Cronologia de Francisco e Jacinta Marto


- 1908.06.11 - O Francisco nasceu às três da madrugada, no lugar de Aljustrel, freguesia de Fátima, concelho de Vila Nova de Ourém (Ourém).
- 1908.06.20 - Foi baptizado pelo pároco interino, Padre Teodoro Henrique Vieira na igreja paroquial de Fátima, tendo como padrinhos Francisco Lopes, proprietário, das Chãs e Teresa de Jesus, casada, de Aljustrel.
- 1910.03.11 - A Jacinta nasceu, segundo o assento de baptismo, às quatro horas da tarde de 11 de Março de 1910, mas nos apontamentos a lápis que o Dr. Manuel Nunes Formigão tirou no interrogatório de 11 de Outubro de 1917, está por duas vezes a data de 5 de Março: "Jacinta 5 de Março" (DCF-I, doc. 11, p. 92) e "Jacinta de Jesus, fez 7 (anos) a 5 de Março (ibidem, p. 97. estes dois apontamentos sobre a idade da Jacinta não foram retomados na redacção manuscrita. Muito provavelmente, a data exacta do nascimento seria efectivamente 5 de Março de 1910. O dia 11 de Março, como data do nascimento terá sido indicado para evitar a multa, aplicada a quem adiasse o baptismo para além dos oito dias. (DCF-I, p. 92-93, nota 94 e 97, nota 130).
- 1910.03.19 - Foi baptizada no dia 19, dia de S. José. Na "positio" sobre as virtudes, cita-se o testemunho do pai: "O baptismo teve lugar no dia 25 de Março e não no dia indicado no registo. Tenho a certeza disto e várias vezes o notei. Costumava baptizar os meus filhos ao oitavo dia., pouco mais ou menos, mas ela foi baptizada mais tarde, porque o senhor prior estava doente, devia vir um outro de Ourém, e eu, não querendo dar incómodo, esperei que esse outro sacerdote viesse para o dia festivo".
- Julgo que aqui há engano do Senhor Manuel Marto. É que o dia 25 caiu, no ano de 1910, na sexta feira Santa. O dia 19 era um dia festivo e caiu a um sábado.
Foi baptizada, pelo mesmo sacerdote que baptizara o Francisco, Teodoro Henriques Vieira, com autorização do pároco, Padre António Rodrigues Pena, tendo como padrinhos Manuel José Júnior, casado, proprietário, do Casal Velho, freguesia do Reguengo do Fetal, concelho da Batalha, patriarcado de Lisboa, e Jacinta de Jesus, solteira, doméstica, natural de Fátima, desta freguesia.
Registe-se uma particularidade do assento de baptismo de Jacinta. O pároco redigiu o assento nº 19, mas, por ter deixado uma linha em branco, inutilizou-o, com dois traços cruzados e colocou à margem e no texto a nota "sem efeito", voltando a repetir o mesmo assento nº 19.
- 1916, primavera - Primeira aparição de um anjo, na Loca do Cabeço.
- 1916, verão - Segunda aparição do anjo, no Poço do Arneiro, junto à casa de Lúcia.
- 1916 - outono - Terceira aparição do anjo, na Loca do Cabeço.
- 1917.05.13 - Primeira aparição de Nossa Senhora, na Cova da Iria.
- 1917.06.13 - Segunda aparição de Nossa Senhora, na Cova da Iria.
- 1917.07.13 - Terceira aparição de Nossa Senhora, na Cova da Iria.
- 1917.08.13 - Os videntes são levados pelo Administrador do concelho para Vila Nova de Ourém
- 1917.08.15 - Os videntes são devolvidos pelo Administrador às suas famílias.
- 1917.08.19 (domingo) - Quarta aparição de Nossa senhora, no sítio dos Valinhos.
- 1917.08.21 - A Jacinta é interrogada pelo Padre Manuel Marques Ferreira, pároco de Fátima, em Aljustrel (cfr. DCF-I, doc. 55, p. 389-392).
- 1917.09.07 - Os videntes são interrogados pelo Dr. Carlos de Azevedo Mendes, em Aljustrel e Cova da Iria (DCF-I, doc. 55, p. 389-392)
- 1917.09.13 - Quinta aparição de Nossa Senhora, na Cova da Iria.
- 1917.09.15 - Lúcia e Jacinta passam oito dias em casa de D. Maria do Carmo Marques da Cruz Meneses, na Reixida, Cortes, Leiria.
- 1917.07.17 - Lúcia e Jacinta são interrogadas na Reixida, Cortes (DCF-I, doc. 44, p. 316-318).
- 1917.09.27 - Os videntes Lúcia, Francisco e Jacinta são interrogados pelo Padre Dr. Manuel Nunes Formigão, em Aljustrel (DCF-I, doc. 7, p. 7-61).
- 1917.10.1 - Os videntes Lúcia, Francisco e Jacinta são interrogados pelo Padre Manuel Nunes Formigão, em Aljustrel (DCF-I, doc. 11, p. 91-93 (Francisco e Jacinta); DCF-I, doc. 12, p. 114-116).
- 1917.10.13 (sábado) - Sexta aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria.
- 1917.10.13 (19h) - Os videntes Lúcia, Jacinta e Francisco são interrogados pelo Padre Dr. Manuel Nunes Formigão (DCF-I, doc. 13, p.123-125; doc. 14 p. 132-137 (Francisco e Jacinta).
- 1917.10.19 - Lúcia, Francisco, Jacinta são interrogados pelo Padre José Ferreira de Lacerda, director de "O Mensageiro" (DCF-I, docs. 47, p. 334-339 (Jacinta); 345-348 (Francisco); doc. 52, p- 364-365 (Jacinta e Francisco).
- 1917.10.19 - Lúcia, Francisco e Jacinta são interrogados pelo Padre Dr. Manuel Nunes Formigão, em Aljustrel e no caminho para Fátima (DCF-I, doc. 15, p. 141-143 (Jacinta); doc. 16,m p. 152-155 (Francisco e Jacinta).
- 1917.10.20 - As videntes Lúcia e Jacinta são interrogadas pelo Padre Francisco Brás da Neves, coadjutor da Frei-xianda (DCF-I, doc. 26, p. 221).
- 1917.10.23 - (antes) - Os videntes Lúcia, Francisco e Jacinta são interrogadas pelo Dr. Luís António Vieira de Magalhães e Vasconcelos, futuro 4º barão de Al-vaiázere, respectivamente na Cova da Iria (Lúcia) e junto da igreja paroquial de Fátima (Francisco e Jacinta) (DCF-I, doc. 28, p. 234-236).
- 1917.11.02 - Os videntes Lúcia, Francisco, Jacinta e João Marto são interrogados pelo Padre Dr. Manuel Nunes Formi-gão, em Aljustrel (DCF-I, doc. 17, p. 172-177 (Francisco e Jacinta).
- 1917..12.01 - Os videntes Lúcia, Francisco e Jacinta passam oito dias na Quinta do Caneiro (Ourém).
- 1918.05.01 - Num interrogatório de 21 de Agosto de 1918, a Jacinta declarou ao pároco de Fátima que "a Senhora lhe apareceu (...) no dia da Ascensão do Senhor na Igreja durante a missa e que lhe ensinou a rezar as contas" (Cfr. DCF-I, doc. 31, p. 270).
- 1918.07.14 - Na festa de Nossa Senhora do Rosário, a Lúcia levou um andor juntamente com outras três meninas (Teresa Marto, irmã do Francisco e Jacinta; Carolina Carreira, filha da Senhora Maria da Capelinha, da Moita; e Clementina de Jesus, também da Moita). A Jacinta, por ser muito pequenina, não levou o andor, mas uma rocada, como se chama na região a pequena armação com bolos. O segundo andor era levado pelo Francisco com mais três companheiros: seu irmão João, Francisco Ferreira Rosa e António dos Reis, todos de Aljustrel (outros referem que o quarto menino era Joaquim Marto) ("Stella", 21 (244) Abr. 1957, p. 6, col. 2).
- 1918.10.?? - Jacinta adoece gravemente de epidemia bronco-pulmonar. Pouco depois adoece Francisco com a mesma doença.
- 1919.03. (fins) - Agrava-se a doença de Francisco.
- 1919.04.02 - Confessa-se ao Padre Manuel Bento Moreira, substituto do Padre Manuel Marques Ferreira, pároco de Fátima.
- 1919.04.03 - Francisco recebe o viático das mãos do Padre Manuel Marques Ferreira, pároco de Fátima.
- 1919.04.04 - Morte de Francisco, pelas 22, na casa dos pais, em Aljustrel.
- 1919.04.05 - O corpo de Francisco é sepultado no cemitério paroquial de Fátima.
- 1919.04.18 - Aditamento ao processo paroquial: "A tempo - O Francisco - vidente - faleceu às dez horas da noite, do dia 4 de Abril corrente, vitimado por uma prolongada ralação de 5 meses da pneu-mónica tendo recebido os Sacramentos com grande lucidez e piedade. E confirmou que tinha visto uma Senhora na cova da Iria e Valinhos - Paróquia de Fátima, 18 de Abril de 1919 - O Pároco Manuel Marques Ferreira" (DCF-I, doc. 37, p. 287).
- 1919.07.01 - Internamento da Jacinta no Hospital de Santo Agostinho, em Vila Nova de Ourém.
- 1919.08.31 - Jacinta regressa a casa.
- 1920.01.21 - Jacinta vai para Lisboa e é acolhida no Orfanato de Nossa Senhora dos Milagres, na rua da Estrela nº 17, fundado e dirigido pela Madre Maria da Purificação Godinho.
- 1920.02.02 - Jacinta é internada no Serviço nº 1 do Hospital de D. Estefânia, cama nº 38, onde lhe é diagnosticada pleurisia purulenta da grande cavidade esquerda fistulizada e osteíte (cárie) de duas costelas (7ª e 8ª do mesmo lado).

Biografias
Tanto Francisco Marto como sua irmã, Jacinta, tiveram uma vida relativamente curta: onze anos incompletos, o Francisco; quase dez anos, a Jacinta.
Apesar dos acontecimentos em que se viram envolvidos, juntamente com a sua prima Lúcia, não podemos acompanhar muito minuciosamente o seu curto itinerário, desde o nascimento até cerca dos anos de 1914-1915, por não ter havido, por volta de 1917 e daí por diante, a preocupação de recolher as informações necessária. Ainda assim, dispomos de alguns marcos suficientes para assinalar a parte final das vidas de cada um até aos anos de 1919 e de 1920, respectivamente. Sendo a cronologia, tanto quanto possível apurada com rigor, a trave-mestra da história, é imprescindível estabelecê-la, para, no seu quadro, edificar a construção histórica, neste caso a própria biografia dos videntes de Fátima.
Por isso, servindo-me da documentação que, em espaço curto de tempo, pude reunir, e de algumas obras biográficas, devidas sobretudo à Irmã Lúcia, Padre João De Marchi e Padre Fernando Leite, eis alguns elementos sobre aqueles itinerários.
A família Marto, residente em Aljustrel, era constituída por Manuel Pedro Marto (1873-1957) e Olímpia de Jesus (1869-1956), viúva de José Ferreira Rosa (1850-1895), de quem tinha dois filhos, António e Manuel. Casaram a 17 de Fevereiro de 1898. Olímpia de Jesus era irmã de António dos Santos, pai de Lúcia; o seu primeiro marido era irmão de Maria Rosa, mãe de Lúcia. O casal Manuel Pedro Marto e Olímpia de Jesus teve sete filhos: José (1899-1989), Teresa (1901-1902), Florinda (1902-1920), outra Teresa (1904-1921), João (1906-) e os videntes Francisco e Jacinta.

Testemunhos
Por informação do Ti Marto ao Padre João De Marchi, o Francisco "tinha carinha redonda, bochechuda, um tanto morena, boca pequena, lábios breves, mento polpudo. Na cor dos olhos, saía mais para a mãe (...) Era robusto. Tinha boa saúde; futurámo-lo por isso a ser de nervos, fortes e resoluto" (...) "Era muito meiguinho" (De Marchi, 6ª edição, p. 53-54). A Srª Olímpia acrescentava: Pena que tenha morrido. Teria sido homem. Quando foi a pneumónica que o levou, em que cá a casa toda estava transformada num hospital, o Francisco nunca deu fezes para tomar os remédios, fosse lá o que fosse. Até futurámos que ele saísse bem da doença" (ibidem). "E bem saiu ele - Nosso Senhor levou-o para o Céu", comentava o Ti Marto. A prima Lúcia diz que ele "era duma natureza pacífica e condescendente" (ibidem), o que não quer dizer que fosse "um rapaz sem energia e fraco de vontade": "às vezes rabujava com os irmãos mais do que a Jacinta" (p. 55). Era mais bravo, mais desinquieto que a irmãzita. Por qualquer coisa não estava com tanta paciência, por qualquer coisa era uma mexida, que até parecia um bezerro" (ibidem). Francisco: "carapuço enterrado pela cabeça, jaleca muito curta, colete deixando ver a camisa, calças justas, enfim um homem em miniatura. Bela cara de rapaz; olhar vivo e cara agarotada; ar desempenado" (Dr. Azevedo Mendes, DCF-I, p. 389).

Pe. Luciano Cristino
Santuário de Fátima