Igreja: Monja de Belém durante 13 anos, Isabel Novais leva hoje a JMJ Lisboa 2023 ao mundo

Silêncio e vida fraterna marcam ainda as «melhores memórias» da jovem que hoje se entusiasma com a organização da Jornada Mundial da Juventude

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 12 abr 2023 (Ecclesia) – Isabel Novais foi durante cerca de 13 anos Monja de Belém, viveu em silêncio, conheceu “a vida fraterna” da Família Monástica de Belém, e afirma que apesar de ter saído, esses foram os melhores anos da sua vida.

“Vale a pena. O que a minha vida poderá dizer é que vale a pena arriscar em Deus. Só ficamos a ganhar. A experiência que eu tenho é que se deve arriscar perante um pequeno convite de Deus. Foi o que experimentei toda a minha vida. Não estou arrependida de ter saído, mas tudo faz parte de um projeto maior de Deus”, conta à Agência ECCLESIA.

Com 18 anos, quando tudo na sua vida “estava a começar”, com a entrada na Universidade e a “carta de condução”, foi convidada para um retiro nas monjas, na altura residentes em Sesimbra, na diocese de Setúbal, e ganhou duas certezas: “As irmãs eram felizes e, apesar do silêncio vivido, eu tinha a impressão que não me tinha calado. A experiência da solidão é só um caminho para a relação com Deus”.

Na sua vida, Isabel foi sentindo que “o Senhor andava a bater à porta” e não mais esqueceu esse momento vivido com as monjas.

“Quando me perguntam porque fui para o mosteiro eu digo: «Pela mesma razão pela qual as pessoas casam». Não me arrependo. Valeu tudo a pena. Se hoje voltasse atrás, e se Deus me mostrasse que iria para o mosteiro e iria sair depois sem nada, eu ia na mesma. Não perdi, eu só ganhei”, recorda.

Em 2005, quando entrou, Isabel Novais admite que não fazia planos para o futuro, “vivia simplesmente”.

“Não pensava no que viria a ser, vivia simplesmente. Não faço ideia porque foi ali e não foi noutro sítio; conheço algumas Ordens, mas foi ali porque foi ali. É verdade que hoje não me veria noutro sítio. Há qualquer coisa de simplicidade da vida, de absoluto, que realmente fascina e atrai. Tudo converge para nos unificarmos, para sermos um só com Deus, se não estivermos bem não estamos disponíveis para ali estarmos ”, indica.

Entre 2005 e 2010, Isabel Novais permaneceu na comunidade em Portugal; entre 2010 e 2018 esteve França, com um interregno em 2015, ano de discernimento fora do mosteiro, que lhe permitiu acompanhar os últimos meses da vida do pai.

A vida em clausura é pautada pela solidão e pela vida fraterna mas, reconhece a jovem, os dias não são vazios e ganham espaço para a atenção aos outros.

“O silêncio esvazia o ruído, não apenas físico, e assim o outro entra mais facilmente. Quando nos cruzamos no mosteiro, não somos «bichos do mato» – há sempre qualquer coisa, um aceno, um sorriso, um comprimento entre as irmãs”, explica.

A vida monacal fez Isabel Novais conhecer a “beleza litúrgica” que fora do mosteiro “passa muitas vezes despercebida”.

“A liturgia católica romana, dentro do mosteiro da família das Monjas de Belém, concilia os dois ritos, os dois pulmões da Igreja. A liturgia faz entrar no mistério e na comunhão fraterna. Cantarmos juntas, seguir o outro é um momento de comunhão, mesmo que não haja conversa. Ali, tudo converge para o mesmo”, explica.

Em 2015, depois de um ano fora, o seu desejo era regressar ao mosteiro, mas ao voltar, “algo não estava no lugar”.

“Foi a prioresa que começou a puxar por mim – um dia deu-me um computador e pediu-me para procurar alguma coisa que eu quisesse fazer, porque eu tinha entrado no mosteiro sem fazer a Universidade. E eu pesquisei, sem grande convicção, e no final do dia estava a rezar diante do Santíssimo e, naquele momento percebi, que cada membro da Igreja, segundo São Paulo, tem o seu lugar e todos são necessários. Um mês depois estava fora do Mosteiro”, recorda.

Hoje Isabel Novais integra a equipa de comunicação da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, num percurso que começou como voluntariado mas que se foi firmando na certeza de querer contribuir para este projeto.

“O facto de vivermos este tempo de preparação, todos os dias reunimos no Ângelus (oração do meio-dia); celebramos missa em conjunto na Semana Santa rezámos as Laudes. Criamos um ambiente para vivermos um encontro. É um pedaço de Igreja. Constantemente há grupos a passar. Estamos a preparar um encontro mas nós já nos estamos a encontrar”, explica.

Depois de ter participado como peregrina em duas edições anteriores, Isabel Novais não tem dúvidas ao afirmar que a palavra que vai marcar a sua vida nos próximos meses é «receber».

A conversa com Isabel Novais pode ser acompanhada esta noite no programa Ecclesia na Antena 1, pouco depois da meia-noite, ficando disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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