Portugal: «Trabalhamos na primeira linha para saber onde atuar e até prever o que pode acontecer» – Irmã Maria José

Religiosa da comunidade que vive no bairro Fonte da Prata, em Setúbal, denuncia a falta de diálogo com quem tem “poder de decidir”

Lisboa, 22 jan 2022 (Ecclesia) – A irmã Maria José, Escrava do Sagrado Coração de Jesus e membro da comunidade que vive no bairro Fonte da Prata, na diocese de Setúbal, esteve presente na Conferência Anual da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) e partilhou que é necessário “conhecer a realidade para saber atuar”.

“Trabalhamos neste bairro há 30 anos, atualmente nas áreas de inserção social, apoio às famílias, às crianças e jovens, trabalhamos na primeira linha, um trabalho de fundo por conhecer, para saber onde atuar e saber onde estão os problemas e até prever o que pode acontecer e onde se tem de atuar”, contou na sua intervenção no painel ‘o que se faz e o que falta fazer’ na ‘luta contra a pobreza’.

A religiosa, que vive nesta zona “multicultural e exigente” há seis anos, partilhou que “há falta de diálogo” entre quem está no terreno, conhece a realidade do local, e depois quem vai decidir.

“Falta que quem pode decidir receba estas opiniões, que haja envolvência da sociedade civil e Portugal tem condições para comprometer as pessoas, basta levar pessoas a cruzar as margens e fazer-se próximo para que haja compromisso”, aponta.

Já Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa, referiu na sua intervenção a necessidade de “perder as vaidades e pôr em causa as respostas sociais existentes para cada território”.

“É preciso olhar a realidade e perceber as respostas sociais que existem para cada território, porque não há uma resposta universal, veja-se o exemplo dos centros de dia, que são uma resposta essencial aos problemas que há mas que a pandemia veio mostrar que há limitações”, alertou.

Como desafios da Cáritas a responsável falou de novos casos de pobreza, da habitação com “questões por cumprir e sem conseguirem solução”.

“Há que investir na resiliência, reinventar políticas e respostas, reforçar as respostas e avaliar, sem dogmas, as políticas sociais que existem”.

Joana Silva, investigadora da Universidade Católica Portuguesa e coordenadora do estudo do combate à pobreza, alertou que “para diminuir a pobreza não basta deixar de gastar”.

D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana da Conferência Episcopal Portuguesa, terminou o encontro anual da Comissão Justiça e Paz agradecendo o “urgente assunto” da pobreza trazido à reflexão.

“A sociedade não pode ser considerada desenvolvida se deixa para trás uma multidão de pessoas pobres”, afirmou na sua intervenção.

Depois de ouvir as intervenções anteriores D. José Traquina reforçou a “proximidade como solução” e a “resposta abrangente” como de “extremo interesse” para enfrentar o problema da pobreza em Portugal.

O responsável evocou Alfredo Bruto da Costa, antigo presidente da CNJP, citou a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Pobres e enalteceu estes encontros como “reforço de motivação” para colaborar no desafio à resposta da situação da pobreza em Portugal.

A Conferência Anual da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), da Conferência Episcopal Portuguesa, aconteceu este sábado, no Centro Cultural Franciscano, em Lisboa, e foi transmitido online.

SN

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