jul 13, 202352:28
Quando a discrição e a generosidade se aliam para valorizar o bom e o belo, com António Fonseca

Quando a discrição e a generosidade se aliam para valorizar o bom e o belo, com António Fonseca

Foi numa composição da escola primária que António Fonseca disse primeiro querer ser «filmador» e desde então recorda-se de as brincadeiras serem todas em torno de programas de rádio e experimentar ser operador de câmara.

A certeza da comunicação na sua vida conduziu-o a participar em inúmeros projetos ligados à Igreja católica onde contribui sempre de forma discreta. O que seduz António Fonseca é a valorização das histórias bonitas, tantas vezes escondidas, que, tal como o bem não faz barulho, mas ajudam a dar esperança e inspiram quem se cruza com elas.

O seu objetivo é estar sempre disponível para que através dos seus dons, Deus possa passar por ele e para chegar a mais pessoas. Os caminhos e moradas são desconhecidos, mas António Fonseca acredita que há muitos frutos a colher pelo percurso, se mantivermos o olhar disponível.

«Os caminhos de fé são irregulares. Deus usa todos os meios para chegar aos seus filhos, não há caminhos melhores ou piores. Para mim é muito significativo na Igreja hoje: a casa de Deus tem muitas moradas e o caminho para lé chegar também. Eu experimentei isso».

«O meu pai faz um Cursilho de Cristandade, há um percurso de regresso à prática dominical e começa a dar catequese de adultos na paróquia. A minha mãe sempre nos apoiou e respeitou nos bastidores. Quando ela decidiu fazer a primeira comunhão e o crisma, já adulta e anos depois de eu e o meu irmão recebermos o Crisma, o meu pai foi o seu catequista para a preparação dos sacramentos. Hoje estão os dois inseridos na comunidade».

«Na realidade o meu percurso tem sido uma busca de fidelidade ao que Deus me vai pedindo: os projetos vão surgindo, por fidelidade e resposta que vou dando, gosto em poder fazer pontes entre várias sensibilidade e por me sentir chamado a ampliar as vidas bonitas e os testemunhos, que tantas vezes são feitos de forma discreta».

«Se terminasse hoje já teria valido a pena para mim, e para a Igreja em Portugal. Na minha secretária estão pessoas do México, Portugal, Brasil Itália, América que dão meses da sua vida para construir a JMJ, com um desejo autêntico que Jesus seja conhecido, o Papa seja acolhido e a mensagem de construção de um mundo novo seja efetiva. Isto é vitalizante e contagiante. Vejo isso a acontecer na Igreja e estes laços não acontecem de cima para baixo, mas ali se percebem porque já existem».


Jun 29, 202301:05:39
O vale de Chelas está a mudar com a generosidade dos jovens - Frei Tibério Zilio

O vale de Chelas está a mudar com a generosidade dos jovens - Frei Tibério Zilio

Frei Tibério Zilio, da Ordem dos Frades Menores Conventuais, diz que a esperança está a nascer entre os jovens nas paróquias no Vale de Chelas, em Lisboa, marcadas pela pobreza cultural e muito diversas mas onde a generosidade ajuda a congregar.

Há mais de 20 anos em Portugal e atual pároco nestas comunidades, o frade, natural de uma vila pequena perto de Pádua, percorre as ruas de Chelas proporcionando o encontro que acredita fará a diferença nas vidas de quem ali habita, mas também na sua – seguir hoje São Francisco de Assis significa abraçar os encontros e a riqueza escondida dos outros, marcada pela pobreza, mas cheia de gratuidade, e onde o caminho da participação vai ganhando contornos transformadores.

«Não é culpa dos jovens se são inconstantes. A nossa vida é precária e estamos a oferecer precaridade aos jovens, não podemos pretender perfeição. Mas eles, com criatividade ultrapassam-nos. Os jovens estão a ensinar um estilo de vida ecológico. É importante que o mundo adulto abra o coração e as portas da comunidade para fazerem, com erros e limitações, mas deixar entrar. Assim a Igreja renova-se».

«Todos temos um tesouro, um mundo belíssimo dentro e nós, que muitas vezes escondemos ou não apreciamos. No encontro gratuito, acontece sair o que somos, o que podemos fazer por nós e pelos outros».

«O nosso desafio é como ser Igreja em saída ao encontro de quem ou não é religioso ou está na dúvida ou vive de maneira diferente com outros valores, mas que estão ali ao teu lado».

«A minha mãe não era de ajudar todos, mas sempre que olhava para os pobres, que conhecia, ajudava. Eu, pequeno, observava a minha mãe que ajudava um velhinho que passava de vez em quando para consertar utensílios. Às vezes não tínhamos nada para lhe dar mas a minha mãe arranjava sempre uma tesoura, uma faca ou um guarda-chuva para ele arranjar, pagava-lhe e dava-lhe um prato de sopa quente. Isto mexeu comigo. Aquilo que vivemos com a nossa família é marcante para o futuro, fica gravado no coração».

«Foi em 1989, quando fui a Assis para uma semana de espiritualidade, e frade perguntou-me se tinha pensado ser frade e eu nunca tinha pensado; eu pensei seriamente e associei a tudo aquilo que o meu coração já vivia, também a vida simples de São Francisco. Na sexta-feira dessa semana, à frente de 130 jovens, antes de voltar para casa, disse a todos que entrava no convento».

Jun 22, 202358:30
Envelhecer, demência e solidão não têm de ser palavras difíceis, com Isabel Sousa

Envelhecer, demência e solidão não têm de ser palavras difíceis, com Isabel Sousa

Primeiro foi a formação em Política Social, mas a Psicologia foi sempre um objetivo de Isabel Sousa, que hoje, assume, está no sítio certo a acompanhar idosos e as suas famílias, através da psicogerontologia e neuropsicologia.

A demência é a sua área de eleição e o seu caminho é o combate ao estigma que pacientes e cuidadores sofrem envolvidos em falta de informação que os atira, antecipadamente e de forma desconhecida, para uma fase final da doença. Mas há muito para se viver até lá: em estímulos, promoção de autonomia, valorização das pessoas e das suas vidas até ao fim.

Co-autora do livro «Viver com Demência», Isabel Sousa preconiza a implementação de «Comunidades amigas da Demência» e literacia alargada como forma de combater estigmas e alargar cuidados a pacientes e cuidadores.

«Ainda há uma representação social da demência como a pessoa completamente incapaz. Mas sendo esta condição evolutiva e degenerativa, os primeiros sinais acontecem quando a pessoa está autónoma, com a sua voz e capacidade muito mantida. A sociedade - e os meios de comunicação social têm um papel preponderante - representam as pessoas com demência já não conhecendo os seus familiares, sem memória da sua vida. Estamos a empurrar as pessoas para a fase final, que é real, mas há anos da evolução da doença antes disso. Quase como se a pessoa deixasse de ser pessoa; e a pergunta que é faço é quando é que as pessoas deixam de ser pessoas? E nunca deixam de ser pessoas. Porque o ser pessoa não depende se eu tenho ou não memória. A pessoa está lá, continua lá, o cérebro é que já não faz a ligação».

«É importante aceitar que a velhice tem uma dimensão de solidão mas também de possibilidade do que está para vir e isso dá esperança. Envelhecer bem convida a ter os olhos postos no futuro, desfrutar ainda do que se tem pela frente e, se não for muito tempo, que seja desfrutando o melhor possível».

«Estamos a tirar autonomia a quem está a perder autonomia, quando devíamos cuidar do que as pessoas ainda conseguem fazer, quer cognitivamente como no seu dia-a-dia. A perda de capacidade muitas vezes é precoce porque não se permite à pessoa continuar a fazer o que ainda consegue fazer com autonomia. A pessoa tem de ser o mais autónoma possível, em cada momento e de acordo com as suas capacidades. O que estamos a dizer é «tu não sabes fazer». Estamos a esquecer que a pessoa consegue fazer e a achar que é melhor não o fazer».

«Hoje estamos um pouco mais à frente do que estávamos há 10 anos quando iniciei o meu trabalho nesta área. Uma das orientações da OMS é que os países tenham planos nacionais para a demência e Portugal não tinha, entretanto publicada há uns anos – Estratégia nacional da saúde para as demências, ou seja, estamos um passo à frente, mas ainda não saímos do papel. Foi pedido às administrações regionais de saúde que fizessem os seus planos locais, foram feitos e aprovados mas tanto quanto tenho conhecimento, ainda não saíram do papel.»


Jun 15, 202349:40
A ordenação sacerdotal de Rui Faia, aos 49 anos, fruto da maturidade e da escuta de Deus

A ordenação sacerdotal de Rui Faia, aos 49 anos, fruto da maturidade e da escuta de Deus

Rui Faia vai ser ordenado padre com 49 anos na arquidiocese de Évora. Chega a esta etapa da sua vida sem «utopias ou ilusões», fruto de um caminho de amadurecimento onde afirma que mesmo nos tempos de afastamento das práticas sacramentais, sentiu sempre a presença de Deus.

De uma catequese «inquieta» à participação nas JMJ de Paris, em 1997, e em Roma, em 2000, o questionamento interior que sentiu, levou-o a entrar no Seminário. Foi uma curta experiência, que anos mais tarde conseguiu ler e perceber a fundo as motivações para entrar e o porquê da saída.

Muito sereno perante a pergunta «Só agora?», Rui Faia está certo que a Igreja deveria olhar com mais atenção para as vocações tardias e acompanhar «tantos corações inquietos» que se questionam.


«Chego com o coração apaziguado. Há um caminho que eu percorri, que percorro, porque não termina - os desafios superados até aqui ganham na próxima etapa novos caminhos e dores. Há uma confiança, uma maturidade, não há ilusões ou utopias. Só temos uma vida e é importante no tempo que temos descobrir o seu sentido. É uma pena se chegarmos ao final da vida e olharmos para trás sem ter tido a coragem para fazer diferente»

«O tempo não é nosso é de Deus, nunca é tarde. Estamos a assistir hoje a várias realidades que mostram recomeços, não só na Igreja, e eu não os diria tardios. A vocação tardia acontece pela nossa distração e porque Deus não se impõe. Cada vez mais temos de parar, escutar e perceber que a pergunta que nos é colocada. A Igreja deveria atender aos corações irrequietos. Deveríamos olhar para as pessoas mais velhas que se interrogam, e não apenas sobre a vida religiosa. Sinto que há uma procura incessante, sem esquecer que há um caminho longo a fazer e requer paciência.»

«O meu regresso à Igreja acontece quando na minha paróquia chega um padre novo e que começa a dinamizar a paróquia, um pouco antes d e1997. Este fulgor novo que atraiu muitos jovens fez com que muitos de nós nos aproximássemos. Uma da primeira atividades foi o desafio de participar na JMJ, em Paris em 1997. A vivência de uma igreja mais ampla fez-me sair do espaço paroquial, que em si era já uma redescoberta, que trouxe muitos à igreja, mas o ir a paris, ver jovens de todo o mundo, estar perto de São João Paulo II, fez-me vir com o coração cheio.»

«Os verdadeiros momentos em que pude escutar Deus, foi quando tinha de ir trabalhar para Lisboa; chegava muito cedo, e enquanto esperava o autocarro, ficava dentro da igreja de Moscavide. Eram 20 minutos em que ali estava, numa experiência de silêncio, e entrava num diálogo mais íntimo. Esses momentos começaram a mexer comigo, percebendo que Deus me questionava».


Jun 08, 202301:04:38
Joana Morais e Castro e a liturgia sacramental dos encontros

Joana Morais e Castro e a liturgia sacramental dos encontros

Serão sempre as pessoas a unir a vida de Joana Morais e Castro. Mãe de quatro filhos, jurista de formação, tem dificuldade em dizer qual a sua profissão, uma vez que o seu percurso colocou-a em contacto com o IPAV, a Compassio, o Centro Comunitário São Cirilo e, mais recentemente, a Área Transversal de Economia Social da UCP.

Nesta conversa Joana Morais e Castro fala sobre a sua «primeira escola de fragilidade», sobre as cartas que ainda hoje troca com a sua mãe, sobre as conversas com os imigrantes que conheceu e lhe falavam de Deus, sobre a pergunta do seu filho que a levou, já adulta, a procurar a catequese, e sobre o «pino» que a filha Maria Joana obrigou a família a fazer para descobrir «o lado certo da vida»

«Começamos a sentir, com a Maria Joana, coisas que não sabíamos existir: exclusões, formatos de olhar para o ser humano que não sabíamos que existiam, obstáculos que não sabíamos, medos que não tínhamos – de futuro, do presente – e de repente percebemos que é tão bom - não é fácil, mas é bom. Percebemos que a perfeição estava aqui e isso levou-nos a assumirmo-nos como frágeis e levou-nos a pedir ajuda»

«As missões vão mudando e o sentido onde estamos também muda, mas o central são as pessoas. Sou profundamente apaixonada pelas pessoas. É nos encontros que escuto Deus. Em todos estes trabalhos onde estive e servi é isso que une: a fragilidade, a exclusão e o encontro, com as pessoas. Acredito que somos chamados a servirmo-nos mutuamente. Se estamos díspares de necessidade e nos podemos ajudar, se nos dermos a este encontro, vamos perceber que nos damos mutuamente. Quando há uma troca, percebemos que este é o único caminho para nos tornarmos humanos».

«Podemos escolher a beleza, seja qual for a circunstância em que estamos, mesmo que seja difícil. A beleza é uma escolha. Em todos os momentos conseguimos vê-la, mesmo nos mais difíceis, mais duros e improváveis. Quando conseguimos, na improbabilidade, ver beleza, salvamo-nos».

«Hoje tenho menos medo do erro, deixo-me permear pelo erro. E quando deixamos que isso aconteça, acontecem orações, sacramentos do encontro. É nas pessoas que encontro Deus».


May 25, 202301:01:34
Quando a escuta é lugar de construção do bem-comum, com Maria Helena da Bernarda

Quando a escuta é lugar de construção do bem-comum, com Maria Helena da Bernarda

Há lugares comuns mais importantes do que o exterior que separa as pessoas. Maria Helena da Bernarda está certa que uma lágrima será sempre uma lágrima, que a alegria será alegre quando manifestada, não importa a educação, o contexto de vida, as dificuldades ou conquistas. É essa certeza – e o que a sua partilha provoca empaticamente – que a leva a abordar desconhecidos na rua e a contar as suas histórias.

Assim acontece desde novembro de 2018 na página «Nós nos outros», onde diariamente concretiza três paixões: as pessoas, a escrita e a fotografia.

«É nos sentimentos e nas emoções que encontramos a nossa vida; é só preciso aprender a lidar positivamente com as emoções do sofrimento. É ele que nos faz crescer, aprender e também compreender melhor quem sofre. Tenho a perfeita consciência que a tristeza e a alegria convivem, não são opostos, mas caminham lado a lado todos os dias da nossa vida. É isso que eu procuro.»

«O tempo é o bem mais precioso que temos. Durante muitos anos dediquei-me a ser muito responsável a gerir empresas. Mas isso deixava-me pouco tempo para o outro lado da minha vida, nomeadamente os meus filhos, a família e os meus pequenos prazeres, como tocar piano, pintar. Houve muita coisa que ficou para trás. Quando pus os pesos, achei que estava talvez na altura de mudar a minha vida. Tive de pensar várias vezes porque se ganha algumas, perde-se outras, mas não estou nada arrependida. Todos os dias recebo palavras de gratidão por histórias que escrevo. Chego sempre revigorada para casa e penso «Sou mais feliz por ter feito isto e deixei aquela pessoa também mais feliz»”».

«Vivemos num mundo agressivo, marcado pela incerteza no futuro, o stress – tudo isto é muito difícil e penso que cada vez mais a solidariedade é necessária. Não podemos exigir só dos políticos, ao Estado, às Instituições, mas de nós próprios temos de exigir atenção ao próximo».


May 18, 202352:22
João Valério e o projeto da cidade das Jornadas Mundiais da Juventude

João Valério e o projeto da cidade das Jornadas Mundiais da Juventude

Não se pode dizer que João Valério veja o mundo entre a música e a arquitetura, mas ambas as artes têm um peso na sua vida e o arquiteto de profissão, melómano nos tempos livres, até encontra uma gramática comum. Desde cedo a arquitetura «casa» foi sendo apreendida a partir da sua experiência familiar; com o crescer, foi consolidando a «casa interior» que, naturalmente encontrou espaços exteriores para poder duvidar, questionar, confrontar e consolidar.

O jovem de 29 anos integra, com o seu violino, a orquestra que entre 1 e 6 de agosto vai tocar nos momentos celebrativos da Jornada Mundial da Juventude.

Desafiado a construir a cidade das Jornadas, gostaria de a ver como uma futura igreja a ser construída: com uma mesa onde todos cabem, um espaço sem paredes onde todos podem entrar, abeirar, experimentar, e um adro para encontros inesperados.

«Gostaria que a cidade se tornasse num espaço de convite: que as jornadas possam ser não só algo chato porque os transportes vão ficar difíceis e estarão cheios, mas que seja uma oportunidade de viver uma experiência do religioso – por vezes é algo com que as pessoas não se identificam, e isso será de respeitar, mas havendo a oportunidade de descobrir algo, então que o seja de facto, conduzindo a uma descoberta. Por vezes nunca será esse o caminho, outras vezes será depois de muitos anos, outras vezes será apenas um caminho de humanidade».

«Creio que existe uma busca muito grande pela transcendência. Pela falta de referências acaba por ser uma busca difícil, com muitos becos sem saída, em conceitos latos como a beleza - que são importantes para a vida mas que por vezes não expressam a transcendência. A busca, a inquietação interior, não encontra, por vezes, fundações muito sólidas, pontos de referência e a experiência do sagrado. Existe o anseio humano por algo mais, além daquilo que é físico, mas é difícil dar um nome às coisas e não quero dizer com isto que a ideia de Deus tenha de ser aceite por todos. Claro que partilhamos a experiência e gostamos quando as pessoas se sentem interpeladas por essa experiência, mas não se trata de uma obrigação. A religião é uma experiência de liberdade».

«A casa interior não cresce se ficar apenas dentro de casa: para isso, os amigos são muito importantes, os grupos onde nos vamos inserindo, quer na dimensão mais eclesial com grupos de jovens ligados a paróquias, como grupos onde a Igreja praticamente não tem parte – e isso também é muito importante para nos questionarmos, sendo também a oportunidade para levar a Igreja a outros que não a conhecem ou a percecionam de forma distorcida. Essa casa interior que cresce fora é essencial, naturalmente compreendendo um regresso para arrumar ideias e fazer sínteses».

«Há uma parte importante de construção de uma igreja como espaço de encontro, e nesse sentido, implicaria as pessoas que se reúnem em torno do altar, da mesa comum, que é para todos, que não exclui e a mesa que é do sacrifício mas também da refeição, e por isso, do encontro. A possibilidade de a igreja ser um espaço fora do mundo - podemos sentir que estamos num espaço diferente mas não se desliga do mundo e pode ser aberto. A igreja pode ir também para fora – não precisa de ser o espaço apenas interior, e o adro é a figura mais representativa dessa igreja que sai, e pode ser o espaço da comunidade, de sair mas onde os outros podem entrar, o espaço da festa da comunidade, do arraial, do encontro, do juntar. O espaço em que a igreja tem uma presença na cidade, não como imposição, mas como convite».

May 11, 202301:16:53
Patrícia Doro e a Igreja que se alarga

Patrícia Doro e a Igreja que se alarga

Para encontrar Patrícia Dôro é necessário ir à paróquia de Algueirão-Mem Martins, comunidade onde radica o seu crescimento na fé, onde assumiu as primeiras missões e ali conheceu diferentes dons, caminhos e formas de unidade na Igreja. É àquele espaço que sempre regressa apesar dos muitos lugares por onde já andou e que lhe deram uma vida crescente e alargada da Igreja. Nas suas palavras encontramos uma certeza de estar no lugar certo, descoberto e confirmado em cada projeto, em cada desafio, em cada encontro. Integrar a organização da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 é mais um passo da Igreja que se alarga, mas que cresce com a simplicidade, genuinidade e sonho.

«Desde cedo intui que se Deus me colocou naquele espaço é ali que devo servir, foi ali que crescei. A novidade que conhecemos noutras comunidades pode levar-nos a pensar que outros fazem melhor, ou são mais comunidade, mas sinto que sou sortuda porque sou chamada a ir beber a esses lugares novos para trazer para o meu lugar. Deus também nos vai construindo nos lugares onde nos coloca. Faz-me muito sentido servir a comunidade».

«Continuo em jornada desde 2019. Fui estando envolvida nos processos e quando começámos a organizar equipas, pude relacionar-se com os peregrinos nacionais. Os diretores intuíram que era importante cuidar dos nossos, a chamada Rede Igreja, onde nos relacionamos com os 21 COD, sendo rosto das pessoas que querem participar».

«É muito bom partilhar cansaço e irmo-nos animando uns aos outros. A bola vai crescendo e quem acompanha a peregrinação dos símbolos, sente isso - a transformação que acontece pela passagem dos símbolos da JMJ pelos locais. É interessante perceber como diferentes convites vão surgindo ao longo do caminho até à Jornada».

Apr 27, 202349:24
Mafalda Lapa quer sonhar a escola com os alunos e construir o futuro da sociedade com todas as capacidades dos jovens

Mafalda Lapa quer sonhar a escola com os alunos e construir o futuro da sociedade com todas as capacidades dos jovens

Nem sempre quis ser professora mas quando Mafalda Lapa se viu, pela primeira vez, numa sala de aula com alunos percebeu que a sua vocação, missão e o seu coração estavam no mesmo local. Estudou Biologia vegetal aplicada mas desistiu da investigação para entregar a resiliência com que cresceu aos estudantes do Agrupamento de Escolas da Cidadela, em Cascais. No gabinete GUIA, recebe estudantes à procura de melhorar as notas e investir no seu futuro, mas também ali conhece desabafos que precisam de silêncio, espaço para contar a sua história e para reconhecerem ter todas as capacidades para sonhar o futuro.

«Cultivamos pouco saber que é humano a pessoa sentir que não tem capacidade, sentir-se mal, estar triste – tudo isto faz parte, achar que a vida não vai mudar, ou que nos acontece uma desgraça e que isso se vai arrastar negativamente para o resto da nossa vida – é humano pensar isto. Cultivamos muito o sucesso, mas muito pouco a imperfeição. Na escola, cultivamos pouco o erro, nós castramos o erro».

«Digo aos alunos que estão sempre a tempo de mudar o seu percurso, a escolha que fizerem não vai ser para sempre, vai haver oportunidades. «Segue o teu instinto, mantém-te atento, olha o mundo, aprende novas competências, garante que todos os anos aprendes alguma coisa nova». E como escola temos esse dever – abrir o nosso espaço ao mundo, para que os alunos possam conhecer o que está lá fora e decidam o seu caminho».

«A escola hoje apresenta muitos problemas emocionais por resolver, muitos conflitos, é um lugar tenso, mas é também um lugar atento, como acho que nunca foi. A escola é das melhores instituições que temos, mesmo quando os alunos reprovam ou com situações de indisciplina, a escola não larga ninguém, não deixa ninguém para trás. No espaço escolar há muitas pessoas diferentes, muitas vezes fechados na mesma turma, e a escola está a ensinar a viver. Nós fazemos isto, por isso os professores devem ser bem tratados e reconhecidos».

«Um encontro de jovens de tantos países só pode trazer muitas coisas boas. Esta é a oportunidade de se reunirem muitos jovens: ouvir e depois passar à ação. Só o ouvir, no momento atual, é pouco. O mundo precisa de ação. Precisamos de tempo para ouvir e refletir, mas precisamos depois de ação. A ação dá trabalho, mas em grupo custa menos».

Apr 20, 202301:11:22
Do silêncio e da vida fraterna das Monjas de Belém à arte multimédia na JMJ, com Isabel Novais

Do silêncio e da vida fraterna das Monjas de Belém à arte multimédia na JMJ, com Isabel Novais

Atraída pela simplicidade de vida e pelo absoluto, Isabel Novais foi Monja de Belém durante cerca de 13 anos. Dentro do mosteiro de clausura descobriu que as irmãs eram felizes e que o silêncio e solidão que conduziam os dias eram um caminho para a relação com Deus. Em Sesimbra, durante quatro anos, e depois em França, ao longo de sete, conheceu o coração da Igreja, descobriu a beleza da liturgia, fez beleza com as suas mãos nas diversas artes que a monjas produzem. Um dia sentiu que o seu lugar não era mais ali, mas mantém hoje a certeza que aqueles anos foram os melhores na sua vida. Isabel Novais emprega hoje os seus dons na organização da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, apresentando este grande encontro ao mundo.


«Quando me perguntam porque fui para o mosteiro eu digo: «Pela mesma razão pela qual as pessoas casam». Se há coisa que não me acontece é arrepender-me. Valeu tudo a pena. Se hoje voltasse atrás e se Deus me mostrasse que iria para o mosteiro e ia sair depois sem nada, eu ia na mesma. Não perdi, eu só ganhei».

«A liturgia católica romana, dentro do mosteiro da família das Monjas de Belém, conciliam os dois ritos, os dois pulmões da Igreja. Isso traz muito. A liturgia faz entrar no mistério e na comunhão fraterna. Cantarmos juntas, seguir o outro é um momento de comunhão, mesmo que não haja conversa. Ali, tudo converge para o mesmo»

«O que a minha vida poderá dizer é que vale a pena arriscar em Deus. Só ficamos a ganhar. A experiência que eu tenho é que se deve arriscar perante um pequeno convite de Deus. Foi o que experimentei toda a minha vida. Não estou arrependida de ter saído, mas tudo faz parte de um projeto maior de Deus».

«O facto de vivermos este tempo de preparação, todos os dias reunimos no Ângelus (oração do meio-dia); celebramos missa em conjunto na Semana Santa rezámos as Laudes. Criamos um ambiente para vivermos um encontro (Jornada Mundial da Juventude). É um pedaço de Igreja. Constantemente há grupos a passar. Estamos a preparar um encontro mas nós já nos estamos a encontrar».


Apr 13, 202301:01:53
O rap, a «sagrada família» que ajudou em Lesbos e o alter-ego musical do psicólogo João Ameal

O rap, a «sagrada família» que ajudou em Lesbos e o alter-ego musical do psicólogo João Ameal

Conversamos com João Ameal e com João Sem-Tempo. São a mesma pessoa, em duas facetas entre tantas que o compõem: psicólogo educacional que até faz rap se essa for a linguagem eleita para conseguir fazer o processo terapêutico com o seu paciente, e o músico que corre atrás do tempo para deixar que essa expressão intrínseca à sua vida saia de si. Pelo meio há ainda os 10 minutos que dedica, todos os dias, a sentir o sol, a sentir a fé que sempre o acompanhou – apesar das dúvidas – e a agarrar uma mão, que sente presente na sua vida. João Ameal regressa ainda, nesta conversa, a Lesbos, acompanhado pela mulher, naquela que foi “uma segunda lua-de-mel especial”, ocasião onde ajudaram uma «sagrada família».

«A crise dos refugiados estava mais presente que nunca e sentíamo-nos muito impotentes e desinformados, na verdade. Envolvemo-nos com a Plataforma de Apoio aos Refugiados e fomos, como voluntários. Um campo de refugiados em termos de saúde mental é mais grave do que estar preso: ali não há previsão, é a vida em suspenso com adultos muito deprimidos, crianças aos Deus dará, muitos traumatizados com a guerra e a viagem e eu olhava e não sabia o que fazer»

«Ligaram-nos às 4h da manhã, pegamos no carro que era da PAR e fomos ter ao campo para supostamente ajudar um casal, cuja mulher estava grávida de gémeos, teria entrado em trabalho de parto e foi levada para o hospital. Fomos chamados para ficar com os filhos, mas quando chegamos, percebemos que afinal havia um tio disponível. Um tradutor manifestou vontade de ir ter com o casal ao hospital, que teria dificuldades de comunicação e decidimos levá-lo de carro. Quando chegamos ao hospital, disseram que a mulher não estava lá – afinal era uma intoxicação alimentar e tinham-na mandado embora, às 5h da manhã, com três graus negativos e a vários quilómetros de distância do campo. Percorremos ruas à procura do casal, finalmente encontramos e mal a mulher entro no carro desmaiou. Nem acreditavam que alguém podia estar à sua procura, sentiam-se sós e abandonados pelo mundo. Nunca vou esquecer o olhar do marido, de impotência. Aquele casal, para mim, foi uma sagrada família - sozinhos e rejeitados, à procura de uma estalagem. O nosso carro velho foi um anjo a chegar. Num lugar onde não há nada, um gesto faz uma enorme diferença».

«Temos uma segunda pandemia em mãos, mas é muito silenciosa que é a pandemia da saúde mental. Os números têm sido exponenciais. Todos os dias acompanho mais um adolescente com um ataque de ansiedade, de pânico. Isto é uma doença que mata e muito, e tem de ser encarada de forma séria ou arriscamo-nos a perder esta geração. Estou preocupado com os números alarmantes de miúdos que estão deprimidos, ansiosos, medicados. Se a geração acima não se preocupar seriamente em abordar isto com cuidado, vai ser muito difícil com esta geração chegar a um mercado de trabalho, tornar-se autónoma».

«O nosso mundo é muito rápido, demasiado exigente e a maior parte das pessoas acaba por fazer coisas em piloto automático. A imagem que tenho é de estarmos a correr numa passadeira do ginásio sem ir a lado nenhum, porque na verdade não sabemos para onde corremos. Algumas pessoas que acompanho estão desenfreadas à procura da felicidade, mas não sabem o que é e não sabem onde encontra-la. Criam objetivos que acham que é o que precisam, e correm atrás; quando lá chegam compreendem que não era aquilo, e gastam-se no caminho. Acredito que a felicidade passa por desacelerar primeiro, olhar à volta, viver uma coisa de cada vez, no presente e não no futuro que não vai chegar e não vai ser o que pensávamos que iria ser».

Mar 30, 202301:03:04
Do grupo «FigoMaduro» ao trabalho a solo «No Monte», Luísa Vidal cresceu ao som da música e dos valores que ela transmite

Do grupo «FigoMaduro» ao trabalho a solo «No Monte», Luísa Vidal cresceu ao som da música e dos valores que ela transmite

A voz doce de Luísa Vidal acorda na memória o projeto musical «FigoMaduro», que continua hoje de norte a sul a percorrer estradas em contacto com pessoas e palcos diversos. O grupo que integra com a mãe Madalena, as irmãs Maria e Madalena e o irmão João, semeou na sua vida a certeza que a música chega ao coração das pessoas e, dessa forma, se podem passar mensagens humanas, reflexivas e inspiradoras. Luísa Vidal lança-se a dolo agora num primeiro trabalho «No Monte», totalmente produzido no Alentejo, onde letras e músicas da sua autoria convidam a entrar no seu mundo, a conhecer o seu percurso e valores que quer dar aos outros.

«Olho para a música como partilha de mensagem. O EP tem músicas mais pessoais, mas tenho um rol de outras por lançar que são reflexões transversais. O meu objetivo é fazer as pessoas pensarem para além do quotidiano. A música é uma mensagem que chega diretamente ao coração. E eu gosto de pensar na minha música pode ser uma ajuda para quem a escuta». «Ao longo do meu percurso, mesmo enquanto estudava, procurava nas férias ir para fora e isso levou-me projetos de voluntariado e a procurar experiências que me foram enriquecendo a nível humano e moldando a visão que tenho do mundo e, por isso, as minhas composições também. O que podemos aprender uns com os outros, independentemente das condições em que nascemos e crescemos, marca o que escrevo». «(Fazer a formação na Academia de Líderes Ubuntu) Permitiu-me fazer um processo de crescimento pessoal enorme mas deu-me ferramentas para ir ao encontro do outro. Isso foi-me dando reportório de linguagem para desenvolver ideias que germinavam e compor. Acho que vinha de trás (a certeza da composição e da música na sua vida), mas a Academia deu-me espaço para criar ideias que eu já tinha». «Casei com um engenheiro agrónomo, e teríamos de procurar aquele lugar, mas fui à procura de uma vida menos agitada, com mais tempo, a dar tempo ao estar. Permitiu-me dedicar tempo a composições que já estavam feitas, mas escutei-as de forma diferente, e pude pensar na sua produção. Aquela tranquilidade e espaço inspira-me para produzir estas músicas».

Mar 23, 202345:18
A experiência «íntima», «sublime», «perfeita» que a música oferece contada por Sérgio Peixoto

A experiência «íntima», «sublime», «perfeita» que a música oferece contada por Sérgio Peixoto

Sérgio Peixoto é amante de música: neste adjetivo cabe a história que foi construindo desde que aos cinco anos, quando sentiu que a música que a sua mãe e avó cantavam lá em casa, significavam acolhimento e segurança.
O seu percurso como cantor, diretor ou investigador levou-o a percorrer o mundo em diferentes projetos musicais: grupo Olisipo, Tetvocal, Coro Gunbenkian, «Sete Lágrimas» e «Mãos que cantam» são diferentes formas de experimentar a música e as sensações que ela permite.
Sérgio Peixoto assume que a música foi um caminho espiritual que se abriu na sua vida quando começou a descobrir os clássicos, Mozart e Bach, mas também a recuperar música antiga, renascentista e romântica.
O prazer de parar o tempo quando o sublime acontece em palco é algo que quer guardar para si, até mesmo antes de o oferecer ao público, e reconhece que tantas vezes tem sido um privilegiado por sentir «o vento do Espírito».

«Mozart e Bach foram essenciais. Quando começamos a descobrir estas músicas e a cantar as músicas, a entendê-las, o universo espiritual abre-se. A minha sensação é quando estou a cantar ou ouvir – já não é só o cantar – parece que a porta do céu se abre e mil imagens, mil sensações complementam-se nesta atitude mais espiritual.»

«A música, no seu sentido mais abstrato, não se pode tocar. É como o espírito. Quando participei numa obra «A missa de Pentecostes», composta por João Madureira para o grupo «Sete Lágrimas», senti que a música é o vento do Espírito. Gosto muito desta imagem e utilizo-a muito. Acho esta atitude muito íntima e religiosa. O silêncio, o som, estas duas coisas que parecem tão diferentes, não o são. O vento é muitas vezes um remoinho, às vezes é uma brisa, outras vezes é um furacão intenso. Gosto de pensar que é o Espírito Santo que nos orienta e guia.»

«Bach escutou Deus e Deus estava sobre o ombro de Bach a dizer «Estás a ir bem! É mesmo esse o caminho!» Tenho amigos que não são crentes e acreditam em Bach, que há ali algo de transcendente, de espiritual. Mas não conseguem explicar. Não sei se é pela técnica aprumadíssima do compositor – não é só isso – também a alma e julgo que esse vento do Espírito que cai sobre Bach, e ele transmitiu nas suas partituras, que durma até hoje, têm um efeito impressionante, mesmo nas pessoas que não creem. É o som, a melodia, a harmonia, eu chamo de matemática espiritual. Não há mais nada – é impossível. Já não era possível ir mais além. Não consigo explicar por palavras, é qualquer coisa de religioso para quem crê, mágico para quem não crê.»

«Desenvolver a língua gestual portuguesa, no seu aspeto artístico e estético, era algo que não se fazia e já se faz graças ao grupo «Mãos que cantam». A forma como se interpreta está a mudar porque veem os surdos a fazer este trabalho. Construímos gestos de direção musical que são diferentes dos gestos para um coro de ouvintes e desenvolvemos a língua gestual portuguesa no sentido estético e artístico do termo, tal como criamos gestos para conceitos que não estavam definidos, nem era uniformes no universo surdo. Isto é o desenvolver de uma língua».

Mar 16, 202301:19:15
A fé partilhada em comunidade na experiência de Maria Francisca Silva

A fé partilhada em comunidade na experiência de Maria Francisca Silva

Maria Francisca Silva pertence às Comunidades de Vida Cristã, ligada à espiritualidade inaciana, porque entende que a vida de fé tem de ser partilhada e rezada em comunidade. É isso que tem procurado fazer desde sempre, por isso, falar do seu percurso de fé implica regressar à comunidade paroquial, à catequese, às experiências de voluntariado, ao colégio católico, mas, mais recentemente, ao desafio de integrar uma plataforma mundial de reflexão sobre a fé e a espiritualidade nos jovens, e também à tarefa de ser pivot de ligação da CVX ao COL, responsável pela organização da JMJ Lisboa 2023. Nesta conversa conhecemos ainda o sonho desde pequena de ser médica, porque queria servir, mas também pelo fascínio que o corpo humano sempre lhe causou. A sua especialidade é Medicina Geral e Familiar porque acompanhar pessoas desde a sua conceção até à sua «4ª ou 5ª idade» é o que quer fazer para o resto da sua vida.

«As JMJ são uma ocasião para os jovens se reconhecerem como Igreja, tal como eu me reconheci em 2011; dizerem sim e que querem fazer parte do corpo da Igreja. Quando nos reconhecemos como parte de algo, queremos contribuir, e as jornadas podem ser uma forma para os jovens perceberem como podem ser os mãos e os pés de Jesus.»

«(A Plataforma) Procura responder a uma presença e participação de jovens na Igreja, à procura de viver a espiritualidade nas suas relações. A CVX percebeu que os jovens fazem parte do seu corpo e quer perceber que dinâmicas e sonhos os jovens têm e querem implementar.»

«O sonho da medicina vem desde pequena: é uma forma de servir, cuidar do outro e estar presente; mas tenho um fascínio enorme pela forma como o nosso corpo funciona, e está organizado: a forma como as células se diferenciam e todas juntas colaboram para o que é preciso, como um neurónio comunica com sinais elétricos e nos faz sentir dor, emoções.»

Mar 09, 202301:01:30
O silêncio e a procura, a guerra na Ucrânia e os seus cheiros, o extraordinário e o espanto nas fotografias de Rui Caria

O silêncio e a procura, a guerra na Ucrânia e os seus cheiros, o extraordinário e o espanto nas fotografias de Rui Caria

Rui Caria diz que é do silêncio, mas o fotojornalista que esteve 40 dias na Ucrânia, depois da invasão da Rússia a este país da Europa, é também das palavras: é do simples e do profundo, é do espanto e do extraordinário nas fotografias que capta e publica, é da paz e do silêncio que as estradas dos Açores lhe oferecem, ou da bruma e da tempestade açoriana que tanto gosta e onde diz, aí talvez encontre Deus. Nesta conversa falamos do trabalho, que não foi só trabalho, na Ucrânia, do cheiro e das fotografias de rostos que por lá tirou, de outras tantas imagens que preferiu não captar para não mostrar, e do muito que as suas imagens não captaram mas mostram.

«Quando achamos que aquilo é normal, é perigoso. Quando achamos que ver gente morta pelo caminho é normal, é altura de vir a casa ou vir para casa»

«É muito fácil regressar ao cheiro e sobretudo não nos esquecemos do que pensamos quando começamos a cheirar certas coisas, como a morte. Começamos a tentar refletir sobre aquilo. Lembro-me de termos descoberto 11 corpos de soldados russos numa vala comum através do cheiro. Isso faz de nós animais? «Para o carro porque há aqui alguém morto», ou alguma coisa morta – também usamos este tipo de linguagem. Alguma coisa porque é o indefinido: um cão morto, um gato morto, um rato morto cheira ao mesmo que um homem ou uma mulher morte. Na morte cheiramos todos ao mesmo»

«A fotografia para mim é documento, eu não posso fazer arte com a desgraça dos outros. Os conceitos da fotografia fazem-me andar atrás das fotografias. Para ser fotografia temos de olhar para as coisas como crianças, com a curiosidade de uma criança»

«(Já fotografaste Deus?) Ele sabia que eu não tinha resposta para isso. Ainda ando à procura de Deus. Não sei se acredito em Deus - espero que ele acredite em mim. A procura de uma presença aparece naturalmente na cabeça das pessoas, também na minha. Se vir uma trovoada, uma neblina ou uma bruma, uma tempestade nos Açores, ai parece-me que Deus existe, que Deus é isto. Acho que Deus são acontecimentos, são pedaços de coisas. Falo muito sobre a morte e a vida com o Júlio, mas surgem sempre mais perguntas. E as perguntas também nos fazem avançar».

Feb 23, 202301:23:35
Missão País foi o reinício da vida cristã de António Sequeira Lopes

Missão País foi o reinício da vida cristã de António Sequeira Lopes

António Sequeira Lopes iniciou a sua participação na dinâmica da Missão país em 2018, enquanto estudante da Faculdade de Belas Artes, em Lisboa, e assume que foi ao engano. Mas aquela semana foi o princípio de uma vida.
Nunca deixou de fazer perguntas sobre o sentido da vida, depois de em pequeno se ter afastado da prática cristã. Naquele ano, em Chão de Couce, entre 50 “miúdos” que abrem o coração nas partilhas de vida, “riem, choram e cantam em conjunto”, os pontos ligam e percebe que “Deus esteve sempre lá a escutar as perguntas que mandava para o ar”.

«O que melhor descreve a minha experiencia de fé é a simplicidade. Na Missão País estão 50 miúdos a falar de coisas sérias enquanto riem, cantam e choram. Como é que isto é possível? Isto é para quê? Não pode ser para nós e para nosso benefício. Tem algo mais. Como é que Deus se encontra aqui? Está em todo o lado, em cada conversa e partilha. E nessa simplicidade, os pontos começam a conectar-se e Deus diz ‘sempre estive aqui’.»

«Ser chefe de oração, tendo começado um caminho mais sério em 2018, parece uma responsabilidade muito grande - temos o alinhamento espiritual da semana nas mãos. Fiquei muito contente e emocionado e é uma confirmação do que este caminho que faço.»

«Se não tivesse acontecido missões na minha vida, muita coisa não tinha sido vivida. Há sempre mais questões que respostas mas ainda bem que há um espaço onde as posso colocar. A missão país não é uma conversão direta, mas pode ser o início de algo. Ser católico é difícil: é um trabalho constante de superação, de continuidade, de conversa, diálogo e que requer alguma rotina.»

«Aprendi muito em Belas Artes sobre pessoas, histórias, tolerância, empatia. Existe uma liberdade entre artistas, encontramos questões de identidade, de filosofia de vida que nos leva a pensar numa única coisa: perceba-se ou não, tudo o que está por trás, são pessoas com histórias, traumas e problemas, alegrias e frustrações iguais. Posso não perceber o que estás a sentir mas percebo que devo respeitar e ouvir-te.»

Feb 16, 202301:09:38
A enfermagem, as viagens das cinco JMJ e o amor em Calcutá, com Pedro Moisés

A enfermagem, as viagens das cinco JMJ e o amor em Calcutá, com Pedro Moisés

Pedro Moisés gosta muito de pessoas e não esconde um carinho especial pelas pessoas mais velhas. Ter vivido com as suas avós ajuda a isso, e talvez explique a sua vocação de enfermeiro, mas a passagem pelos cuidados paliativos, já formado, ajudou-o a perceber que o importante na vida e nos cuidados é o agora: o telefonema que não se adia, o toque que não se esconde, a palavra que não se nega, o passeio que não se atrasa.
À vocação para cuidar junta-se o imenso gosto em viajar: se as viagens forem a capitais onde a Jornada Mundial da Juventude esteja a acontecer, melhor ainda: Colónia em 2005, Madrid em 2011, Rio de Janeiro em 2013, Cracóvia em 2016 e Panamá em 2019, foram destinos que não mais se esquece – da festa, das palavras e dos encontros - assim como de Calcutá, em 2018, onde durante cinco semanas cuidou de moribundos e onde aprendeu o que é o amor.

«Inicialmente de uma forma mais obrigatória – temos muitas histórias engraçadas da hora do terço porque dava-nos vontade de rir e a minha avó punha cada um no seu quarto, de rádio ligado, para continuarmos a rezar; lembro-me de levantarmo-nos às 6h30 para irmos à missa às 8h porque a minha avó dizia que a das 11h era para os preguiçosos – mas hoje reconheço que estes pedaços de fé da minha avó marcaram a minha infância e o meu percurso espiritual»

«São Bento Menni dizia que uma pessoa vale mais do que o mundo inteiro. A enfermagem olha para a pessoa, quer cuidá-la no seu todo e esquecer o resto. E tantas vezes é difícil porque sabemos que os cuidados de saúde mudaram muito e é difícil ter tempo. Nem o médico nem o enfermeiro querem só dar resposta às necessidades biológicas do doente: nenhum enfermeiro ou médico estudou para isso, mas queremos dar resposta à pessoa como um todo»

«Havia pessoas que recebíamos (na casa dos moribundos, em Calcutá) e que não estavam em fase terminal e uma irmã explicou-se que recebiam aquelas pessoas a quem lhes ia ser dado um banho, fazia-se a barba, dava-se uma refeição e roupa lavada. Lembro-me de ter dito à irmã: «Que desperdício, a Índia é muito grande, não se podem salvar todos». E a irmã respondeu-me «Pedro, isto é o amor. Nós gastamo-nos sem ter nada em troca e vale a pena. A pessoa vai voltar para a rua mas ela foi amada na mesma. As pessoas que apenas aqui ficam cinco minutos e depois morrem, valem a pena porque nesses cinco minutos elas foram amadas». Quando me vim embora elas disseram-me que Calcutá estava em Lisboa, que a solidão existia cá assim como pessoas a morrer sozinhas»

«Recordo-me de entrar em Colónia por uma das pontes e ver as bandeiras no ar, todos a cantar os mesmos cânticos mas em línguas diferentes, encontrar ruas alegres com ambiente saudável e alegre. Conheci jovens com caminhadas muito diferentes. Conheci um grupo de jovens chineses que me falaram da Igreja perseguida. Dei-me conta de uma Igreja universal e percebi a minha responsabilidade de construir a Igreja com os outros, de como me devia preocupar e rezar por eles»

Feb 09, 202301:05:56
Cultivar o espanto e agarrar as oportunidades de crescer levou Mariana Craveiro a integrar equipa de comunicação da JMJ Lisboa 2023

Cultivar o espanto e agarrar as oportunidades de crescer levou Mariana Craveiro a integrar equipa de comunicação da JMJ Lisboa 2023

O sorriso de Mariana Craveiro encontra-se nos olhos, quando pensa nas oportunidades que teve ao longo da sua vida para crescer em Igreja, procurando responder às muitas perguntas que foi tendo. Crescer deu-lhe calma na procura das respostas, mas não lhe tirou as perguntas e a capacidade de se espantar com o que lhe é dado viver todos os dias. Com formação em Relações Públicas e Comunicação Empresarial, deixou o seu trabalho num agência de comunicação para ir trabalhar para a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, uma oportunidade «única» de ajudar a preparar um encontro que, afirma, está a contribuir para construir a Igreja e a aproximação entre todas as pessoas.

«Quando era nova havia coisas da Bíblia que não percebia e não queria fazer o Crisma, mas a interpretação que temos, vai mudando e vou-me relacionado pessoalmente com as parábolas e muda o nosso entendimento. Quando cheguei à adolescência tinha muitas questões e poucas respostas. O caminho que fiz foi perceber que era importante ter perguntas e não ter todas as respostas. Há coisas para as quais achamos ter respostas, mas elas mudam e mais tarde a resposta até vai ser outra. Mas Deus não muda, vai só mudando a forma como interpreto a resposta que me está a dar».

«Uma parte mais humilde na minha história vem destas origens: no verão apanhava a pera, ou a batata, ou fazia a vindima. Toda esta vivência é uma bagagem que se leva e não deixamos de estar orgulhosos por ter vivido isso. Uma forma de valorizar o trabalho e a nossa entrega e serviço. Os pais deram-nos os pilares da família, do serviço ao outro, do trabalho. A nossa vida concretiza-se quando a damos aos outros - esta é das maiores heranças que tenho dos meus pais».

«(Na JMJ em Cracóvia, em 2016) Não conhecia jovens que estivessem na fé como eu e de repente estou com milhares de jovens que estavam a viver o mesmo que eu. Fiquei numa escola, num pavilhão, tomava os meus banhos de água fria, comia os meus picles ao pequeno-almoço mas para mim tudo era bom. E eu estava ali com o Papa. Naquele sítio estávamos todos para o mesmo».

«Não fui (à JMJ) com tudo entendido – tinha 18 anos, fui à aventura - mas vim de lá com uma noção maior sobre o que era a Igreja. Fui à aventura e com a ideia de estar com o Papa e com muitos jovens e vim de lá com uma noção maior do que era a Igreja. Estava muito certa e cheia do que era a Igreja e já não era uma realidade só minha. Tantas pessoas que acreditam no mesmo e que cantam o mesmo, como é possível eu duvidar?»

Jan 26, 202353:22
As janelas onde Timóteo Cavaco foi confirmando o estudo da Bíblia e o caminho conjunto dos cristãos

As janelas onde Timóteo Cavaco foi confirmando o estudo da Bíblia e o caminho conjunto dos cristãos

Timóteo Cavaco afirma ter crescido numa «bolha» Batista, onde o outro era o católico que mais tarde descobriu ser a maioria. Mas isso não o fez diminuir certezas no seu caminho: dividido entre dois amores, quando ainda o sonho de ser um médico missionário pairava, as humanidades acabaram por falar mais alto. À licenciatura em Bioquímica, juntou depois a História, a Filosofia, os estudos Bíblicos e ainda hoje, tantos outros interesses que confirmam a sua vontade, e necessidade, de abrir janelas.
Em outubro assumiu funções como presidente da direção da Aliança Evangélica Portuguesa, apesar de sublinhar privilegiar o diálogo entre as bases. Até 2025, gostaria que o diálogo interconfessional não ficasse em segundo plano porque acredita que o conhecimento e a linguagem do amor, quando falada nas diversas línguas cristãs, provoca maior impacto e beneficio na sociedade.

«A Bíblia esteve presente desde que começamos a falar as primeiras palavras: memorizámos versículos bíblicos, essa identificação com um Deus trinitário, esteve sempre presente na minha aprendizagem, anterior até à alfabetização. Já numa fase de adolescência e de confronto com a identidade, foi muito importante descobrir o significado de alguns textos: perceber que a minha vida podia ser uma oferta constante a Deus»

«A evidência de Deus acontece, naturalmente através de uma revelação dada pelas escrituras e de Cristo, mas também através do que vemos: olhar a natureza, a existência de uma forma geral que nos remete para esta pergunta essencial: como é que tudo isto existe, como podemos compreender tudo isto sem pensar em Deus?»

«Nos recentes resultados do Census 2021, percebemos que uma das áreas da população que mais cresceu foi a dos que se consideram «sem religião», o que talvez não descreva a realidade; sei que tinha sido proposto ao Instituto Nacional de Estatística a inclusão de uma categoria de «crentes sem religião», que não foi aceite. Mas devemos perceber que dentro dessa categoria lata de «pessoas sem religião», vamos encontrar ateus, agnósticos e também pessoas que não se reveem em nenhuma das opções anteriores e no entanto vivem algum tipo de religiosidade, muitas vezes até cristã – um acreditar sem pertencer a nenhuma instituição»

«É natural que os cristãos se expressem através de diferentes pertenças. Se assim não fosse, talvez não encontrássemos essa diversidade logo no I século. Há tradições diferentes, e não falo apenas dentro das grandes famílias cristãs: recordo a diversidade que há no campo evangélico, mas também aquela que se encontra nos carismas dos movimentos, nas paróquias e até nas dioceses católicas. A minha identidade protestante ficou fortalecida pelo conhecimento dos outros. Estou muito bem como cristão evangélico, sinto-me muito bem, identifico-me como tal e as outras referências cristãs acontecem não por oposição ou confronto, mas por encontro»

Jan 19, 202301:13:16