«O Sagrado e as Gentes»: Tradição, solidariedade e lançar de cavacas nas festas ao «menino» São Gonçalinho (c/vídeo)

Uma marca da religiosidade popular de Portugal nas «Conversas na Ecclesia»

Aveiro, 13 jul 2020 (Ecclesia) – As festas em honra de São Gonçalo, na Diocese de Aveiro, celebram o “menino” Gonçalinho que cura doenças, atende a diversos pedidos e é casamenteiro, numa festa em que as pessoas lançam cavacas do telhado da igreja, em agradecimento.

“O lançar das cavacas é um dos elementos mais pitorescos, nasce e existe na tradição local das gentes da beira-mar, vai passando de geração em geração, há pessoas que vão lançar cavacas por que já o foram lançar com os seus pais e levam os seus filhos”, explicou o pároco da Vera Cruz nas ‘Conversas na ECCLESIA’ desta segunda-feira.

O padre João Alves salienta que este gesto também está inscrito no início de um novo ano, “em Aveiro o Natal prolonga-se ano novo até São Gonçalinho”, que a Igreja celebra a 10 de janeiro.

Pedro Nunes, juiz da Mordomia de São Gonçalinho, explica que é um “aveirense de coração”, foi para a cidade quando entrou na universidade, fez parte da tuna e “ia tocar às festas” e foi nessa altura que lançou “a primeira cavaca”: “E, desde então, fui lançar sempre, e apanhar cá em baixo também”.

Estes “gestos de oferta”, que são o lançar das cavacas do telhado da igreja de São Gonçalinho, hoje “mais do que na devoção religiosa, popular, está inscrita numa tradição citadina”, acrescenta o padre João Alves observando que as filas, nos últimos anos, “têm sido de duas horas de espera”, com as pessoas a levarem “sacos de 25 quilos”.

O beato português Gonçalo de Amarante nasceu em Vizela, no século XII; em Aveiro é tratado, carinhosamente, por São Gonçalinho, um nome pelo qual terá começado a ser chamado durante a construção da “atual igreja, a capela, que em comparação à igreja primitiva “é mais pequena”.

Na mordomia, desenvolve Pedro Nunes, todos se identificam com São Gonçalinho, ainda que nem todos tenham uma “devoção religiosa”.

“Olhamos para ele e fazemos os nossos pedidos de ajuda, fazemos os nossos agradecimentos, é o nosso menino, protetor da Beira-mar, a quem nós recorremos para falar muitas vezes, ir à capela apenas visitar, é alguém que nos dá motivação e força”, explicou.

A cada dois anos são escolhidos novos homens para a Mordomia de São Gonçalinho, um testemunho passado “por familiares, por amigos, por pessoas que veem” nos eleitos capacidades para “levar a festa em diante” e os novos mordomos, que não preparam a festa deste ano, estão a organizar a edição de 2021 mas a pandemia do coronavírus Covid-19 canalizou os fundos recolhidos em diversas iniciativas, que permitem “as pessoas terem ligação ao São Gonçalinho não só em janeiro”, para iniciativas solidárias.

“Reparamos que existiam muitas famílias afetas à paróquia que estavam a passar dificuldades e as instituições afetas à paróquia também estavam a precisar de apoio e achamos de uma forma unânime que não fazia sentido estarmos a angariar dinheiro para uma festa que não sabíamos se se ia realizar ou não quando há pessoas no bairro que estariam a passar fome”, afirmou o juiz da Mordomia de São Gonçalinho.

Foto: Mordomia de São Gonçalinho – Aveiro

“O resultado positivo que as festas vão gerando é distribuído por instituições sociais e de serviço, de segurança e à causa pública à nossa cidade. Isto é um bem feito tradição na mordomia. Esta mordomia ainda não teve esta oportunidade e teve este gesto nobre num momento em que sentem que está posto em causa um conjunto de atividades que iam promovendo”, acrescentou o padre João Alves, pároco da Vera Cruz, adiantando que os apoios foram distribuídos pela Conferência Vicentina da paróquia e pelo centro social paroquial.

Ao longo deste mês de julho as ‘Conversas na Ecclesia’ apresentam-se tradições, festas e eventos culturais com a marca religiosa em 20 dioceses de Portugal, de segunda a sexta-feira, com diversos convidados que falam d’«O Sagrado e as Gentes».

CB

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