Ano «Laudato Si»: Ecologia integral «não é moda» e o Papa Francisco colocou-a no «coração da experiência cristã»

Memorando «Eco Igrejas Portugal» vai certificar comunidades cristãs por boas práticas de sensibilização e conversão ecológica 

Lisboa, 24 mai 2021 (Ecclesia) – O teólogo Juan Ambrósio, da Rede ‘Cuidar da Casa Comum’, disse que o Papa Francisco mostrou que a ecologia integral “não é uma moda” e colocou o cuidado “no núcleo e coração da experiência cristã”.

“O Papa insistiu, foi colocando a questão no centro, mostrando que isto não era uma preocupação de moda, e mostrou que a partir daqui se pode aferir a fidelidade à missão cristã”, referiu à Agência ECCLESIA o professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP).

Segundo o responsável, a encíclica ‘Laudato Si’, publicada em 2015, “foi fazendo o seu caminho”, tendo na altura o seu texto sido acolhido, mas percecionado para um “lugar específico” dentro da doutrina e não no “coração da experiência cristã”.

“Este cuidado da casa comum é um cuidado pelo ambiente, clima, mas não se esgota aí – tem de ser um cuidado integral. E é a categoria da ecologia integral, que tem uma dimensão social. Há uma única crise, não duas social e económica, mas uma só”, insiste.

Juan Ambrósio sustenta que, a par da preocupação com a celebração litúrgica, a ação caritativa, no ser cristão tem de estar incluído o “cuidado com a casa comum”, e reconhece que outras confissões cristãs identificaram a importância do tema “um pouco mais cedo que a comunidade católica”.

A ecologia integral é um caminho ecuménico que em Portugal está a ser percorrido e vai dar, a curto prazo, um passo concreto: a criação de um memorando ‘Eco Igrejas Portugal’, com o qual se pretende que as comunidades tenham uma “certificação verde”.

Este projeto está a ser desenvolvido em parceria com o Conselho Português das Igrejas Cristãs – COPIC, a Aliança Evangélica, a instituição «A Rocha» e com o contributo das mais de 50 movimentos, obras, instituições, além de pessoas a título individual, que constituem a Rede ‘Cuidar da Casa Comum’.

A certificação verde vai reconhecer que determinada comunidade cristã se organiza tendo em conta o cuidado da casa comum, valoriza Juan Ambrósio, em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP 2).

Foto: Agência ECCLESIA/HM

As comunidades de São Maximiliano Kolbe, Santa Beatriz e Santa Clara, na paróquia de Chelas, em Marvila, Lisboa, onde se encontra uma comunidade de Frades Franciscanos conventuais, procuram, nas suas diversas atividades, responder ao apelo do cuidado com a terra.

“Implementamos na catequese, no trabalho junto das crianças, nos escuteiros e nas famílias, uma sensibilização e reflexão que permitem alterar comportamentos, em pequenos gestos e ações diária”, explica Teresa Palma Rodrigues, do Foco de conversão ecológico da paróquia em Lisboa.

Em gestos que procuram criar “desinstalação e não acomodamento”, a paróquia tem instalados combustores para que o composto possa adubar as hortas vizinhas, as orações nas celebrações litúrgicas “têm referências à terra”, e todas as atividades organizadas na paróquia “procuram deixa a casa melhor”.

“Estamos a preparar um terço ecológico, a transmitir para as casas, que vai decorrer ao ar livre”, dá ainda conta Teresa Palma Rodrigues que acredita que enquanto cristãos, o alheamento não é resposta.

Juan Ambrósio afirma que em causa estão “mudanças de estilos de vida” e assinala que sair da rotina “é difícil” mas destaca o “consumo e gasto excessivos” que devem ser alterado em ordem a uma sociedade diferente.

“Temos de fazer alguma coisa diferente, construir e pensar a vida e a sociedade de forma diferente, e esta construção não pode ser indiferente ao grito da terra e dos pobres. Não há um grito económico e outro social, há só um grito”, explica.

Terminado o ‘Ano Laudato Si’, convocado pelo Papa Francisco, com término previsto para esta terça-feira, ficam o compromisso “a sete anos” para que até 2030 a conversão ecológica continue a marcar a vida dos cristãos.

“É importante que haja reflexões dos responsáveis que governam as nações e o mundo, mas não chega ficar a esse nível, é preciso passar para o concreto. Temos de nos assumir como parceiros da construção de um mundo diferente, parceiros que a partir da sua fé e identidade cristã querem ser parceiros da construção de um mundo diferente”, enfatiza Juan Ambrósio.

PR/LS

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