Covid-19: D. Pio Alves encontrou no isolamento provocado pela doença um tempo para «valorizar os pequenos grandes serviços» de todos

Bispo auxiliar do Porto reconhece que viveu «um isolamento dourado» e lembra as dificuldades de quem não tem condições para ultrapassar o vírus

Porto, 08 fev 2021 (Ecclesia) – O bispo auxiliar do Porto D. Pio Alves recorda os dias que viveu em confinamento por causa da Covid-19, “praticamente assintomático”, como um tempo para “valorizar os pequenos grandes serviços” das pessoas.

“Esta reflexão ajudou-me a valorizar mais o serviço das pessoas e levou-me a pensar que o meu isolamento era, com todos os inconvenientes, um isolamento dourado, porque a grande maioria das pessoas que passam por esta situação não tem as condições que tive”, recorda à Agência ECCLESIA.

O bispo auxiliar do Porto testou positivo ao novo coronavírus, depois de ter estado em contacto com uma pessoa positiva, e dá conta de um tempo “sereno” que viveu, onde privilegiou “a oração” e encontrou espaço para continuar a desenvolver o seu trabalho de contacto com algumas pessoas.

“Foi um tempo para pensar a importância de coisas e sobre o trabalho de pessoas que no dia a dia não valorizava o suficiente. Ainda que procure valorizar, nessa ocasião vi com maior clareza que os supostamente pequenos grandes serviços de pessoas que lavam a roupa, que traz o correio, da pessoa que telefona, pergunta, cozinha, nesses dias estava completamente dependente de pessoas que fazem o serviço da casa”, recorda.

O bispo auxiliar do Porto admite ter tido condições para viver o isolamento necessário que outros não têm, uma vez que estava num espaço “grande e arejado, com luz natural”, onde o que necessitava para o dia-a-dia, lhe era deixado à porta, daí que fale em isolamento “dourado”.

“Custa passar 15 dias sem ver ninguém, mas tudo o que precisava sabia que tinha. Tenho consciência de que muitas pessoas não têm condições mínimas para viver essa situação. Deve ser muito complicado tentar cumprir a necessidade de isolamento”, regista.

D. Pio Alves lembra uma “solidão fecunda”, que foi imposta e que desde a primeira hora entendeu ser necessária, mas “uma solidão serena, tranquila e preenchida”.

“Senti um Deus que está próximo, presente por meio das pessoas que são mediadores. A importância dos mediadores vem claramente à tona”, recorda.

O testemunho do bispo auxiliar do Porto que o programa Ecclesia emite hoje na antena 1, pelas 22h45, regista ainda o acompanhamento médico “constante” de profissionais do Centro de saúde e que “com serenidade” o fez viver esses dias “sem especiais preocupações pela saúde”.

Nesses dias D. Pio Alves teve como companhia os escritos do cónego João Aguiar Campos, padre da diocese de Braga e antigo diretor do Secretariado das Comunicações Sociais da Igreja católica.

“É uma pessoa que muito considero. Tinha à mão livros dele que têm de ser lidos com calma e serenidade e me ajudaram a aprofundar e a viver esses momentos”, valoriza.

Desde março de 2020 que a prática pastoral nas comunidades se alterou devido à pandemia da Covid-19 e D. Pio Alves reconhece sentir falta de estar com as pessoas, em especial numa ocasião que indica ser “um modo concreto dos bispos”, as visitas pastorais.

“É uma realidade que nos ajuda a estar com as populações e instituições e isso está suspenso. Uma parcela importante da nossa missão e um modo concreto do seu exercício não se pode executar. Procura-se suprimir com telefone, com reuniões digitais. Todas as pessoas sentem que é o que se pode mas não é o mesmo”, reconhece.

Procurando ser positivo e valorizar “o que temos”, D. Pio Alves procura manter-se em contacto com os padres que acompanha, com “os que necessitam de maior atenção nestes momentos difíceis” e continua a desenvolver as atividades de coordenação possíveis através dos meios digitais.

O bispo auxiliar do Porto pede que se procure manter “viva a esperança” sem desânimo para superar as dificuldades.

“Uma enorme compreensão para os que passam maus momentos, pedindo colaboração de todos para o que está ao alcance de cada um, para que isto passe e deixe as melhores marcas possíveis”, finaliza.

Ao longo desta semana, em que se assinala o Dia Mundial do Doente, o programa Ecclesia na Antena 1 vai valorizar testemunhos e mostrar os rostos de quem passou pela doença provocada pela Covid-19.

LS

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