Israel/Palestina: José Miguel Sardica descarta melhorias a curto prazo e admite alargamento do conflito

Historiador e professor da UCP admite que «mediação internacional é difícil», mas espera que se possa avançar para «solução dos dois Estados»

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 18 out 2023 (Ecclesia) –José Miguel Sardica, historiador e docente da UCP, afirmou que a “mediação internacional é difícil” no conflito entre Israel e o Hamas, salientando que a “esperança” neste território é a “solução de dois Estados”.

“Os ânimos estão tão agitados que, neste momento, caminhamos sobre, usando uma metáfora, ‘um chão ensopado em gasolina e com muitas pessoas em cima dele com fósforos acessos’, e temos a sensação de que, a qualquer altura o conflito, vai escalar ou pode incendiar mais”, referiu hoje, em entrevista à Agência ECCLESIA.

José Miguel Sardica salientou que, além de um ataque a um hospital em Gaza, esta terça-feira, que ainda “não se sabe se terá sido uma operação militar de Israel, se um erro, um rocket, da jihad islâmica”, existiu um ataque israelita “acidental” contra uma escola das Nações Unidas, também em Gaza.

“A ONU está numa posição muito complicada, porque também quer aparecer como mediadora eventual. O ataque israelita a uma instituição da ONU cria, talvez, uma divisão entre o Governo de Netanyahu e as Nações Unidas”, acrescentou.

Segundo o professor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (UCP) “a mediação internacional é difícil”, tendo as Nações Unidas perdido o “capital de poder” suficiente para envio de capacetes azuis, por exemplo.

O movimento islamita Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007, lançou um ataque contra o território israelita, sob o nome de operação ‘Tempestade al-Aqsa’, no dia 7 de outubro; em resposta, Israel bombardeou várias posições naquele território, numa operação que batizou como ‘Espadas de Ferro’.

José Miguel Sardica espera que a comunidade internacional entenda, a partir deste conflito, a necessidade de “voltar à mesa das negociações e fazer avançar a solução dos dois Estados”.

“A esperança passa pela solução de dois Estados. Infelizmente, hoje, a esperança é uma palavra muito vã, porque aquilo que nós vemos é guerra”, lamentou o historiador.

Sobre eventuais mediadores neste conflito, como a União Europeia, o entrevistado destacou uma “posição algo dúbia” da Comissão Europeia, cuja presidente, Ursula von der Leyen, expressou “um ato de solidariedade com Israel e apoiou à retaliação na medida justa”, ao mesmo tempo, “esteve, durante dias, a hesitar se mantinha ou não a ajuda à Faixa de Gaza”.

“A União Europeia precisava de ser uma voz com muito mais peso, falando a uma só voz, mas também fazendo atuar o seu poder dissuasor, pacificador, nas zonas adjacentes. O Médio Oriente é uma zona adjacente à Europa, muito mais adjacente do que é em relação à China ou do que o é em relação aos Estados Unidos”, desenvolveu.

“Os últimos potenciais mediadores” são os Estados Unidos da América (EUA), a Rússia e a China, sendo que o papel de Joe Biden, presidente dos EUA, que aterrou hoje em Israel, pode ser “o mais importante” para prevenir “uma ofensiva em larguíssima escala” de Israel.

“Os Estados Unidos têm a dimensão de que isso pode incendiar a guerra no Médio Oriente; os Estados Unidos e a Comunidade Internacional têm medo de que um ataque em larga escala possa arrastar o Hezbollah, e o grande parceiro invisível desta guerra, o Irão”, acrescentou.

LS/CB/OC

 

O Papa Francisco tem apelado à paz, ao domingo após o ângelus, e nas audiências públicas semanais, como nesta quarta-feira, na Praça de São Pedro, e o seu secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, já manifestou que “a Santa Sé está pronta para qualquer mediação” que trave a escalada de violência.

“Como todos os Papas, é uma diplomacia especial: o Vaticano pode sempre aparecer como uma parte intermédia entre muçulmanos e judeus. O problema é que, como o Vaticano não faz política, e como esta solução ou um qualquer cessar-fogo terá que ser uma negociação territorial, uma negociação de entrega de reféns”, desenvolveu José Miguel Sardica.

O Papa Francisco tem alertado que se vive “uma guerra mundial aos pedaços”, e José Miguel Sardica contabiliza “17 guerras ativas no mundo”, destacando a guerra russo-ucraniana, “a catástrofe humanitária no Sudão que é pouco falado” ou o conflito entre Azerbaijão e Arménia, “por causa do eterno enclave” do Nagorno-Karabakh.

“Já se configura como uma guerra mundial aos bocados. O problema é quando esses bocados se começam a associar, e o conflito Israel-Hamas tem de certeza implicações com o conflito russo-ucraniano, podemos ter a perspetiva de um mundo em guerra”, referiu.

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