Sociedade: Violência do «pequeno medo» é ameaça permanente para as mulheres – Inês Espada Vieira (c/vídeo)

Dia Internacional evoca sofrimento no feminino

Foto: Lusa/EPA

 

Lisboa, 25 nov 2020 (Ecclesia) – Inês Espada Vieira, docente da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (UCP), disse à Agência ECCLESIA que a violência contra as mulheres conhece formas mais chocantes e outras ligadas ao “pequeno medo”, no seu quotidiano.

“O medo que nos faz escolher outro caminho, que nos faz optar por não ir naquele transporte, o medo da agressão”, precisa a professar universitária, em entrevista por ocasião do Dia Internacional pela eliminação da violência contra as mulheres, que se assinala hoje.

A entrevistada no Programa Ecclesia (RTP2) sublinha que no mundo de hoje persistem fenómenos de tráfico de pessoas, escravatura ou casamento forçado de meninas.

“Há uma violência mais visível, que é mais chocante, que associamos muitas vezes com mundos distantes do nosso”, observa.

Inês Espada Vieira alerta, no entanto, para “uma violência mais silenciosa, mais invisível”, mas que condiciona as mulheres, “a violência do pequeno medo”, que tolhe movimentos no dia a dia.

Em muitos países surgiram, por exemplo, lugares próprios de estacionamento para mulheres ou a possibilidade de saírem dos transportes públicos, em determinadas horas, a qualquer momento do percurso.

“Saber que há opções e que o medo não é invisível, isso é um passo para reconhecer o problema”, realça a entrevistada.

A docente da UCP destaca a necessidade de apostar na educação, com a consciência de que esta “não é a solução rápida”, dado que o esforço de “reduzir ao máximo as desigualdades, as injustiças” implica ainda um “caminho longo”.

Essa educação, acrescenta, começa no ambiente familiar e nas comunidades.

“Como cristãos, temos uma responsabilidade acrescida, porque acreditamos que o mundo é para todos, que somos todos filhos de Deus”, sustenta Inês Espada Vieira, para que os temas da violência sobre as mulheres têm de estar presentes no espaço público, na ação cívica, na escola, “ouvindo os interlocutores”.

“Estamos a reconhecer hoje um problema que, se calhar, há 40 anos não considerávamos ou não era tão visível”, prossegue.

A receita da professora universitária passa por “paciência e persistência” para promover mudanças, com atenção aos “pequenos sinais” e atuação no concreto, nas comunidades, em cada dia.

A 25 de novembro assinala-se o Dia Internacional pela eliminação da violência contra as mulheres, estabelecido em 7 de fevereiro de 2000 pela resolução 54/134 da Assembleia Geral das Nações Unidas.

O Papa assinalou a data com uma mensagem publicada através da sua conta no Twitter: “Muitas vezes as mulheres são ofendidas, maltratadas, violadas, obrigagadas à prostituição … Se queremos um mundo melhor, que seja uma casa de paz e não um pátio de guerra, devemos todos fazer muito mais pela dignidade de cada mulher”.

Em Portugal, o Governo lança hoje a campanha #EuSobrevivi, que reforça a vigilância contra a violência doméstica e alerta para os desafios impostos pela pandemia de Covid-19.

Os dados mais recentes do Executivo mostram que, até 19 de novembro, a violência doméstica matou 20 pessoas, 16 das quais mulheres, neste ano.

PR/OC

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